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Ato durante campanha de Marina Silva constrange Alckmin e França

Presidenciável visitou manifestantes acorrentados, que criticaram ocupantes do Bandeirantes

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São Paulo

Uma visita da presidenciável Marina Silva (Rede) à Educafro (ONG de combate à desigualdade racial) nesta segunda-feira (27), em São Paulo, se estendeu para outro compromisso em que manifestantes fizeram protesto contra Geraldo Alckmin (PSDB) e Márcio França (PSB) diante da candidata.

Marina Silva reza pai-nosso ao lado do frei David e dos manifestantes acorrentados - Nelson Antoine/Folhapress

Após falar na sede da entidade sobre suas propostas para a inclusão de negros, a ex-senadora foi ao prédio de uma secretaria estadual abraçar militantes da Educafro que estão acorrentados a grades, protestando pela regulamentação de cota em concursos estaduais.

Marina entrou no saguão da pasta enquanto os sete manifestantes acorrentados e outros membros da ONG gritavam palavras de ordem contra o tucano (governador até abril e hoje também candidato à Presidência) e contra o socialista que assumiu o Palácio dos Bandeirantes e concorre à reeleição.

Os militantes estão em vigília desde terça-feira (21) no edifício da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, a poucos minutos da sede da Educafro, no centro da capital paulista. O governo diz que está negociando com eles e quer discutir a reivindicação.

A passagem da líder da Rede não estava prevista em sua agenda de campanha e foi incluída no roteiro de última hora, após um convite do frei David Santos, fundador da Educafro. Ele a chamou durante o encontro na sede da organização, no início da tarde.

Marina chegou a ficar espremida entre jornalistas e militantes ao tentar entrar no local. Seguranças do prédio foram orientados a impedir a entrada de quem não estivesse identificado, o que causou empurra-empurra no corredor de acesso. Por fim, depois de pedidos para que a imprensa pudesse se aproximar dos manifestantes, a passagem foi aberta.

A candidata abraçou os acorrentados e posou para fotos, mas não fez discurso. O frei David, que acompanhava a ex-senadora, disse que ela lhe pediu para não discursar no local, mas descumpriu a orientação. Diante das câmeras, criticou o atual e o ex governador.

A lei que o movimento pede para ser regulamentada foi aprovada na Assembleia Legislativa em 2015, durante a gestão Alckmin. A medida autoriza a criação de um sistema de pontuação diferenciada em concursos públicos para pretos, pardos e indígenas.

"Márcio França e Alckmin, sejam bonzinhos com o povo negro. São 518 anos de opressão! É inaceitável que este estado, o maior estado negro do Brasil, continue deixando meu povo negro na senzala", afirmou o religioso. "Marina me disse: não quero discurso. Eu acabei furando a proposta, que era apenas dar um abraço neles."

O frei, de mãos dadas com a candidata e os acorrentados, puxou um pai-nosso. A um assessor da pasta, ao ser informada que o secretário Márcio Elias Rosa queria recebê-la em seu gabinete para falar sobre a demanda do movimento, Marina falou que não teria tempo para uma conversa.

​"Deixei um abraço de solidariedade. Não estava na agenda", justificou-se.

"Quando o Chico Mendes estava em situação difícil, a gente ficava querendo que alguma autoridade se solidarizasse com ele. Um dia eu pensei: se algum dia eu tiver alguma importância e houver pessoas em situação parecida com essa, eu vou sempre dar um abraço de solidariedade", disse a candidata.

Marina negou que a ida ao local caracterizasse campanha eleitoral em prédio de uso público, o que a lei proíbe. "Não é [campanha]. Não fiz discurso, nada. Eu não posso abdicar do meu direito de estar presente. Eu não posso deixar de ser quem sou." Sua permanência durou cerca de 20 minutos.

Especialistas em direito eleitoral ouvidos pela Folha concordaram com a avaliação de que ela não infringiu a legislação. Como Marina não pediu voto nem fez menção à candidatura, o gesto pode ser entendido como "um ato da vida cotidiana dela", disse uma das três pessoas consultadas, a advogada Marilda Silveira, professora do IDP-SP.

Elias Rosa também afirmou que viu a iniciativa como uma ação pessoal da ex-senadora. "Foi um propósito humanista. Ela tem tradição na reivindicação de causas dessa natureza. Não vejo oportunismo nenhum. Ela é bem-vinda sempre. É uma pena não ter conversado comigo."

O titular da pasta disse que gostaria de ter explicado a ela como o governo está tratando a demanda. Segundo ele, França se comprometeu a regulamentar a lei em novembro, após o período eleitoral, porque quer evitar uma politização desnecessária do tema no meio da campanha.

"A causa é legítima. O método empregado hoje nos afasta", disse Elias Rosa sobre o protesto liderado pela Educafro. Segundo o secretário, o processo está na Casa Civil —os acorrentados dizem que a tramitação só andou com a chegada deles.

Promessas

Na Educafro, Marina Silva se comprometeu com demandas da organização, como a manutenção de cotas para negros na educação e a participação de afrodescendentes em seu governo, caso se eleja.

Ela ouviu estudantes cotistas e disse que procura, na campanha, ir ao encontro de "segmentos fragilizados", como as "mulheres fortes, negras, empreendedoras" que visitou neste domingo (26) no Capão Redondo (zona sul da capital).

A candidata afirmou que a população negra é a que mais sofre com a pobreza no Brasil e que isso resulta, por exemplo, na alta evasão escolar de crianças desse grupo. Defendeu ainda dar visibilidade à agenda da igualdade racial e do combate ao preconceito e à violência.

"São séculos de injustiça. É preciso que haja um esforço de reparação para acabar com essa dívida histórica que temos com a população negra e a indígena", falou.

Ela se disse a favor de que os afrodescendentes tenham mais representação na política e prometeu escolher negros para cargos de confiança em uma gestão sua. Não fixou, no entanto, um percentual.

"Vamos, sim, ter um governo com presença de mulheres, negros e índios", afirmou Marina, que se declarou preta ao registrar sua candidatura na Justiça Eleitoral.

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