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Wang Yi

50 anos das relações Brasil-China

Apesar da distância, somos vizinhos próximos que avançam para um futuro compartilhado

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Wang Yi

Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China; membro do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da China

Em 15 de agosto de 1974, estabeleceram-se as relações diplomáticas entre a República Popular da China e a República Federativa do Brasil, os maiores países em desenvolvimento nos hemisférios leste e oeste, abrindo novo capítulo de intercâmbio amistoso. Ao longo de meio século, os dois países desfrutam de relações bilaterais que sempre avançam a passos firmes, apesar das mudanças na situação internacional, e uma amizade que se enraíza nos corações dos povos e mostra cada vez mais vigor com o passar do tempo.

São 50 anos de esforços conjuntos em que China e Brasil forjaram novo paradigma de confiança mútua estratégica entre países em desenvolvimento. Em 1993, o Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a estabelecer uma parceria estratégica com a China. Em 2012, esta foi elevada para a parceria estratégica global. Em abril do ano passado, o presidente Xi Jinping e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava em uma visita de Estado bem-sucedida à China, chegaram a importantes consensos de orientar e abrir novo futuro para as relações na nova era. Nesta quinta-feira (15), os dois chefes de Estado trocarão mensagens de felicitação para o 50º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas, enfatizando a disposição de aproveitar o novo ponto de partida para dotar as relações China-Brasil com novos conteúdos.

Os presidentes Xi Jinping e Lula se cumprimentam durante vista do líder brasileiro a Pequim - Ricardo Stuckert/Presidência da República/AFP

São 50 anos de resultados frutíferos em que China e Brasil produziram êxitos de cooperação que beneficiam os respectivos povos. Para o Brasil, a China é o maior parceiro comercial por 15 anos consecutivos e o primeiro mercado para o qual exporta mais de US$ 100 bilhões em um ano. O Brasil é o maior destino de investimento direto chinês na América Latina e no Caribe. Dá sempre boas notícias à cooperação sino-brasileira em áreas como agricultura, energia e mineração, infraestrutura, aviação civil e aeroespacial, inovação científica e tecnológica e finanças. O CBERS, Programa Sino-Brasileiro de Satélites de Recursos Terrestres, é exemplo da Cooperação Sul-Sul em alta tecnologia. As linhas de transmissão em ultra-alta tensão da usina hidrelétrica Belo Monte, que conta com participação de empresa chinesa, atende a mais de 20 milhões de brasileiros. A cooperação dos dois países em vacinas teve papel crucial no combate à Covid-19.

São 50 anos de solidariedade mútua em que China e Brasil estabeleceram um bom exemplo de cooperação do Sul Global. O mundo entrou em um novo período de turbulência e transformação, e a humanidade enfrenta múltiplos desafios. Nesse contexto, China e Brasil, ambos grandes países em desenvolvimento, representantes das economias emergentes e membros importantes do Brics, têm posições idênticas em uma série de grandes temas relativos à paz e ao desenvolvimento mundiais e colaboram-se estreitamente em foros multilaterais como ONU, Brics e G20. Juntos, enfrentam os desafios globais e defendem equidade e justiça internacionais. Entendimentos Comuns entre o Brasil e a China sobre uma Resolução Política para a Crise na Ucrânia, emitido em maio, recebeu resposta e participação positivas de mais de 100 países e organizações internacionais, refletindo a voz construtiva conjunta pela paz.

