Descrição de chapéu Eleições 2018

Confiantes em enfrentar Doria, Skaf e time ignoraram potencial de França

Projetando-se no 2º turno em SP, emedebista apoiou Bolsonaro antes do pleito e atraiu rejeição

O candidato ao governo de São Paulo, Paulo Skaf (MDB), durante votação
O candidato ao governo de São Paulo, Paulo Skaf (MDB), durante votação - Zanone Fraissat/Folhapress
Joana Cunha
São Paulo

"Após concorrer nas duas últimas eleições, Paulo Skaf (MDB) finalmente vislumbrava chances na corrida ao governo de São Paulo.

Até o último minuto, seus apoiadores acreditavam que seria possível passar para o segundo turno e que o avanço de Márcio França (PSB) na reta final era apenas uma ameaça "para dar emoção".

Essa era a avaliação de alguns dos presentes ao comitê de campanha do MDB na noite deste domingo (7).

Skaf preferiu aguardar o desfecho da apertada disputa em casa e, só depois de definido o resultado, saiu para fazer seu pronunciamento.

Na avaliação de quem está próximo do emedebista, o cenário atual continha uma conjunção de fatores.

Comparado a Geraldo Alckmin, concorrente tucano em 2010 e 2014, Doria era visto como um rival mais frágil tanto pela falta de histórico político quanto por ter abandonado a prefeitura da capital, o que lhe rendeu forte rejeição.

A atual fragmentação do PSDB também era vista como favorável por Skaf, que reuniu nomes de peso da história tucana no estado, como Alberto Goldman e Andrea Matarazzo.

A campanha de Skaf não previa a escalada de França, cujo potencial foi dado como limitado cedo demais.

Em entrevista a jornalistas na noite deste domingo, após o resultado, Skaf ponderou.

"Sei que não era uma parada fácil enfrentar candidato que está no posto de governador e o outro que tem a estrutura da prefeitura com 14 partidos da coligação, muito mais tempo de televisão e mil candidatos, enquanto a gente tinha cem", disse em seu comitê.

Enquanto as pesquisas de intenção de voto colocavam França em um distante terceiro lugar, a estratégia de Skaf foi se preparar para o segundo turno com antecipação.

Na quinta (4), quando o MDB ainda tinha presidenciável (Henrique Meirelles), Skaf anunciou que apoiaria Bolsonaro (PSL) no segundo turno. A ideia era equiparar-se a Doria, que ia na mesma direção, e aproveitar a popularidade do capitão reformado.

Mas a estratégia pode ter sido equivocada. Horas antes dos resultados, com o segundo lugar indefinido, membros da equipe de Skaf refletiam.

Em vez de atrair votos, o apoio a Bolsonaro pode ter espantado a parte do eleitorado feminino que tem alta rejeição ao presidenciável do PSL.

Aos jornalistas, Skaf afirmou que está "com a consciência tranquila" em relação a esse assunto e "não adianta ficar fazendo avaliações".

"Eu fiz tudo com muita transparência. O candidato [Meirelles] soube, eu liguei para ele. Disse que as pesquisas mostravam um cenário com probabilidade perto de 100% e que eu estava sendo muito cobrado pela imprensa, sob uma hipótese, qual seria a minha posição", afirmou.

Doria e Skaf ficaram empatados à frente durante toda a corrida, mas o embate direto entre eles demorou.

Doria duelou com França, acusando-o de esquerdista e deixando Skaf em posição relativamente confortável para nutrir esperanças de vitória.

Foi só quando Skaf apareceu numericamente à frente em um levantamento Ibope em meados de setembro, que Doria atirou a primeira pedra.

Na ocasião, lembrou que o adversário emedebista escondeu a imagem do presidente Michel Temer durante toda a campanha. Skaf revidou repetindo a promessa descumprida pelo tucano na prefeitura.

Durante sua campanha, o maior desafio de Skaf foi, de fato, descolar sua imagem da figura impopular de Temer.

Ele foi diversas vezes questionado sobre as denúncias de corrupção que atingem Temer no setor portuário, e argumentava que a imagem de todos os partidos está ruim.

O segundo turno que se projetava entre Skaf e Doria seria uma disputa com pouca margem para um embate ideológico, uma vez que ambos se colocavam como referência para o antipetismo; daí a pressa de Skaf em se aproximar da imagem de Bolsonaro.

Diferentemente de 2014, quando trouxe uma coligação composta por Pros, PSD, PP e PDT, neste ano, a chapa de Skaf veio puro-sangue.

Para driblar os questionamentos sobre a dificuldade em montar alianças, colocou em seu plano de governo a justificativa de que sua coligação era "com o povo de São Paulo".

Sua maior vitrine foram os projetos sociais do Sesi-SP e do Senai-SP, que proporcionam divulgação positiva de sua imagem, mas, por outro lado, alimentaram as cobranças de uso da máquina das entidades para a autopromoção.

Skaf evitou, na noite deste domingo, declarar qual candidato receberá seu apoio no segundo turno. Ele afirmou que ligou para França, para parabenizá-lo, mas não ligou para Doria.

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