Chico Buarque e Martinho da Vila visitam Lula na prisão

Músicos não falaram com manifestantes nem com imprensa

Martinho da Vila e Chico Buarque em visita a Lula na prisão - Ricardo Stuckert
Curitiba e Rio de Janeiro

Os cantores Chico Buarque e Martinho da Vila visitaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na tarde desta quinta-feira (2), na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR), e não falaram com os jornalistas que os aguardavam do lado de fora do prédio. 

Ainda assim, em vídeo gravado pela assessoria do petista, os artistas defenderam que a imprensa deve insistir em entrevistar o ex-presidente. "Acho que o correto seria a imprensa poder falar diretamente com ele, em vez de ficar de porta voz, moço de recados", disse Chico Buarque. O cantor argumentou que a entrevista com Lula é de interesse dos "donos dos grandes jornais" e do público. "Tem que insistir com isso", completou Martinho da Vila.

No mês passado, a juíza Carolina Lebbos, responsável pela execução da pena de Lula, negou pedidos de veículos de comunicação, entre eles a Folha e o UOL, para entrevistar o petista.

Os músicos também afirmaram que o ex-presidente está bem-disposto, firme e bem-humorado.

Os cantores frustaram a expectativa de centenas de manifestantes que se aglomeraram ao redor da PF -- deixaram o local em carros separados, que os buscaram dentro do prédio.

A senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, também esteve com Lula nesta quinta. Ela disse a jornalistas que a conversa com os artistas foi muito boa para o ex-presidente por serem amigos de longa data.

"Ouviu deles o que foi o show, a mobilização que teve no Rio de Janeiro, o movimento que os artistas estão fazendo em favor de Lula livre. Falou bastante do que está vivendo aqui, do momento dele, e pediu para dizerem em alto e bom som, em todos os lugares, que é candidatíssimo", afirmou.

 

FESTIVAL NO RIO 

Apesar de ter sido divulgado que 80 mil pessoas participaram do festival de artistas em apoio a Lula no último sábado no Rio (28), há divergências dentro da própria organização sobre o tamanho do público que compareceu à praça ao lado dos Arcos da Lapa, centro da cidade. 

Segundo a Folha apurou, duas correntes dentro da organização divergem na contabilização do público. Enquanto o setor da produção responsável por organizar a praça estimou em até 20 mil pessoas no local, a ala responsável por coordenar as apresentações de artistas no palco fala em 80 mil. 

Os dois números consideram a quantidade de pessoas que circulou na praça ao longo de todo o dia. O festival teve início às 14h de sábado e terminou por volta de 1h de domingo, depois de apresentações de Chico Buarque, Gilberto Gil, Beth Carvalho, Chico César, Marcelo Jeneci, entre outros, e discursos do teólogo Leonardo Boff e do ator global Fábio Assunção.

O evento foi organizado por parte da classe artística que defende Lula e teve apoio da Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo, centrais sindicais e movimentos sociais de esquerda. 

O cineasta Marcelo Laffite é integrante do Comitê Artístico Lula Livre e foi o responsável por coordenar as atividades na praça, ocupada com bancas de vendas de camisetas e bottoms, além de barracas de comida e bebida e também dois palcos menores que tiveram apresentações antes do palco principal.

Segundo Laffite disse à Folha, compareceram ao evento, no horário de pico de público, ao menos 12 mil pessoas, de um total de 20 mil que circularam pelo local durante todo o dia. 

A conta foi feita com base no "feeling" e com a ajuda da direção do Circo Voador e da Fundição Progresso, casas de shows vizinhas aos Arcos da Lapa e que deram apoio ao festival. 

"Nós contamos com o apoio da Fundição e do Circo Voador, que têm experiência nessa questão do público. Os próprios barraqueiros também nos deram sua impressão. Então, a voz do povo nos ajudou a mensurar quantas pessoas tinham ali", disse Laffite.

Já o diretor de teatro Luiz Fernando Lobo, mestre de cerimônia e responsável por organizar as apresentações no palco, tem cálculo diferente. Foi ele quem anunciou no microfone a estimativa de público da produção. No início da noite, a conta anunciada chegava a 30 mil. Depois do show do rapper Renegado, por volta das 21h, Lobo anunciou um público de 60 mil pessoas. Poucas horas depois, o telão mostrou o cálculo de 80 mil pessoas, que foi reproduzido por diversas entidades que apoiavam o ato como o número final de público naquele dia. 

Lobo explicou à Folha que o cálculo é feito com base em um mapa aéreo do local do evento. A organização traça diversos círculos, do menor, mais no centro da praça, para o maior, na extremidade oposta. É feito um cálculo aproximado de quantas pessoas cabem em cada círculo e a organização estima público a medida que esses círculos vão se enchendo de gente. 

"Nós temos um mapa aéreo e fazemos com uma ponta de compasso vários círculos, aumentando seu tamanho. Então conseguimos entender que se encher até determinado ponto, tem determinada quantidade de gente. E por ai vai", disse Lobo. 

Questionado sobre o número final de 80 mil pessoas, ele explicou que seria a quantidade de pessoas que passou no local ao longo de todo o dia. Ele admitiu, contudo, que o número anunciado pode ser um pouco maior do que o que realmente aconteceu. "Os 80 mil seriam um pouco mais do que estava lá, mas considerando que teve muita gente que chegou mais cedo e saiu antes do fim, é possível dizer que essa conta é próxima da realidade", disse Lobo.  

Um dirigente da Frente Brasil Popular que pediu que seu nome fosse preservado disse que é comum que em eventos como esse "a realidade se confunda com entusiasmo" e que as informações da assessoria de comunicação e a assessoria política cheguem desencontradas no palco. 

A PM do Rio deixou de divulgar à sociedade as estimativas de público de atos de protesto no Rio desde 2014, quando emergiram na cidade protestos pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff. 

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