Leitores relembram participação nas Diretas Já: 'Tinha a certeza de que queria a democracia'

Folha perguntou quais são as lembranças da campanha pelas eleições diretas

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São Paulo

Nesta semana, a Folha perguntou aos seus leitores quais eram suas lembranças da campanha Diretas Já, que completa 40 anos neste mês de abril. Nas respostas, contam como participaram desse momento histórico e o que sentiram na época.

Candelária

"Participei do comício pelas Diretas Já na Candelária. Tinha 18 anos e estudava na Universidade Federal Fluminense em Niteroi. Uma multidão, atravessamos 'de barca' até a praça XV. Encantada, reconhecia o momento histórico daquele 10/04 na Candelária, cujo sentimento coletivo era de esperança por dias melhores."
Cristina Miranda (Taubaté, SP)

"Cheguei cedo na Candelária. Não fiquei muito distante do palanque. Recordo do laser com palavras projetadas nos prédios. De Fafá de Belém cantando música em homenagem ao Senador Teotônio Vilela. De uma grávida em pânico com o pouco espaço. De Christiane Torloni (linda), perguntando 'O povo quer o que?' ao que muitos cariocas respondiam: 'O povo quer você'. Lembro de como Tancredo Neves demorou a falar, e só o fez quando, a pedido, bandeiras do PCdoB foram baixadas. Lembro da voz vibrante do locutor Osmar Santos."
Sérgio Sobral Martins (Bom Jardim, RJ)

"Participei em Recife e fui às passeatas da Praça da Sé, em São Paulo, e também em Porto Alegre. Eu lembro que nós, da esquerda, eramos todos unidos por uma causa e a campanha das Diretas Já trouxe uma imensa força. Todos os atos organizados eu procurava participar porque era algo mais concreto e palpável do que a luta mais ampla pelas 'liberdades democráticas'."
Maria Suzeli Alves de Almeida (Recife, PE)

"Eu era repórter da Folha e participei da cobertura. Minha primeira filha, Mariana, nasceu no dia 25 de janeiro de 1984, durante o comício da Sé. Na hora do parto, às 17h50, estava discursando o ex-senador Mário Covas."
Marco Antonio Zanfra (Florianópolis, SC)

Tancredo Neves

"Participei naquilo que foi possível para um garoto de 13 anos à época, numa cidade do interior de SP, mas tinha a certeza de que queria a democracia. A minha memória são os diversos relatos, da TV principalmente, do estado de saúde de Tancredo Neves."

Marcos Barbosa (Casa Branca, SP)

"Tinha 15 anos e era do Grêmio Estudantil da Escola e apoiávamos a eleição direta para Presidente da República. A triste memória foi quando a Emenda Dante Oliveira foi derrotada no Congresso. Mas, mesmo assim, apoiamos o Tancredo Neves, que veio a falecer – uma segunda memória triste."
Pedro Valentim (Bauru, SP)

"Um dos momentos mais importantes da luta pela democracia"
Roberto Mauro Borges (Pompeia, SP)

Dante de Oliveira

"Participei da campanha pela emenda constitucional Dante de Oliveira (Diretas Já) quando era estudante da Unicamp e trabalhava como estagiário em São Paulo. No período havia muitos debates e a esperança era grande. As convocações dos amigos para ir até os comícios era de um espírito de liberdade. As músicas eram entoadas com grande orgulho e saiam do fundo do coração. Na noite da votação (25 de abril de 1984), eu cheguei cedo na praça da Sé, onde seria transmitida ao vivo a votação em Brasília, e me acomodei com mais amigos no chão da praça. À medida que as horas passavam, mais e mais pessoas chegavam e fomos perceber que estávamos cercados pela Polícia Militar. Mesmo assim, bandeiras eram tremuladas e palavras de ordem eram proferidas. Com o início da votação, a esperança foi diminuindo e os votos necessários para aprovação ficavam mais distantes. Quando saiu o resultado, o desânimo era geral. Havia choros e rostos de tristeza estampados. Saímos em silêncio, quase que arrastando os pés, e passamos pelo cinturão formado pela PM sem sermos incomodados. Parecia até que a PM também compactuava com a nossa tristeza. Foi a possibilidade da voz do povo ser ouvida após os anos de chumbo. Acreditamos lá trás que o Brasil emergia para uma era democrática"
Regis Totti Seben (Jaguariúna/SP)

