Harry Potter formou leitores e caracteres, contam fãs

Mais de 20 anos após ganhar o mundo, saga ainda coleciona legião de admiradores

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São Paulo

A iniciação da leitura na escola e com histórias em quadrinhos é um caminho natural na alfabetização das crianças. Muitas se tornam leitoras vorazes de literatura infanto-juvenil. É o que aconteceu com crianças e adolescentes do início dos anos 2000, quando veio ao mundo a saga de Harry Potter.

Cena de "Harry Potter e a Pedra Filosofal", em que o protagonista passa pelo Chapéu Seletor - Divulgação

A coleção composta por sete livros foi dividida em oito filmes no cinema e rendeu até spin-off (um filme ou série derivada de um personagem ou de um trecho da história original) com a trilogia de "Animais Fantásticos". A produção mais recente chegou aos cinemas na última quinta-feira (14).

Vinícius Muniz, de Vargem Grande Paulista (SP), conta que sua irmã o presenteava com os títulos da história. Foi assim que aprendeu a ler. Apaixonado pelo universo do bruxo, mas sem amigos que dividissem esse sentimento, ele criou um site sobre o tema em 2008, chamado a "Ordem da Fênix Brasileira".

Para ele, o "menino que sobreviveu" ensinou diversas gerações sobre amizade e determinação. São vários os ensinamentos que a trama passa, o que ajuda a explicar a legião de fãs ao redor do mundo.

"Não precisamos saber de tudo, só precisamos estar perto das pessoas que querem nos ajudar", sugere Letícia Cuebas, 29, que hoje é química, e também aprendeu a gostar de ler com Harry.

Mesmo tendo conhecido o bruxinho bem cedo, a expressividade da trama se mostrou resistente ao tempo. Caique Cardassi, 30, de São Paulo, é mais conhecido como Caco, criador de conteúdo do Caldeirão Furado.

Seu canal no YouTube sobre Harry Potter é o maior do mundo, com 1,4 milhão de inscritos. Curiosamente, foi só em 2015 que seus vídeos foram ao ar: oito anos após o lançamento de "As Relíquias da Morte'', último livro da série, e quatro anos depois de o oitavo filme.

"Não tenha pena dos mortos. Tenha pena dos vivos, e acima de tudo, daqueles que vivem sem amor". As aspas são de Dumbledore. Caique vasculhou suas memórias para explicar o maior aprendizado que a série trouxe a ele: a abordagem de temas como o amor e a morte construíram seu caráter.

Alguns anos mais nova, a leitora da Folha, Nicole Diniz, 21, de Brasília (DF), conta que sua relação com o universo é de acolhimento. "Sempre releio os livros quando tenho algum problema familiar. É uma história que me lembra que a família é quem nos acolhe", diz. Lendo Harry Potter, a estudante de jornalismo passou a acreditar que sempre haverá uma luz no fim do túnel.

Sempre releio os livros quando tenho algum problema familiar. É uma história que me lembra que a família é quem nos acolhe

Nicolle Diniz

leitora, 21 anos

Também teve quem conhecesse os filmes e se apaixonasse à primeira vista pela possibilidade de imaginar. "Amei Harry Potter desde o dia em que ganhei a fita VHS da Pedra Filosofal e junto veio uma moeda do Banco de Gringotes", conta Saphire de Souza, 29, de São Paulo (SP).

Como ela, Jennyfer Frazao, de Manaus (AM), também se apaixonou pelo mundo da fantasia e conta que ficou até esperando a sua cartinha de Hogwarts chegar.

O produtor de conteúdo Marcelo Rogério, 27, mora em São Paulo (SP) e conta que Harry Potter foi a primeira saga que o acompanhou. "Conheci os filmes e me apaixonei pelo universo bruxo aos 7 anos. Acabei crescendo com Harry Potter e fiz muitos amigos", diz. Dono do canal Pop Creature, ele conta que Harry Potter também passa pela sua vida profissional.

Entre suas inspirações ao crescer, estava Hermione. "Ela me marcou de verdade porque mesmo sendo insultada, dava a volta por cima. Ser como ela era uma meta para mim", explica.

Ela me marcou de verdade porque mesmo sendo insultada, dava a volta por cima. Ser como ela era uma meta para mim

Marcelo Rogério

produtor de conteúdo, 27 anos

Spin-off

"Animais Fantásticos: os segredos de Dumbledore''chegou às telas brasileiras na última semana e vem gerando comentários nas redes sociais. Marcelo diz que a forma como a trama do spin-off se desenvolve, a partir do que já se sabe em Harry Potter, faz com que a continuidade do universo seja fluida.

"Para quem é fã, o que sobrevive é a nostalgia de Harry Potter. Quem amava antigamente continua amando e dando poder à saga", diz.

Maria Fernanda Candido em cena do filme 'Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore', de David Yates
Maria Fernanda Cândido em cena do filme "Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore", de David Yates - Divulgação

​O Brasil feliz de novo

Perfis dedicados a compartilhar informações sobre o universo vivem, ainda, com uma vibe de fórum do Orkut ou grupo do Facebook. No Twitter, mensagens enaltecem a participação da brasileira Maria Fernanda Cândido no elenco. Memes também aparecem.

J. K. Rowling

José Lucas do Nascimento Barbosa, 26, de Escada (PE), conta que tem uma relação íntima com os livros e os filmes de Harry Potter. Hoje, ele é mestrando em Linguística pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

"Busquei investigar como o discurso de personagens na narrativa criada pela autora J. K. Rowling nos possibilita pensar a sociedade em que vivemos e refletir sobre as consequências de determinadas posições ideológicas na vida humana", conta à Folha.

Apesar de ter uma relação próxima com a saga, alguns fãs, assim como ele, não concordam com diversos posicionamentos de J.K. Rowling, tidos como transfóbicos. "Minha reflexão está baseada na minha experiência coma saga, mas sou completamente contra os posicionamentos da autora", finaliza.

Alguns fãs acabaram se distanciando do universo após as declarações e muitos a criticam.

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