Descrição de chapéu Eleições 2018

Ana Amélia aceita ser vice de Alckmin, mas condiciona apoio a acertos no RS

Senadora do PP integrará chapa mesmo com desconfiança de seu partido e de outros do centrão

Daniel Carvalho Talita Fernandes
Brasília

Uma semana após ter sido rejeitado pelo empresário Josué Alencar (PR), Geraldo Alckmin (PSDB) confirmou na noite desta quinta (2) a senadora Ana Amélia (PP-RS) como sua candidata a vice-presidente.

"É um gesto importante já que ela era candidata [ao Senado] e abriu mão de tentar a reeleição”, disse o tucano em entrevista GloboNews. Alckmin chamou Ana Amélia de “vice dos sonhos” e exaltou o fato da parlamentar ser mulher. “Era a melhor candidata a vice. Não tinha escolha melhor."

Antes da confirmação, a senadora condicionara a aliança a acertos no Rio Grande do Sul. PP e PSDB têm candidatos ao governo do estado. O deputado Luiz Carlos Heinze (PP), com apoio de DEM, PSC, Pros e PSL, enfrenta o ex-prefeito de Pelotas Eduardo Leite (PSDB), com apoio de PTB, PRB, PHS, Rede e PPS. Heinze poderia deixar a disputa para ser candidato ao Senado em uma composição entre as legendas.

Após Alckmin anunciar publicamente seu nome, Ana Amélia disse à Folha que a situação no estado já havia sido resolvida. No entanto, assim como Leite, Heinze disse que ainda vai consultar seus aliados. À Folha, afirmou que continua pré-candidato a governador, mas que pode disputar vaga no Senado ou mesmo abrir mão de qualquer cargo.

Se sacramentada, a aliança no RS é uma má notícia para o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), que, com a saída de Heinze, ficaria sem palanque no estado. O tucano aposta em tirar votos do capitão reformado devido ao perfil conservador e pró-agronegócio de Ana Amélia. Na região Sul, Bolsonaro chega a 22% no último Datafolha, de junho —o ex-governador só vai a 5%.

Ana Amélia havia sido procurada por Alckmin na quarta (1º) e, nesta quinta, recebeu telefonemas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e de seu colega tucano Tasso Jereissati (CE).

Além da questão do estado, Ana Amélia analisou também sua saúde. Ela foi internada nesta semana com crise de hipertensão. Ao menos até segunda passada, ela descartava ser vice na chapa, mas reconsiderou sua posição após o convite. O pré-candidato e líderes do centrão também repetiam negativas.

Depois de ser rejeitado por Josué Alencar, Alckmin e seus aliados não queriam sofrer o desgaste de nova recusa. O ex-governador e esforçava para chegar à convenção de seu partido, no sábado (4), já com o posto de vice definido.

O nome de Ana Amélia não é consenso em seu partido e também entre siglas do centrão. Embora o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), diga não haver veto à gaúcha, correligionários reconhecem a total falta de entrosamento entre a senadora e a cúpula do partido.

Aliados de Nogueira dizem haver preocupação com uma eventual perda de poder da ala nordestina da sigla.

Outra preocupação é que, ao levar um quadro do partido para a Vice-Presidência, Alckmin queira diminuir o espaço que o PP tem hoje na Esplanada dos Ministérios, caso seja eleito. A sigla domina atualmente as pastas de Saúde, Agricultura e Cidades, além da Caixa Econômica Federal. Integrantes da bancada do partido dizem que Ana Amélia tem que ser tratada como cota pessoal do tucano.

Mal a decisão de Ana Amélia havia sido divulgada, integrantes de outros partidos do centrão começaram a reclamar do excesso de espaço que o PP poderia ter em um eventual governo.

Pela manhã, Ana Amélia disse que só aceitaria a vaga na chapa do PSDB se pudesse manter sua autonomia em um eventual governo. “Em qualquer lugar que eu estiver, se eu não for independente, se eu não pensar e agir com as minhas convicções, não serve para mim”, afirmou a senadora.

Ex-palanque de Aécio, gaúcha tem histórico de embates com o PT

Formada em comunicação social pela PUC-RS, Ana Amélia, 73, trocou em 2010 a carreira de 40 anos de jornalismo para concorrer a uma vaga ao Senado pelo PP. A senadora é natural de Lagoa Vermelha (RS), e fez a maior parte de sua carreira como jornalista na RBS, empresa afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul.

Ela termina em 2018 seu primeiro mandato e estava empenhada em tentar a reeleição até receber o convite de Alckmin. Ao longo de seus oito anos no Senado, Ana Amélia apresentou 91 projetos de lei e 14 propostas de emenda à Constituição. Seis propostas apresentadas ou relatadas por ela se tornaram lei.

Em 2014, a senadora arriscou-se ao cargo de governadora de seu estado. Na ocasião, contrariou a orientação nacional de seu partido, que apoiou a candidatura de Dilma Rousseff, e cedeu seu palanque para o tucano Aécio Neves (MG), então candidato à Presidência da República. 

Embora tenha começado a corrida eleitoral como favorita, ficou fora do segundo turno, disputado pelo petista Tarso Genro e pelo atual governador, José Ivo Sartori (MDB).

Como senadora, Ana Amélia fez duros discursos contra o PT, contra a corrupção e contra os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva. Em março deste ano, foi acusada por petistas de ter incitado violência contra a caravana de Lula.

"Vocês precisam saber da maldade que são capazes de fazer com seus adversários. Por isso que hoje quero cumprimentar Bagé, Santa Maria, Passo Fundo, Santana do Livramento, que botou a correr aquele povo que foi lá levando um condenado”, disse dias depois de o ex-presidente ter cancelado a visita em algumas cidades gaúchas para evitar novos ataques.

Em discurso no Senado, Ana Amélia negou que tenha incitado ódio e disse que não poderia ser usada como “bode expiatório”. Na ocasião, ela bateu boca com o senador petista Lindbergh Farias (PT-RJ) sobre o tema. 

Outra polêmica se deu em abril, quando ela usou a tribuna do Senado para criticar a entrevista da presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR) à rede de televisão Al Jazeera, do Catar. Ana Amélia disse que a petista desrespeitava as instituições brasileiras e se esquecia de que o Brasil vive num estado democrático de direito.

Ela foi criticada por comparar árabes com terroristas ao dizer que esperava que a entrevista não fosse um pedido para que o exército do Estado Islâmico atuasse no Brasil.

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