Sem a enxurrada de recursos das campanhas passadas, o PT adotou uma dupla de marqueteiros sem experiência em campanhas presidenciais, mas que se define como militante e atenta às sugestões que o ex-presidente Lula envia da prisão em Curitiba.
Otávio Antunes, 41, que se define como “jornalista operário” e o publicitário baiano Raul Rabelo, 43, tocam os programas eleitorais do partido para a Presidência, inicialmente com Lula como candidato e agora com Haddad.
Ao contrário de megamarqueteiros como João Santana e Duda Mendonça, que comandaram as campanhas do partido de 2002 a 2014, a nova dupla tem um perfil menos centralizador e atuam mais como idealizadores do conteúdo do que como consultores de imagem partidária.
No QG petista, quem trabalha na campanha costuma repetir que se existe um estrategista ou marqueteiro do PT ele se chama Lula. O ex-presidente está preso em Curitiba e tem recebido a visita de Haddad. Desde que foi confirmado como candidato, o ex-prefeito esteve quatro vezes na sede da Polícia Federal.
Pouco mais de 100 pessoas trabalham na equipe de comunicação do petista. Na equipe, poucos ultrapassam os 40 anos de idade.
À frente do time, Antunes e Rabelo se conheceram durante a caravana de Lula pelo Nordeste. Antunes, filiado ao PT, era o chefe de comunicação da Fundação Perseu Abramo, ligada à legenda, e registrava o périplo que Lula fez pelo país.
Já Rebelo é filho de militantes do PC do B e, também, sócio de um dos publicitários que se destacou nos últimos anos em programas para a legenda —Sidônio Palmeira, que fez os programas vitoriosos do ex-governador da Bahia Jaques Wagner em 2006 e 2010, e do atual, Rui Costa, em 2014.
É da experiência de circundar Lula nos últimos anos que Antunes tira algumas das suas ideias para os programas, segundo a Folha ouviu de integrantes da campanha. Uma delas, por exemplo, é de não copiar programas vitoriosos de presidentes americanos, porque não se aplicam à realidade brasileira.
Também aproveita frases que ouve nas ruas para usar como material de publicidade, como o slogan “O Brasil feliz de novo”, que inicialmente se chamaria “O Brasil vai voltar a sorrir”.
Até pelo orçamento apertado, as peças não têm apresentador, tomadas que exijam estrutura cara e também reaproveitam material já utilizado durante as caravanas de Lula e o período anterior à sua prisão, em abril.
Ainda existem vídeos do ex-presidente inéditos, preparados para um eventual segundo turno eleitoral.
Ataques ao adversário e primeiro colocado nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL), também não estavam previstos até o crescimento do candidato nas pesquisas.
Na reta final, o partido reconheceu que errou na estratégia e passou a tentar desconstruir o capitão reformado. Nos programas desta quinta (4), foram exibidas inserções que criticavam votações de Bolsonaro na Câmara dos Deputados.
O trabalho dos dois novos marqueteiros é pago, em sua maior parte, para a agência de Antunes, Urissanê Comunicações. Na última prestação de contas, ele já havia recebido R$ 6 milhões do partido.
Eles também trabalham para dois candidatos em São Paulo: Jilmar Tatto, que concorre ao Senado, e Alexandre Padilha, a deputado federal.
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