Descrição de chapéu Folha, 97

Jornalistas indicam lacunas do novo 'Manual da Redação' da Folha

Participantes do 2º Encontro Folha de Jornalismo criticam ainda modelo de pluralismo do jornal

Da esq. para a dir., Alon Feuerwerker, Fernando de Barros e Silva, Eugênio Bucci, Eurípedes Alcântara e Uirá Machado debatem novo 'Manual da Redação'
Da esq. para a dir., Alon Feuerwerker, Fernando de Barros e Silva, Eugênio Bucci, Eurípedes Alcântara e Uirá Machado debatem novo 'Manual da Redação' - Adriano Vizoni/Folhapress
São Paulo

Um dos 12 princípios editoriais do novo "Manual da Redação" da Folha recomenda o cultivo da pluralidade.

Para dois dos participantes do debate do 2º Encontro Folha desta quarta (21), o jornal tem feito uso inadequado desse preceito ao convidar ativistas políticos como Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), e Kim Kataguiri, do MBL (Movimento Brasil Livre), para integrar a equipe de colunistas.

Para Eurípedes Alcântara, diretor-presidente da agência Inner Voice, é necessário considerar critérios como "qualidade do texto ou vivacidade do autor. O colunista precisa ter algo em comum com o projeto [editorial]".

Fernando de Barros e Silva, diretor de Redação da revista "piauí", também apresentou ressalvas à forma de escolha de colunistas.

"Me pergunto se o colunismo não ficou pluripartidário em vez de apartidário. Acho que aí há uma diferença que talvez comprometa ou limite o aspecto crítico. Vejo esse tema com preocupação", afirmou Barros e Silva.

Boulos e Kataguiri não são mais colunistas do jornal.

 
 

'Limites'

O professor de jornalismo da ECA-USP Eugênio Bucci apontou temas que deveriam ter sido abordados pelo "Manual da Redação" da Folha. Na sua avaliação, esses são os "limites" da nova versão.

Ele propôs que os organogramas das equipes comerciais dos veículos jornalísticos sejam apresentados com maior transparência.

O professor da USP sugeriu que empresas privadas, como a Folha, passem a disciplinar o emprego do jornalismo colaborativo, uma forma cada vez mais comum de produção de reportagens no Brasil e no exterior.

Eugênio Bucci ainda demonstrou preocupação "com as novas fronteiras entre Igreja e Estado". O jornalista defendeu mais clareza em relação ao trabalho das equipes de publicidade nativa.

"Existe um núcleo na Redação que elabora conteúdos que são publicados como publicidade. Mas essas equipes lidam com dados dos clientes. Como é a convivência? Como se dá a interação? Ou não pode haver interação?"

A Folha possui um núcleo de negócios independente da Redação chamado Estúdio Folha, que se reporta à superintendência da empresa.

O professor da ECA-USP questionou ainda: "O que o Manual estabelece para o comportamento do jornalista na internet vale também para o dono do jornal? O que está posto aqui compromete os acionistas também? E em que medida?"

"Os princípios jornalísticos devem ser os princípios da empresa e da sua aparição pública. Um jornalista representa a sua Redação, o dono também", afirmou.

Interesse público

Para Alon Feuerwerker, analista político da FSB Comunicação, a definição de interesse público aparece "excessivamente simplificada" nesta nova versão do "Manual da Redação".

"O interesse público é uma coisa mais complexa do que está ali no verbete. O jornalista que está excessivamente preocupado com o interesse público acaba tomando partido", disse.

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