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Marketing político no Brasil é 'muito careta', diz estrategista de ex-prefeito de NY

Arick Wierson vê com cautela qualquer restrição oficial de propaganda eleitoral

Anna Virginia Balloussier
São Paulo

O marketing político brasileiro "é muito careta", ao menos do ponto de vista de um marqueteiro americano. É a impressão de Arick Wierson, estrategista político que trabalhou com o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg.

O ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg
O ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg - Yuri Gripas - 19.abr.18/Reuters

"Não é à toa que o eleitor brasileiro costuma desligar a TV [na propaganda eleitoral gratuita", disse Wierson nesta sexta-feira (11).

Wierson é o convidado internacional no 1º Encontro de Lideranças Nacionais, evento organizado por um escritório de advocacia num hotel em São Paulo.

Com dois vídeos, deu exemplos práticos do que considera uma publicidade eleitoral efetiva. 

No primeiro deles, a mulher de um candidato num condado no Texas lança mão de uma estratégia um tanto heterodoxa: votem em Gerald Daugherty, porque ele é chato. Há várias cenas em que ele não para de falar sobre os problemas locais, mostrando que só tem isso na cabeça —a política pública. Enquanto faz churrasco, saboreia a carne, lava a louça... 

"Votem no Gerald, por favor", ela diz em tom de súplica. 

Produzido por Wierson, o segundo vídeo é uma versão deste estrelado por Gerald, só que com um diferencial: quem pede que o espectador vote no marido é outro homem, o companheiro de um monotemático candidato a prefeito de Minneapolis.

 

E a propaganda negativa —os sopapos que candidatos costumam trocar por meio de publicidades que degradem o rival? Deve haver um limite para elas?

Wierson vê com cautela qualquer restrição oficial. "Fico com medo quando governo começa a intervir demais. Sou bem fanático nesse sentido, o Estado não deve intervir em mercados livres."

Outro ponto de inflexão, neste e nos próximos anos, serão as fake news, disse em português perfeito —ele tem uma filha brasileira e um mestrado na Unicamp.

Ele exibiu outro vídeo para ilustrar seu ponto: um em que o diretor americano Jordan Peele usa um programa de edição para manipular a imagem da mandíbula de Barack Obama. O ex-presidente dos EUA aparece, então, falando frases como “se liguem, vadias!” ou “simplesmente, o presidente Trump é um imbecil”. Coisas que, obviamente, nunca disse.

Ex-ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e advogado de Aécio Neves na campanha presidencial de 2014, Marcelo Ribeiro também abordou a questão das fake news

Afirmações falsas não são nenhuma novidade, declarou. Como ao dizer para "a moça que não está na melhor forma que ela está ótima", exemplificou. "Todo mundo mente, o tempo todo. Acabar com a mentira é acabar com o ser humano."

Ribeiro foi questionado sobre até que ponto coibir a circulação de notícias ditas falsas não acaba em censura —muitos políticos, por exemplo, diante de uma reportagem negativa, podem alegar que ela é fake. Para o ex-ministro, há uma falsa dicotomia entre liberdade de expressão e combater as fake news.

Ele discordou que a internet seja um território livre. "Não pode ter site www.pedofilia.com, site incentivando guerra, racismo".

Também parte da roda de debate, o ministro do TSE Admar Gonzaga foi pela mesma toada. "Se o camarada for pra TV dizer que Brasil ganhou da Alemanha de 7 a 1 [na Copa de 2014], as pessoas têm o direito de saber que ele tem algum problema mental, é um mitômano."

Problema maior para o jogo eleitoral, segundo o ministro, é a impressão de votos nas urnas eletrônica —aprovada em 2015 na minirreforma eleitoral. O Supremo Tribunal Federal ainda discute se a medida pode ser considerada inconstitucional.

Gonzaga lembrou que o voto impresso custará cerca de R$ 2 bilhões. A demanda, disse, "é impulsionada por aqueles que perdem eleição e não têm voto suficiente, aí dizem que foram roubados de alguma forma. Vamos gastar R$ 2 bilhões para bater palma para perdedor".

O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) é um dos maiores entusiastas da iniciativa.

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