Descrição de chapéu Eleições 2018

Em dois anos como político, Doria acumula rompimentos com aliados

Além de Alckmin, tucano também sofreu críticas de outras pessoas antes próximas

Artur Rodrigues
São Paulo

Menos de dois anos após deixar a iniciativa privada para virar Prefeito de São Paulo, o ex-gestor e atual político João Doria (PSDB) acumula uma série de rompimentos com aliados antes próximos e que hoje se tornaram críticos a ele. 

Geraldo Alckmin (PSDB), responsável pela entrada de Doria no primeiro escalão da política, foi só o último deles. A relação, que já era quase formal entre os dois, ganhou ares de fim de relacionamento após Alckmin insinuar numa reunião de tucanos que Doria, candidato ao governo paulista, é um traidor

O assunto tem sido explorado pelo adversário na disputa para o Palácio dos Bandeirantes, Márcio França (PSB). 

Doria começou a perder aliados antes mesmo de sentar na cadeira de prefeito. Ele resolveu apoiar Milton Leite (DEM) em vez de Mario Covas Neto (PODE) para a presidência da Câmara --o filho do ex-governador Mario Covas acabaria deixando o PSDB mais tarde. 

Em 2016, o vereador tucano havia participado ativamente da campanha de Doria para prefeito, em um momento que ele era visto com desconfiança pelo tucanato. "Fiz a campanha dele acreditando que ele pudesse retomar o PSDB ao rumo. Mas ele só agravou a crise de identidade do partido", diz Covas Neto.

Uma das queixas é que Doria teria tentado subordinar o partido à sua vontade. "Ele foi mostrando sua tendência de tratar o PSDB como um puxadinho da prefeitura", diz ele.

Covas Neto afirma que não saiu do PSDB por ter sido preterido para chefiar a Câmara, mas que essa foi uma entre uma série de insatisfações com o partido e com Doria. "Eu diria que ele [Doria] não é a única coisa [que fez deixar o partido], mas contribuiu sobremaneira para isso".

Assim que assumiu a prefeitura, Doria entrou em campanha para se firmar como candidato tucano à Presidência, no lugar de Alckmin. 

Nessa época, era comum ouvir de subordinados do tucano que ele fazia cobranças irreais, em busca da criação de vitrines para apresentar numa futura candidatura.

A vereadora Soninha Francine (PPS) foi convidada para ser secretária de Assistência Social da gestão Doria, mas teve pouco mais de três meses no cargo para desenvolver seu trabalho. 

Ao fim desse prazo, foi demitida, com um direito a um vídeo constrangedor ao lado do patrão, ao estilo do programa Aprendiz, que Doria costumava apresentar. 

Quem substituiu Soninha foi Filipe Sabará, protegido de Doria. Ela voltou para a Câmara Municipal para cumprir o mandato como vereadora, com a certeza de que não conseguiria cumprir as expectativas do prefeito em tão pouco tempo. 

"Eu acho que ele [Doria] mudou muito rápido de postura depois que assumiu a prefeitura. Ele se deixou entusiasmar demais pelo primeiro mês de governo, pela aprovação, pela reação das pessoas", diz. 

Ela afirma apoiar a decisão do PPS de apoiar Márcio França na esfera estadual. Para Soninha, Doria também passou a adotar posições que não condizem com o PSDB. 

"Imagina um candidato do partido da social democracia dizer que 'precisamos derrotar a esquerda que é sinônimo de corrupção'. Não é a esquerda que é sinônimo de corrupção, há prática corrupção por partidos esquerda", afirma ela. 

Mesmo crítica ao PT, Soninha, diferentemente de Doria, resolveu apoiar Fernando Haddad (PT) contra Jair Bolsonaro (PSL) na disputa para a Presidência. 

Outros ex-secretários de Doria que se tornaram críticos são os vereadores Patrícia Bezerra (PSDB) e Gilberto Natalini (PV)

Natalini foi demitido em 2017 da pasta do Verde e Meio Ambiente, após reclamações do mercado imobiliário devido a dificuldade no licenciamento de empreendimentos. Para ele, sua dispensa foi por "excesso de probidade". 

A demissão, porém, não é a única reclamação em relação a Doria. "O homem público tem que conciliar os negócios com a máquina pública. Doria trabalha exclusivamente para as atividades do mercado, despreza a máquina pública", diz. "Despreza as leis que, para ele, são uma coisa menor", acrescenta.

Já a vereadora Patrícia Bezerra pediu demissão do cargo de secretária de Direitos Humanos no ano passado após classificar como "desastrosa" a ação da gestão tucana na cracolândia. 

Doria chegou a anunciar que o ponto de uso de crack havia acabado. Ele acabou descobrindo que o problema era muito mais complicado do que imaginava. 

Uma das situações classificadas como críticas por Patrícia foi a demolição de um imóvel na cracolândia, em que três pessoas acabaram feridas. "Devia ter sido feito um mea culpa. Mas não foi feito porque não se está parando para pensar no que está sendo feito", disse, na época.

Ela também afirmou à Folha na ocasião que o ex-chefe "tem um senso de urgência que é equivocado". 

Dali em diante, a vereadora passaria a se colocar contra projetos de interesse do então prefeito.

A assessoria de Doria afirma que ele "não trocou de lado". "Se mantém com os mesmos princípios e no mesmo partido. O princípio de ser fazer oposição ao PT e seus agregados, o princípio de inovar na gestão e o princípio de renovar as velhas práticas da política", diz nota. 

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