Descrição de chapéu Eleições 2018

Campanha de contradições e cizânia dá a João Doria sua 'graduação em política'

Disputa por governo apresenta a tucano situações adversas das quais a eleição para prefeito o poupou

Thais Bilenky Joelmir Tavares
São Paulo

O gestor João Doria (PSDB) sai da eleição para governador de São Paulo graduado em política.

A disputa com Márcio França (PSB) apresentou ao tucano situações adversas das quais a sua primeira eleição, para prefeito da capital paulista, em 2016, o poupou.

O PSDB, rachado e desgastado, ficou desta vez sob fogo cruzado durante toda a campanha, com tucanos vociferando contra a sua candidatura, inclusive o padrinho político de Doria, o ex-governador Geraldo Alckmin.

A simplificação da narrativa, que funcionou bem na estreia, desta vez foi insuficiente. Não bastou se colocar como novo, administrador eficiente e antipetista.

O candidato ao governo de São Paulo João Doria (PSDB) - Bruno Santos/ Folhapress

As colorações de França tinham mais nuances que o vermelho do PT. A renúncia precoce do tucano na prefeitura —ele deixou o cargo depois de 15 meses de mandato— tirou a cola do selo de novidade.

O principal cabo eleitoral da eleição, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), se recusou a apoiá-lo publicamente, diferentemente de Alckmin, que em 2016 se valeu da máquina estadual, que controlava na época, e de seu prestígio para estruturar a campanha de sua então aposta.

Doria chegou a viajar ao Rio na expectativa de que o deputado federal, mais votado no primeiro turno da corrida presidencial, gravasse um vídeo de apoio a ele.

Voltou sem o depoimento, falando que o candidato estava indisposto e por isso não pôde recebê-lo naquele dia.

Um ex-secretário municipal e braço direito, Anderson Pomini, declarou apoio ao adversário do tucano dias antes do segundo turno. Falou que um homem público deve "honrar compromissos, respeitar aliados e não trair a confiança das pessoas".

"É evidente que ele amadureceu", diz o ministro Gilberto Kassab, do PSD. "Foi uma campanha mais difícil, em que ele teve de se valer de muita habilidade para conseguir estruturar uma coligação bastante ampla", afirma o aliado de Doria.

"Neste momento, em que o eleitor rejeita quem já ocupou cargos, e ele foi prefeito, Doria demonstrou muita competitividade."

Ao mesmo tempo, o tucano acumulou contradições ao longo de sua trajetória, facilitando a tarefa de desafetos de tentar desconstruí-lo.

Adversário feroz do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT, o tucano recebeu recursos para suas empresas sob governos petistas.

A recíproca foi verdadeira. Doria fez doações eleitorais a petistas como o ex-ministro José Eduardo Cardozo e para a hoje candidata a vice na chapa de Fernando Haddad, Manuela D'Ávila (PC do B).

Prometeu pelo menos 43 vezes cumprir os quatro anos de mandato na prefeitura e não usar o serviço público como trampolim eleitoral. Saiu após um ano e três meses para disputar um outro cargo.

Crítico do que chamou de extremismo de Bolsonaro, afirmou no passado que recusaria eventual apoio do capitão reformado, mas depois se tornou um entusiasta de sua candidatura.

Aproximou-se de Michel Temer após o impeachment, mas bateu em seu MDB para avariar o candidato Paulo Skaf no primeiro turno.

Incomodou o presidente, que divulgou vídeo reclamando que o postulante do PSDB usava sua propaganda para criticar o governo federal.

"[Você] está se desmentindo, porque, ao longo do tempo, você, inúmeras vezes, elogiou o meu governo", disse Temer no recadinho.

Mesmo França, outrora aliado, passou a ser rotulado pejorativamente como interino, esquerdista, socialista e petista. No passado, Doria chegou a reconhecer que a articulação política costurada pelo então vice-governador o ajudou na disputa de 2016.

"Vi a campanha dele com muito desgosto. Doria foi surpreendendo as pessoas ao longo do tempo negativamente", diz o vereador Mário Covas Neto, o Zuzinha, que deixou o PSDB após desentendimentos com o ex-prefeito.

"Ele é um comunicador muito convincente na sua exposição, realmente conquista as pessoas, mas, depois que você tem um pouco de convívio, vai vendo que ele não é exatamente aquilo que parece ser", conclui o vereador do Podemos, que disputou o Senado na chapa de França, mas não se elegeu.

Doria chegou à reta final do segundo turno empatado nas pesquisas com Márcio França, novos aliados do PSL de Bolsonaro a seu lado e um grupo político aguerrido.

O presidente da Assembleia, Cauê Macris, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, entre outros colegas de PSDB, não se furtam a compor a tropa de choque do candidato. 

Seja qual for o resultado das urnas, ela será necessária.

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