O chanceler Azeredo da Silveira (centro) toma café com o ministro da Indústria e Comércio, Severo Gomes (esq.), e o vice-ministro da Economia e Comércio Exterior da China, Chen Jie (dir.), no Itamaraty, em Brasília, em 15 de agosto de 1974 - Embaixada do Brasil em Pequim/Divulgação

São 50 anos de contatos estreitos em que China e Brasil se tornaram bons amigos, apesar da distância geográfica. "Escrava Isaura", telenovela brasileira que viralizou na China nos anos 1980, foi um destaque no intercâmbio cultural sino-brasileiro. E esse intercâmbio, cada vez mais rico e diversificado, faz com que os povos estejam com corações conectados, sentimentos compartilhados e forças unidas. Perante os temporais no Rio Grande do Sul, a Cruz Vermelha da China, a comunidade e as empresas chinesas no Brasil fizeram doações de aproximadamente R$ 10 milhões para ajudar a reconstrução. O intercâmbio e a cooperação nas áreas como educação, cultura, esporte, think tanks e mídia são cada dia mais dinâmicos. Acredita-se que o acordo sobre vistos de dez anos, o recém-inaugurado Consulado-Geral do Brasil em Chengdu e a retomada dos voos diretos facilitarão o intercâmbio e aprofundarão a amizade entre os dois povos.

Apontou o presidente Xi Jinping que, possuindo amplos interesses estratégicos comuns, China e Brasil devem entender a natureza estratégica, reforçar a natureza de benefício mútuo e destacar a natureza global do seu relacionamento, além de estreitar constantemente a colaboração estratégica e dotar a amizade com novos conteúdos da época. Com os 50 anos passados, os dois países devem planejar abrangentemente e com visão estratégica para o futuro, e forjar juntos os próximos 50 anos dourados para as relações China-Brasil.

Ambos grandes países em desenvolvimento, China e Brasil devem focar em novas metas e consolidar constantemente a confiança mútua estratégica. A China sempre coloca o Brasil em um lugar prioritário nas suas relações exteriores e gostaria de trabalhar juntos, sob a orientação dos dois chefes de Estado, para continuar estreitando contatos de todos os níveis entre governos, órgãos legislativos, partidos políticos e entes subnacionais, fortalecendo a sinergia entre a Iniciativa Cinturão e Rota e as estratégias de desenvolvimento do Brasil, como a reindustrialização, a fim de elevar a parceria estratégica global China-Brasil a novos patamares.

Ambos mercados emergentes, China e Brasil devem explorar potenciais e continuar aprofundando cooperação em todas as áreas. Com economias altamente complementares e interesses altamente convergentes, podem consolidar a cooperação tradicional na agricultura, energia e mineração e infraestrutura, enquanto ampliar a cooperação nos domínios emergentes como inovação científica e tecnológica, economia verde, economia digital e inteligência artificial —bem como reforçar intercâmbio e aprendizagem mútuas entre jovens e nos campos de cultura, educação, turismo, entre outros, para beneficiar efetivamente os povos com cooperação de benefícios mútuos e ganhos compartilhados em todas as áreas.

Ambos representantes do Sul Global, China e Brasil devem adaptar-se à nova conjuntura e unir forças para defender a paz e o desenvolvimento do mundo. O Brasil tem projeção na América Latina e Caribe e na comunidade internacional. As relações China-Brasil transcenderam o âmbito bilateral e possuem projeção estratégica e abrangente. A China deseja que a cúpula do G20 no Rio de Janeiro seja um sucesso e contribua para recuperação da economia e desenvolvimento sustentável do mundo. China está disposta a trabalhar com o Brasil para implementar os Cinco Princípios de Coexistência Pacífica, apelar para um mundo multipolar equitativo e ordenado e uma globalização econômica universalmente benéfica e inclusiva e construir melhor o lar comum para a humanidade —o planeta Terra.

Dizia o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre que o Brasil é a China tropical. Hoje, a amizade China-Brasil chega a ter 50 anos, idade em que uma pessoa já sabe o seu mandato do céu, como dizem os chineses.

Neste novo ponto de partida histórico, vamos fazer bom planejamento e atuar aproveitando a tendência para fazer das relações China-Brasil um novo exemplo de solidariedade, colaboração e benefícios mútuos e ganhos compartilhados entre grandes países em desenvolvimento, além de contribuir juntos para a paz e o desenvolvimento mundiais.

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