Saiba quais autores negros são os favoritos dos leitores da Folha

A mineira Carolina Maria de Jesus foi a campeã em citações

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Uma mulher segura com as mãos um pilha de livros e sorri

Lorena Ribeiro, de Salvador, posa com pilha de livros de autores negros Arquivo pessoal

Lauro de Freitas (BA)

Para celebrar este Dia da Consciência Negra, a Folha pediu aos seus leitores que indicassem obras e autores negros e contassem os motivos pelos quais valem uma boa leitura.

Em sua raiz, o feriado de 20 novembro busca chamar atenção para os direitos da população negra, mas, desde que foi instituído pelo governo Dilma em 2011, como feriado escolar voltado à celebração da cultura e história afro-brasileira, a data também tem servido como janela de visibilização e reflexão sobre produções dessa parcela da sociedade.

Foram enviadas mais de 100 respostas, por leitores de diversos cantos do país. As listas misturam nomes clássicos e contemporâneos, desde os estelares aos pouco conhecidos. As obras mais citadas são romances, em sua maioria, mas há também coletâneas de poemas, crônicas e livros que versam sobre questões raciais, de classe e de gênero.

A campeã em aparições foi a escritora mineira Carolina Maria de Jesus, considerada um dos maiores nomes da literatura brasileira no século XX. Apesar de grande parte de sua obra ainda ser desconhecida do grande público, a autora tem sido embalada nos últimos anos por uma nova geração de leitores, muito interessada em "Quarto de Despejo", livro de estreia em que narra seu cotidiano na favela do Canindé, em São Paulo, nos anos 1960.

A estudante Camilla Yumi, 17, diz ter percebido o quanto seu "mundinho é extremamente privilegiado" ao ler o livro. Para ela, impressiona como Carolina, que trabalhou como catadora de papel, foi capaz de sobreviver em meio à miséria. A escritora também desmonta preconceitos muito disseminados, segundo ela, ao mostrar que "ser preta, pobre e ter apenas a educação básica nunca a impediu de amar a leitura e a escrita".

Novas edições dos diários de Carolina, como o recente "Casa de Alvenaria", lançado em agosto, estão sendo feitas pela Companhia das Letras, sob a supervisão da escritora e poeta Conceição Evaristo, 74 — outro nome bastante lembrado pelos leitores.

Conceição, aliás, também é mineira e desde sempre tem Carolina como referência. "A Carolina teve coragem de se posicionar num mundo branco, onde era considerada coitadinha. A escrita dela está para além da fome", diz ela.

Doutora em literatura comparada, Conceição Evaristo é uma das expoentes da literatura negra contemporânea no Brasil. "Olhos d'água", de 2014, é um dos seus livros mais conhecidos, e reúne contos sobre temas como pobreza e violência urbana. Para o advogado Jacson Andrade, 32, Conceição consegue fazer poesia "apesar das dores de ser preto no Brasil".

Em 2018, ela tentou, sem sucesso, se tornar a primeira mulher negra imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), através de uma campanha popular sem precedentes. O episódio acendeu o debate sobre racismo e falta de diversidade na academia machadiana. Em 2019, ela recebeu o prêmio Jabuti de personalidade literária do ano. Toda a sua obra gira em torno da ideia de "escrevivência". "Tudo que eu escrevo é profundamente marcado pela minha condição de mulher negra", explica ela.

Do outro lado do Atlântico, há mais um fenômeno literário entre os mais citados pelos leitores — a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, 44.

"Considero [a Chimamanda ] uma das escritoras mais brilhantes da atualidade", afirma a pesquisadora Emérita Sátiro, 43. "Tem um gênero de escrita que captura o leitor, permite uma imersão na cultura igbo e amplifica conhecimento sobre a Nigéria".

Em 2015, ela viralizou com uma palestra na série de conferências Ted Talks, na qual alerta para os perigos de uma "história única". Seus livros, sucessos de crítica e público, estampam valores do feminismo negro e narram a diáspora negra, buscando afastar o continente africano dos estereótipos clássicos.

Completando o ranking dos 7 mais lembrados, estão o escritor baiano Itamar Vieira Junior, ganhador do Jabuti com o badalado "Torto Arado" e colunista da Folha, a filósofa e também colunista do jornal Djamila Ribeiro, o canônico Machado de Assis, e o poeta Cruz e Sousa, um dos expoentes do simbolismo no Brasil.

Mas há muitos outros nomes e obras pouco conhecidas do grande público trazidas pelos queridos leitores. Confira algumas na galeria abaixo.

Erramos: o texto foi alterado

O nome da leitora Waleska Barbosa foi digitado erroneamente e seu sobrenome, trocado, na galeria "Leitores posam com livros de autores negros". A informação foi corrigida. 
 

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