Pezão é preso em desdobramento da operação Lava Jato do Rio de Janeiro

Governador foi buscado pela PF no Palácio Laranjeiras; ele é suspeito de ter participado do esquema de corrupção de Sérgio Cabral

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Luiz Fernando Pezão, governador do Rio de Janeiro, chega à sede da Polícia Federal após mandado de prisão - Mauro Pimentel - 29.nov.2018/AFP
Rio de Janeiro

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB), foi preso na manhã desta quinta-feira (29) na Operação Boca de Lobo, desdobramento da Operação Lava Jato no estado. Ele é suspeito de ter participado do esquema de corrupção de seu antecessor, Sérgio Cabral.

Pezão foi alvo de um mandado de prisão preventiva expedido pelo ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Félix Fischer. Ele foi preso no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador, e levado para a Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, na praça Mauá. Antes, tomou banho e café da manhã servido por garçons do governo.

Pezão no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro - Zô Guimarães - 24.jul.2018/Folhapress

Com a prisão, o vice-governador, Francisco Dornelles (PP), assume interinamente o comando do estado.

Pezão é o quarto ocupante do Palácio Guanabara em anos recentes a ser preso. Antes dele foram alvo Cabral e os ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho --os dois últimos por ações sem relação com a Lava Jato, mas com a Justiça eleitoral.

A prisão preventiva, mesmo no caso de governadores, é decretada pela Justiça quando há indícios de que o acusado continua praticando crimes ou de que esteja obstruindo a investigação, por meio de ameaças a testemunhas ou destruição de provas. Também é usada para evitar fugas.

Os governadores têm prerrogativa de foro junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), órgão que precisa autorizar as prisões preventivas. 

Foram expedidos ainda outros oito mandados de prisão preventiva e 30 de busca e apreensão. 

A Procuradoria-Geral da República afirma que, solto, o governador "poderia dificultar ainda mais a recuperação dos valores, além de dissipar o patrimônio adquirido em decorrência da prática criminosa".

Pezão foi apontado pelo economista Carlos Miranda, delator que afirma ter sido o gerente da propina de Cabral, como beneficiário de uma mesada de R$ 150 mil durante a gestão do ex-governador (2007 a 2014).

De acordo com a Procuradoria-Geral da República, "há registros documentais, nos autos, do pagamento em espécie a Pezão de mais de R$ 25 milhões no período 2007 e 2015".

"Valor absolutamente incompatível com o patrimônio declarado pelo emedebista à Receita Federal. Em valores atualizados, o montante equivale a pouco mais de R$ 39 milhões e corresponde ao total que é objeto de sequestro determinado pelo ministro relator", afirma a PGR. 

Segundo o relato de Miranda, o atual governador passou a pagar R$ 400 mil a Cabral quando assumiu o cargo em abril de 2014, após a renúncia do aliado.

Pezão vem sendo citado nas investigações sobre Cabral desde o ano passado. Referências a “Big foot”, “Pé” e outros apelidos similares foram encontradas nas anotações de Luiz Carlos Bezerra, espécie de carregador de mala de Miranda a partir de 2010.

O governador sempre negou as citações ao seu nome.

“Pezão repudia com veemência essas mentiras. Ele reafirma que jamais recebeu recursos ilícitos e já teve sua vida amplamente investigada pela Polícia Federal”, afirmou nota distribuída pelo Palácio Guanabara há duas semanas.

De acordo com Miranda, além da mesada Pezão recebeu “prêmios” ao final de alguns anos. Em 2008, por exemplo, o atual governador foi destinatário de R$ 1 milhão do esquema de Cabral.

Para a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, Pezão não apenas integrou o esquema de Cabral como "operou esquema de corrupção próprio, com seus próprios operadores financeiros”.

Em delação, o economista diz que o governador pediu para que o dinheiro fosse entregue a um dos sócios da JRO Pavimentação. A empresa pertence a Cláudio Fernandes Vidal, que transferiu sua sede para Piraí em 2005 após aproximação com Pezão. Os dois ficaram amigos e se encontravam frequentemente.

Outro suposto intermediário de propina para o governador era o ex-subsecretário de Comunicação Social da gestão Pezão, segundo Miranda. Marcelo Santos Amorim, ou Marcelinho, também recebeu recursos destinados ao emedebista. O suspeito é casado com uma sobrinha do político.

Os três são alvo de mandado de prisão preventiva. Também são alvo o secretário estadual de Obras, José Iran Jr., e o ex-secretário de Governo Afonso Monnerat, já preso na Operação Furna da Onça.

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