Descrição de chapéu
O que a Folha pensa Venezuela

Ditadura escancarada

Decisão da alta corte da Venezuela completa descaramento da farsa de Maduro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Nicolás Maduro, ditador da Venezuela - Maxwell Briceno/Reuters

O roteiro autocrático cumpriu-se na Venezuela. A suposta vitória do ditador Nicolás Maduro no pleito de 28 de julho foi confirmada —sem possibilidade de recurso nem divulgação das atas eleitorais— pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) na quinta-feira (22).

Aos protestos dos cidadãos, o regime reage com brutal repressão estatal e paramilitar, prisões políticas e perseguições às lideranças da oposição. Às constatações das Nações Unidas, do Centro Carter e da Organização dos Estados Americanos (OEA) de que os resultados oficiais das urnas são ilegítimos, faz vista grossa

Tudo indica que Caracas continuará como antes: desacreditada pelo Ocidente e imersa no atoleiro econômico e repressivo que levou cerca de 8 milhões de venezuelanos a deixarem o país. Contudo, agora, com a ditadura escancarada para quem ainda tergiversava sobre seu caráter, muito mais isolada.

A decisão do TSJ, corte tão subserviente ao regime quanto o Conselho Nacional Eleitoral, obstrui a potencial mediação dos vizinhos Brasil e Colômbia para tentar resolver a crise. A hipótese —insensata, diga-se— de nova eleição, cogitada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acabou sepultada.

Ao possuírem vastas fronteiras amazônicas com a Venezuela, os dois países são desafiados a optar entre reconhecer ou não um governo ditatorial que se estenderá até pelo menos 2031. Nos cálculos diplomáticos, porém, não há ilusão de que o reconhecimento preservaria o grau de interlocução que mantinham antes com Caracas.

Insistir na divulgação das atas, por mais que Maduro ridicularize a pressão, será o único caminho moralmente aceitável para as democracias brasileira e colombiana.

Não só porque EUA, União Europeia e 11 países latino-americanos assim se manifestaram, em consonância com a ONU e a oposição venezuelana. Mas, sobretudo, porque Maduro se tornou uma ameaça latente à segurança na América do Sul e a democracias já sob estresse da polarização política na região.

Crer em sentença imparcial da alta corte da ditadura, como Lula chegou a sugerir, implica tolerância com o despotismo ao lado.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.