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Edson S. Moraes

Quebrando barreiras etárias

Design de aplicativos para celular deve observar a inclusão de pessoas idosas

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Edson S. Moraes

Mestrando em ciências do envelhecimento, é consultor de estratégia e conselheiro empresarial

No mundo moderno, os smartphones se tornaram uma extensão indispensável de nossas vidas. No entanto, enquanto a tecnologia avança a passos largos, uma parte significativa da população muitas vezes fica para trás: as pessoas idosas, em especial as mais idosas, aquelas com mais de 80 anos.

O etarismo, a discriminação baseada na idade, tem sido uma barreira persistente para que esse público utilize plenamente os benefícios da tecnologia, especialmente os aplicativos para celular. Para combater essa discriminação e promover uma sociedade mais inclusiva, é fundamental que as empresas adotem abordagens mais centradas no usuário, incluindo essas pessoas em todo o processo de desenvolvimento de aplicativos.

Idoso usa celular em casa - Danilo Verpa/Folhapress - Folhapress

A inclusão desse grupo no processo de design de aplicativos não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma decisão inteligente do ponto de vista de negócios. De acordo com o Censo do IBGE de 2022, a população acima dos 60 anos já passa dos 32 milhões de pessoas, um mercado potencialmente lucrativo que cresce a cada ano. Ao garantir que os aplicativos sejam acessíveis e fáceis de usar para pessoas idosas, as empresas podem melhorar sua reputação como companhias socialmente responsáveis, além de fomentar políticas de diversidade nas contratações.

Outro aspecto relevante é a riqueza de experiência e conhecimento, que podem ser diferenciais no processo de design, fornecendo insights valiosos sobre suas necessidades, preferências e desafios ao usar aplicativos. Ao incluir pessoas idosas desde as fases iniciais do desenvolvimento, as empresas podem identificar e corrigir problemas de usabilidade antes que os aplicativos sejam lançados, economizando tempo e dinheiro no longo prazo, além de facilitar a fidelização de clientes que, não raramente, se decepcionam com os serviços oferecidos.

O caso dos aplicativos bancários é um exemplo de descaso com clientes muitas vezes fiéis ao banco há mais de 50 anos. São projetados sem levar em consideração as necessidades e habilidades específicas dos clientes idosos. A letra pequena, a complexidade da navegação e a falta de opções de acessibilidade são apenas algumas das barreiras que os clientes enfrentam ao tentar usar esses aplicativos.

A ausência de representação de pessoas idosas nas equipes de desenvolvimento resulta em uma falta de compreensão de suas experiências e desafios únicos. O curioso é que os grandes bancos terminam por negligenciar o atendimento a clientes de longa data na esperança de atrair clientes jovens que desprezam seus serviços, em parte pela cobrança de tarifas hoje isentas em bancos digitais. Pessoas idosas nas bancadas de testes poderiam facilmente identificar problemas que passariam despercebidos por desenvolvedores mais jovens.

O etarismo nos aplicativos é uma questão séria que afeta a acessibilidade e a inclusão na sociedade digital. Soluções centradas efetivamente no cliente-usuário permitiriam criar produtos mais acessíveis e inclusivos para todos. Contratar pessoas idosas para trabalhar no design e teste de aplicativos não só é moralmente correto, mas também uma decisão inteligente do ponto de vista dos negócios. Ao reconhecer e valorizar a contribuição das pessoas idosas, podemos criar um futuro mais inclusivo e acessível para todos.

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