Descrição de chapéu

Vitória transforma Doria em candidato à sucessão de Bolsonaro em 2022

Não foi por acaso que então candidato evitou dar apoio ao tucano, que tem caminho facilitado

Igor Gielow
São Paulo

A vitória de João Doria na disputa pelo governo de São Paulo dá largada à corrida presidencial de 2022. Se parece cedo para enxergar as coisas assim, ainda mais num país em que Jair Bolsonaro presidente seria uma proposição ridícula há dois anos, é melhor olhar de novo.

Ao lado da senadora eleita Mara Gabrilli (PSDB), Doria segura bandeira do Brasil após votar
Ao lado da senadora eleita Mara Gabrilli (PSDB), Doria segura bandeira do Brasil após votar - Marcus Leoni/Folhapress

O presidente eleito evitou o quanto pôde chancelar a carona que Doria pegou na onda conservadora liderada pelo deputado do PSL no primeiro turno da eleição para viabilizar sua vitória sobre o governador Márcio França (PSB).

Doria chegou a ir ao Rio com o intuito de gravar um vídeo com Bolsonaro, só para ser frustrado devido à oposição do senador eleito Major Olímpio (PSL-SP), há duas semanas. Depois, o presidenciável desejou "boa sorte" ao ex-prefeito paulistano, numa concessão ao aliado Paulo Marinho, suplente eleito de seu filho Flávio no Senado, que coordenou a viagem com o tucano.

Na avaliação do comando bolsonarista, Doria será um aliado de largada do novo governo federal, mas tenderá a se afastar após dois anos para estabelecer-se como uma alternativa ao Planalto.

O modelo, obviamente, foi a movimentação do tucano desde que assumiu a prefeitura paulistana em 2017: primeiro ameaçou a postulação presidencial do seu antigo padrinho, Geraldo Alckmin, depois deixou o cargo para se lançar ao Palácio dos Bandeirantes.

Dispensável dizer que Doria precisará ultrapassar as desconfianças da grande fatia do eleitorado paulista que apoiou França e fazer um governo popular para se cacifar. Bolsonaro  também precisa estar em posição de ser questionado, o que é insondável.

Mas há dois fatores importantes, além do perfil competitivo e ambicioso de Doria, que diferenciam sua situação atual daquela registrada no ano passado.

Primeiro, ele ocupará o cargo mais poderoso que um membro do PSDB terá a partir de janeiro de 2019. A ala jovem da sigla, hoje encarnada no governador eleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e no prefeito paulistano, Bruno Covas, está um patamar abaixo.

Cabe lembrar que hoje o PSDB é uma ruína. Alckmin teve a pior votação federal da história da sigla, e terá de se agarrar ao cargo de presidente do partido e provavelmente compor com Doria. Não seria inédito: após perder a Presidência em 2006 e a prefeitura paulistana em 2008, o ex-governador foi secretário do ex-desafeto José Serra no Bandeirantes.

Seus principais caciques foram dizimados no primeiro turno, a começar pela velha guarda. Poderia haver uma reorganização no Senado com a metade de mandato restante a Serra (SP) e Antonio Anastasia (MG), mas ambos tendem a passar mais tempo cuidando de suas próprias feridas.

Movimentos de migração para outras siglas não é exatamente um exercício de especulação absurdo.

O outro ponto em favor de Doria é que o governo paulista é uma engrenagem com as contas bem mais em ordem do que era a prefeitura paulistana quando ele a assumiu.

Isso pode favorecer medidas com maior impacto, seja efetivo ou meramente midiático, logo de largada —algo que diferencie Doria, a despeito de sua origem, da sensação monolítica que o estado transmite após passar 24 anos sob comando do mesmo grupo.

Tudo, claro, é futurologia no Brasil —ou alguém via Dilma Rousseff (PT) impedida dois anos logo depois de derrotar Aécio Neves (PSDB)?  Mas é um cenário plenamente aplicável à realidade política a partir desta segunda (29).

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