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Clemente Ganz, Oded Grajew e Tauá Pires

Dia de lutar contra as desigualdades

Alarmantes, disparidades podem sinalizar para um ponto de não retorno

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Clemente Ganz, Oded Grajew e Tauá Pires

Respectivamente, coordenador do fórum das centrais sindicais, presidente emérito do Instituto Ethos e diretora do Instituto Alziras; os autores são membros do Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades

Esta sexta-feira (30) marca a mobilização de centenas de organizações da sociedade civil brasileira em torno de uma causa coletiva que, incontestavelmente. deveria ser a grande prioridade: o combate às desigualdades em suas múltiplas abrangências e impactos. Um ano após o lançamento oficial, o Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades volta à capital federal para uma intensa agenda de articulações com os poderes Executivo e Legislativo e, sobretudo, para apresentar dados sistematizados em um relatório exclusivo. Os indicadores que compõem o Observatório Brasileiro das Desigualdades permitem à sociedade acompanhar os progressos e os retrocessos, oferecem caminhos e acenam para intervenções factíveis.

As disparidades brasileiras começam no vergonhoso fato de que o Brasil é o oitavo país mais desigual do mundo (só perde para sete nações africanas), mas é também a oitava maior economia do planeta. Acumula o título de quarto maior produtor de alimentos, apesar de o fantasma da fome ainda nos perseguir.

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Moradores pegam madeira no lixo para montar casas na Brasilândia, na zonrte de São Paulo - Rubens Cavallari - 22.fev.24/Folhapress

É preciso reconhecer e valorizar os esforços que têm sido empreendidos para a melhoria de indicadores sociais, como atestam os números revelados. Entretanto, as desigualdades seguirão acentuadas se não enfrentarmos as disparidades econômicas. A concentração de renda no Brasil permanece em patamares elevados: o 1% mais rico tem rendimento médio mensal per capita 31,2 vezes maior do que os 50% mais pobres.

Além disso, as desigualdades de gênero e raciais são persistentes e alertam para a necessidade de investimentos extras, que rompam um ciclo constante de exclusão. Não por acaso mulheres e negros, maior parcela da população brasileira, são também os mais vulneráveis e os menos representados. As eleições municipais são uma enorme oportunidade inclusive para que tenhamos um corpo político que seja representativo à população.

Os números revelados pela sociedade civil são alarmantes e podem sinalizar para um ponto de não retorno no que diz respeito às disparidades de renda, classe, gênero e raça no Brasil. O objetivo das mais de 200 organizações que integram o pacto é desnaturalizar esse cenário de desigualdades extremas. Não por acaso os países mais desenvolvidos (economicamente e socialmente) são os que acumulam menores taxas de desigualdades e, portanto, os que convivem com os menores índices de violência. Países desiguais são terrenos férteis para projetos políticos extremistas e autoritários.

Assumir a luta pela redução das desigualdades precede qualquer posicionamento político-ideológico, filiação partidária ou agenda temática. E não se trata de uma agenda exclusivamente brasileira, já que a desigualdade persiste ao redor do planeta. O que, portanto, exige respostas coordenadas internacionalmente, como a taxação dos bilionários discutida durante as reuniões do G20.

No Brasil, os dados mais recentes mostram que é possível superar as desigualdades por meio de políticas públicas eficazes e sustentáveis. É imperativo para que caminhemos rumo a uma sociedade mais justa, sustentável e harmoniosa.

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