Descrição de chapéu Eleições 2018

Polarização derruba tendência de brancos e nulos na reta final

Votos inválidos somaram 8,8%, patamar próximo ao primeiro turno das últimas eleições presidenciais

Eleitores usam identificação biométrica em Guarulhos, na Grande São Paulo
Eleitores usam identificação biométrica em Guarulhos, na Grande São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress
Érica Fraga
São Paulo

A conversão do descontentamento em voto útil fez com que a fatia de brasileiros que foi às urnas sem optar por nenhum dos candidatos à Presidência ficasse muito abaixo do que indicavam as pesquisas de preferência eleitoral há menos de dois meses.

Do total de votos computados neste domingo (7) pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 6,14% foram nulos e 2,65% brancos, com 99% das urnas apuradas.

A soma de 8,79% dos chamados votos inválidos ficou abaixo dos 9,64% registrados no primeiro turno do pleito de 2014 e muito próxima dos resultados de 2006 e 2010.

"Os votos brancos e nulos no primeiro turno mantiveram o padrão de estabilidade que temos observado desde 2006", afirma o cientista político Jairo Nicolau, professor da UFRJ.

Embora tenha repetido a tendência dos últimos dez anos, o comportamento dos eleitores que pretendiam invalidar seu voto se alterou à medida que a data do pleito foi se aproximando.

Segundo o Datafolha, por volta de 20 de agosto, as intenções de voto apontavam para um percentual de 22% de votos brancos e nulos.

Essa parcela era quase o triplo do máximo registrado na mesma altura da corrida presidencial nas últimas décadas, de acordo com a série histórica do Datafolha.

O desencanto com a política tradicional alimentava uma onda inédita de voto de protesto, na esteira de eventos como os escândalos de corrupção escancarados pela Operação Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e a crise do governo Michel Temer (MDB).

"As pesquisas captavam o descontentamento com um sistema político extremamente corrupto", diz o cientista político David Fleischer, professor emérito da UnB (Universidade de Brasília).

Essa situação começou a mudar, principalmente, a partir da oficialização da candidatura de Fernando Haddad (PT), em 11 de setembro.

A indicação de que o ex-prefeito de São Paulo poderia herdar fatia significativa dos votos do ex-presidente Lula impulsionou o voto antipetista para Jair Bolsonaro (PSL).

"O Bolsonaro, de certa maneira, capturou a enorme insatisfação com tudo o que representa a política tradicional", afirma Nicolau.

Com a configuração de uma enorme polarização, eleitores descontentes com a política, mas que rejeitam Bolsonaro, também parecem ter desistido de invalidar o voto, aderindo a alguma candidatura.

A pesquisa Datafolha divulgada no sábado (6) já indicava um total de votos brancos e nulos de 6%, um pouco abaixo do registrado pelo TSE.

"A polarização muito aguda fez com que parte dos que votaria branco ou nulo acabasse optando por Haddad ou Bolsonaro na tentativa de evitar o que considerassem um mal maior", diz Fleischer.

De acordo com o cientista político, o fato de candidatos mais identificados com o centro do espectro político não terem decolado também contribuiu para esse cenário.

p(inter). Biometria avança, mas seu impacto é de difícil mensuração

São Paulo"A fatia de eleitores que não compareceu às urnas somou 20,3%, próxima ao do primeiro turno na última eleição presidencial e um pouco acima dos pleitos anteriores.

Segundo o professor Jairo Nicolau, da UFRJ, oscilações na taxa de abstenção são influenciadas por vários fatores, entre os quais se destaca o recadastramento eleitoral.

"O recadastramento elimina eleitores que se mudaram e faleceram, mas não haviam sido retirados da lista, assim como idosos e analfabetos que não querem mais votar", diz o cientista político, que pesquisa o tema no país.

A tendência, portanto, é que a migração de eleitores para o sistema de identificação digital contribua para uma queda da abstenção.

A chamada biometria chegou à metade dos eleitores nesta eleição, contra 15,2% do total em 2014.

No entanto, a dificuldade de se comparar a situação dos eleitores entre eleições torna a análise do efeito da biometria sobre a abstenção difícil.

Além disso, o impacto de outros fatores, como o descontentamento do eleitor, pode oscilar entre pleitos, o que também complica a realização de comparações entre as taxas de abstenção.

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