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Desistência de Biden zera o jogo nos EUA

Com críticas após debate, presidente deixa a corrida eleitoral e abre caminho para Kamala Harris tentar derrotar Trump

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Joe Biden, presidente dos Estados Unidos - Yves Herman/Reuters

A semana passada começou sob o choque da tentativa de assassinato contra Donald Trump, formalizado candidato republicano à Casa Branca na quinta (18). Com a agonia na campanha do presidente Joe Biden, o caminho para a vitória do seu antecessor em novembro parecia escancarado.

No fim do domingo (21), entretanto, o jogo foi reiniciado. Ao desistir de tentar reeleger-se, Biden interrompeu o momento de Trump, que também vinha obtendo conquistas na Justiça, escapando de ter de enfrentar novos constrangimentos legais até o pleito.

O gesto de Biden não é trivial. Apenas seis outros presidentes fizeram isso, o mais recente em 1968. Ainda que seja louvado como herói, o fato é que ele foi forçado a abandonar a corrida por circunstâncias e erros, não por abnegação.

Seus 81 anos não seriam uma questão se sua saúde cognitiva estivesse em ordem. O agora histórico debate contra Trump em 27 de junho mostrou que não estava. Até a o início da campanha, a Casa Branca foi eficaz em esconder a realidade; agora, ficou impossível.

Em um país cindido, Biden teria votação expressiva mesmo sendo impopular. Mas estava em posição frágil nos chamados estados-pêndulo, que ao fim decidem um pleito em que o voto majoritário não é o principal fator, e sim cadeiras no Colégio Eleitoral.

Ele foi jogado às cordas pela queda no financiamento de sua campanha, a partir do desempenho no fatídico debate. Com efeito, após o anúncio, domingo tornou-se o dia em que os cofres democratas mais se encheram desde 2020.

Caciques como Barack Obama, de quem Biden foi vice, e a ex-presidente da Câmara, a ainda influente Nancy Pelosi, operaram o levante para pressionar a saída. Assim, logo após a desistência do presidente, uma fila de apoios à vice, Kamala Harris, se formou.

Em vez de rivais, ela ganhou aliados como os governadores Josh Shapiro, do importante estado-pêndulo da Pensilvânia, Gavin Newsom (Califórnia) e Gretchen Whitner (Michigan). Kamala parece ter tudo para consolidar esse movimento antes da convenção democrata, daqui a um mês, e Shapiro emerge forte para ser seu vice.

Em apenas 2 de 11 pesquisas feitas após o debate e antes do domingo, Kamala aparecia à frente de Trump. Mas a vantagem do republicano é mínima, e o impacto da reviravolta precisa ser medido.

As virtudes da vice são muitas: mulher, negra, de origem asiática, progressista, jovem aos 59 anos. Mas, na polarização atual, parte disso pode ser demérito para metade do país. Restará saber quantos apoiadores se mobilizarão nos dois lados, e o que dirão os indecisos.

editoriais@grupofolha.com.br

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