Descrição de chapéu Eleições 2018

Major parente do presidente Costa e Silva disputa governo de São Paulo

Adriano da Costa e Silva diz que presidente do período é exemplo político e militar

Marco Rodrigo Almeida
São Paulo

Na leva de militares que disputam a eleição deste ano, um candidato ao governo de São Paulo pela Democracia Cristã destaca-se pela origem familiar.

O major do Exército Adriano da Costa e Silva, 41, tem parentesco distante, por parte paterna, com o general Artur da Costa e Silva, presidente do Brasil de 1967 a 1969.

Além da carreira militar e da aspiração política, um outro ponto os une: o major deu ao filho mais velho o nome de Artur. 

“Foi uma coincidência, nem eu nem minha mulher pensamos no general quando escolhemos o nome. Mas aí a associação já está feita. No colégio, quando os alunos estudam os presidentes militares e descobrem que meu filho se chama Artur da Costa e Silva, começam a chamá-lo de ditador”, comenta o major em seu escritório em São Paulo.

Major Adriano da Costa e Silva, candidato a governador de São Paulo pela DC, e a vice de sua chapa, cabo Fátima, em ato de campanha em Mauá (SP)
Major Adriano da Costa e Silva, candidato a governador de São Paulo pela DC, e a vice de sua chapa, cabo Fátima, em ato de campanha em Mauá (SP) - Divulgação

Costa e Silva foi o segundo presidente da ditadura militar. Em 13 de dezembro de 1968, seu governo instituiu o AI-5 (Ato Institucional Número Cinco), que dava ao presidente o poder de fechar o Congresso, cassar mandatos, decretar confisco de bens e suspender a garantia do habeas corpus. 

Era o início da fase mais repressora da ditadura. O major, porém, tem opinião diferente.

“Não podemos falar em golpe militar, em ditadura. Havia alternância de poder, com presidentes eleitos pelo Congresso, como determinava a Constituição do período”, defende.

“E na verdade a ação militar foi um contragolpe. Os comunistas é que planejavam um golpe. Os participantes da luta armada tinham como objetivo implantar uma ditadura do proletariado. Eles foram impedidos pelas Forças Armadas. Essa é a minha visão.”

Nascido oito anos após a morte do presidente Costa e Silva, o major tem nele um exemplo político e militar a ser seguido, pois avalia que não se negou a tomar as medidas enérgicas que aquele momento requeria.

Major Adriano da Costa e Silva , candidato a governador de São Paulo pelo DC, e a vice de sua chapa, cabo Fátima
Major Adriano da Costa e Silva , candidato a governador de São Paulo pelo DC, e a vice de sua chapa, cabo Fátima - Divulgação

“Quando houve a necessidade de um endurecimento contra o terrorismo, ele teve a coragem de tomar uma medida que não foi popular. Essa é a verdadeira personalidade militar que devemos ter. Ele teve a coragem de que o Brasil precisava naquela época. Eu sou a coragem de que o Brasil precisa hoje.”

No Exército há 23 anos, Adriano da Costa e Silva nunca havia pensado em disputar uma eleição até receber um convite da DC, do presidenciável José Maria Eymael, para ser candidato. A ascensão de Jair Bolsonaro (PSL) motivou o partido a lançar um militar também para cargos do Executivo.

“Há um bom tempo as pessoas falam em intervenção militar, mas não acredito que haja motivos para isso. As instituições estão funcionando. Vivemos num Estado democrático. Creio que a população não quer tropas nas ruas. Ela quer, na verdade, os valores que os militares cultuam: patriotismo, fé na missão, honestidade, transparência.”

O programa do major propõe, entre outros pontos, resgatar e proteger os valores éticos da família, reestruturar os planos de carreira das polícias militar e civil e reformular o sistema penitenciário para a ressocialização dos presos.  

Na área da educação, quer reintroduzir a disciplina de educação moral e cívica e combater o que julga ser doutrinação nas salas de aula.

“Recentemente vi um vídeo no YouTube em que os alunos cantavam um música inteira do Pabllo Vittar, mas não sabiam o Hino Nacional. Um absurdo, né?”

Outro plano é incentivar o culto aos heróis brasileiros. O leque de exemplos é amplo: Duque de Caxias, os bandeirantes, Juscelino Kubitschek e o comunista Oscar Niemeyer. “Temos nossas discordâncias políticas, mas ninguém nega que Niemeyer fez coisas notáveis, como Brasília.”

O major também precisará de uma façanha heroica para se fazer notar na campanha. Como seu partido tem menos de cinco congressistas, e sua candidatura não tem coligação com outras siglas, as emissoras de TVs não são obrigadas a convidá-lo para debates. No horário eleitoral terá cerca de seis segundos. Na pesquisa Datafolha divulgada na última quarta (22) aparece com 2% das intenções de voto.

“Como militar, somos preparados para a guerra, para as adversidades. O desafio é estimulador.”

O major lança todas as suas esperanças nas redes sociais, inspirado no caso de sucesso de Bolsonaro. 

“Ele é uma grande inspiração. Temos a mesma formação geral. Temos um alinhamento muito bom”, afirma.

Tão bom que o major fica entre a cruz e a espada ao ouvir a pergunta: vai votar em Bolsonaro ou em Eymael para presidente? 

“O voto é secreto”, encerra com vigor militar.

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