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Sesi cobra 'atenção especial' em obra no reduto de Skaf

Entidade pediu para acelerar construção de centros de atividade, mesmo com problemas

José Marques
São Paulo

"Peço suas providências para resolver essas pendências com urgência", cobrou em email de fevereiro de 2017 o Diretor de Obras do Sesi de São Paulo, Gunnar Troppmair, à empreiteira Exetécnica, que terminava a construção de uma escola da entidade em Barretos (a 423 km da capital). 

A empresa ainda precisava finalizar serviços para que a energia do imóvel pudesse ser ligada. "Precisamos ocupar o prédio dia 1º.mar, conforme agendado com o dr. Paulo Skaf", afirmou Gunnar.

Esse e outros emails, enviados nos últimos anos por funcionários do Sesi e do Senai de São Paulo, órgãos ligados à indústria e bancados com dinheiro público, mostram preocupação em acelerar obras e manter um calendário de entregas que satisfaça Paulo Skaf, então presidente das entidades.

Skaf, que se licenciou do cargo para se candidatar ao governo de São Paulo pelo MDB, usa há anos as estruturas do Sesi e Senai para se promover publicamente.

As mensagens foram obtidas pela Folha por meio de um ex-funcionário que foi copiado nelas e pediu para não ser identificado.

Em algumas dessas obras, houve questionamento por parte dos engenheiros fiscais a respeito de pagamentos e atropelo de formalidades, como a Folha revelou nesta segunda-feira (13).

A obra da escola de Barretos tinha sido abandonada por outra construtora antes de ser assumida em 2015 pela Exetécnica —a mesma que foi cobrada pelas pendências que tinha com a companhia energética local.

No primeiro semestre de 2016, a Câmara Municipal de Barretos exigiu explicações a respeito do término da obra.

Então diretor de centro de atividades das entidades, Laercio Doglas disse que a resposta tinha que ser lidada "com atenção especial, ainda mais por se tratar da cidade do nosso presidente".

Apesar de ser natural da capital paulista, Skaf tem empresa e empreendimento em Barretos. Sua mulher, Luzia, nasceu na cidade.

À Câmara, o setor de engenharia do Sesi deu uma resposta padrão, de que as obras se encontravam adiantadas e estavam previstas para outubro de 2016 —mas foi entregue, ainda com pendências, em março de 2017.

Ainda faltaram as piscinas, que só foram inauguradas em março deste ano, em evento com show do cantor Almir Sater. No entanto, já havia cobranças internas em julho do ano passado para que a entrega se adequasse ao chamado "calendário de inaugurações" da assessoria da presidência.

Eles previam que a obra ficasse pronta no segundo semestre de 2017, apontou Doglas, o que não ocorreu.

Barretos não era o único local onde havia pressa. Em Mogi das Cruzes, a direção solicitou que a obra de outra empreiteira em uma piscina continuasse, apesar de não haver alvará da prefeitura.

"A pedido do eng. Gunnar Troppmair", disse Marcelo Verde, gerente de manutenção do Sesi em email, "[a empresa] deverá retomar imediatamente as obras previstas". "Pediremos que iniciem as atividades menos complexas previstas no cronograma de obras", afirmou o gerente.

"Peço a gentileza de continuar acompanhando o processo na Prefeitura a fim de obtermos o alvará de execução", acrescentou.

Sesi diz que pedidos seguem a lei; Skaf não se manifesta

Procurado, o Sesi afirma que o pedido em Mogi é relativo apenas a "serviços que não dependiam do alvará de execução", que são permitidos pela legislação municipal.

Sobre Barretos, diz em nota que "o Sesi-SP atua com transparência e dedicação, acompanhando com atenção todos os investimentos". "Tomamos as providências necessárias para que a comunidade a que servimos seja sempre atendida", informou. 

O posicionamento é o mesmo de Gunnar e de Verde. Skaf não se manifestou. Doglas, que não está mais no Sesi e Senai, não foi localizado.

A Exetécnica diz que fez as tratativas com o Sesi "rigorosamente dentro da legislação vigente" e com envolvimento da fiscalização e gerência de engenharia.

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