"Estive presente, com amigos, no primeiro comício realizado na capital paulista, que reuniu algumas das principais lideranças políticas como o governador Franco Montoro (MDB). Foi o estopim para que o movimento das Diretas ganhasse força e apoio do povo brasileiro e da imprensa, incluindo a Folha de S. Paulo. Tenho em minha memória a euforia que tomou conta do povo brasileiro ao participar do movimento das Diretas Já, principalmente entre os jovens. Só com forte mobilização poderíamos retomar o sagrado e democrático direito de votar para presidente da República. A frustração, porém, veio com a derrota da emenda Dante de Oliveira no Congresso Nacional."
Geraldo Tadeu Santos Almeida (Itapeva, SP)

"Do comício só me recordo que tinha uma multidão, as pessoas faziam discursos, acho que o locutor Osmar Santos estava lá. Também grandes cantores se apresentam, não lembro também quais. Não achei aquilo muito interessante. Eu estava drogado, certamente. De repente uma mulher começou chamar um senhor com chapéu e de cara fechada de fascista. Acho que ele havia tomado os folhetos que ela estava distribuindo. Mas a turma do 'deixa disso' acalmou a situação. Lembro que voltei pra casa não muito depois disso, ou fui me drogar em outro local. 20 anos depois eu, após deixar o uso de drogas e me graduar em história, fui aprovado em concurso para lecionar na Escola Samuel João de Deus. Foi na faculdade que compreendi o momento histórico das Diretas Já."
Marcílio José Vieira Neto (Guidoval, MG)

"Momento tenso. Muitas passeatas em Brasília. Polícia agindo com truculência. Newton Cruz batendo e mandando bater. Movimento estudantil mobilizado. Prisão do presidente da UNE. Ocupação do Congresso Nacional pelos DCEs da UnB e Ceub e centros acadêmicos."
Rócia Silva Oliveira (Brasília, DF)

"Sim... Sempre entendi que a decisão de escolha é do povo e não de uma casta da sociedade...Muita agressão às liberdades e, principalmente, segregação de castas como se algumas fardas transformassem pessoas comuns em legítimos representantes de toda sociedade."
Aloisio Antonio Siqueira (Juíz de Fora, MG)

"Desde 1983, como jornalista, eu e outros colegas jornalistas, criamos em Bauru (SP) um panfleto chamado Diretão (tenho ainda um exemplar), impresso em preto sobre folha amarela, que acompanhava os rumos da campanha. Em 25 de janeiro de 1984 fui com outras pessoas participar do inesquecível comício pelas Diretas Já na praça da Sé, do qual tenho fotos. Também, em 8 de abril do mesmo ano, realizamos em Bauru um comício da campanha com o ilustre Luís Carlos Prestes. A emenda Dante de Oliveira não passou, mas a histórica campanha foi um marco na história do Brasil."
Pedro Romualdo (Bauru, SP)

"Eu não participei da campanha porque estava prestando o serviço militar em 84, e nos era proibido a manifestação política. Mas servindo em Itu, eu participei diversas vezes de treinamentos de controle de massas, porque havia uma chance de sermos mandados para a capital para ajudar a controlar os manifestantes em caso de 'desordem'. Recentemente, ouvi de minha mãe que ela e meu pai estavam em uma das grandes manifestações da campanha, e me assustei com a possibilidade de, no caso de ter sido mandado na época para São Paulo, acabar participando de uma ação violenta contra meus próprios pais."
André Augusto Jacinto Tabanez (São Paulo, SP)

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