Discretamente, Marina Silva busca manter pontes com igrejas evangélicas

Ela faz defesa do Estado laico e diz que suas convicções não vão interferir no governo se eleita

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Marina, ao lado do coordenado Julio Pereira, deixa a Assembleia de Deus na campanha de 2010
Marina, ao lado do coordenador Julio Pereira, deixa a Assembleia de Deus na campanha de 2010 - Eduardo Knapp - 3.out.10/Folhapress
São Paulo

Marina Silva (Rede) costuma agradecer a Deus no início de suas falas em público. Ela –que quase foi freira, mas se converteu ao protestantismo em 1996– é a única evangélica entre os principais pré-candidatos a presidente.

A três meses da eleição presidencial, a ex-senadora, missionária da Assembleia de Deus, busca manter pontes com diferentes denominações, em meio a críticas de pessoas que compartilham de sua fé.

Discretamente, obedecendo a um mantra pessoal de "não fazer do palanque um púlpito nem do púlpito um palanque", ela participa de cultos e fala com lideranças religiosas.

Marina tem 18% de intenção de voto entre seus pares, de acordo com o Datafolha.

No total, incluindo entrevistados de outras crenças e sem religião, a ex-parlamentar alcança 15% das preferências em cenário sem o ex-presidente Lula (PT). É a segunda colocada na corrida ao Planalto.

O deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) lidera a disputa, com 19%, mas chega a 22% entre evangélicos. Católico, ele abraçou bandeiras do público religioso conservador. Sua mulher é fiel da Igreja Batista.
Evangélicos representam hoje a segunda maior camada religiosa do país, segundo o Datafolha: 32% da população. Católicos são maioria (52%).

Em junho, Marina aproveitou passagens por São Paulo para ir a pelo menos duas igrejas. Os compromissos não estavam na agenda dela divulgada à imprensa. Sua assessoria afirma que não eram atividades da esfera política.

A presença da pré-candidata na Igreja Presbiteriana de Pinheiros (zona oeste), onde deu testemunho no palco após um culto para mulheres, teve repercussão ruidosa.

O templo passou a ser cobrado em redes sociais por dar espaço à ex-senadora. No Facebook, veio uma enxurrada de críticas, com adjetivos como comunista e "abortista" sendo relacionados a ela.

"Depois da palestra da Marina, quando será com a Judith Butler?", perguntou um rapaz, citando a filósofa americana que estuda teoria de gênero e foi agredida por manifestantes autointitulados pró-família em visita ao Brasil em 2017.

A presidenciável, via assessoria, diz lamentar o uso de "rótulos e adjetivos ofensivos".

"Infelizmente, muitos se expressam sem cuidar de checar informações para ver se são verdadeiras e acabam reproduzindo preconceitos", afirma.

Na ida ao local, a líder da Rede estava com integrantes da coordenação de sua campanha e lideranças do partido.

"Quero agradecer aos irmãos que estão orando e pedir para aqueles que ainda não começaram poder começar a partir de hoje. Temos uma grande jornada", discursou ela, aludindo à eleição.

Com tom de voz mais suave que o habitual, Marina falou de sua trajetória de superação, estendendo a pronúncia de algumas sílabas.

Segurou o choro ao relembrar o dia em que, aos 16 anos, deixou a casa do pai. "Tudo que aconteceu em minha vida eu creio que foi a mão bondosa do nosso Deus", afirmou.

Arival Casimiro, pastor que a chamou, não quis falar à Folha sobre as reações negativas.

Três dias antes, Marina havia participado de culto dominical na Igreja Batista de Água Branca, na Barra Funda (zona oeste). O líder ali é o pastor Ed René Kivitz, amigo dela e cabo eleitoral em 2010 e 2014. Ele também não quis conversar com a reportagem.

Na Batista, a ex-senadora não foi ao microfone. Assistiu à celebração no auditório e, no fim, atendeu a alguns pedidos de fotos com outros fiéis.

A equipe da pré-candidata diz que participações do tipo são frequentes, que o diálogo dela com evangélicos é permanente e que tende a se intensificar no período eleitoral.

Em Brasília, onde mora, Marina frequenta semanalmente a Assembleia de Deus do Plano Piloto. Quando está em viagem, vai a outras igrejas fazer suas orações. Ela diz "congregar de forma itinerante".

Duas pessoas que trabalharam nas campanhas anteriores da ex-senadora disseram à Folha que ela era aconselhada a evitar aparições em igrejas no período eleitoral.

O argumento, de acordo com os relatos, era o de que isso poderia ser usado por adversários para tachá-la de fundamentalista ou acusá-la de querer impor sua religião.

"Não há uma intenção de promover nem de preservar a imagem da candidata", diz sua assessoria. A regra, afirma, é não explorar politicamente atividades religiosas.

Publicamente, Marina faz defesa enfática do Estado laico e diz que suas convicções pessoais não vão interferir no governo caso se eleja. Ela já reclamou que, mais do que por ser mulher ou negra, sofre preconceito por expor sua fé.

Em temas cruciais para a comunidade evangélica --como aborto, drogas e casamento gay–, a pré-candidata adota posturas que desagradam a parte do eleitorado religioso.

Nos dois primeiros temas, defende plebiscitos para que a população decida sobre a liberação. Pessoalmente, é contra.

Sobre união de pessoas do mesmo sexo, diz que defende direitos igualitários e que a Justiça assegura o casamento.

Nesta sexta-feira (13), a pré-candidata participará de debate sobre reforma política a convite da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo.

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