A internação do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo e a limitação de comunicação imposta pela equipe médica evidenciaram a falta de autonomia do novo governo.
O anúncio e o envio ao Congresso de iniciativas que estão prontas e são consideradas prioritárias foram seguradas e dependem, segundo o próprio governo, do retorno do presidente a Brasília.
Submetido a uma cirurgia para reconstrução do trânsito intestinal, Bolsonaro está internado desde o final do mês passado no hospital Albert Einstein e não há previsão de sua volta para a capital federal.
A estimativa inicial de alta era a próxima segunda-feira (11). Nesta quinta-feira (7), contudo, foi detectada uma pneumonia, o que pode levá-lo a permanecer mais uma semana na unidade médica.
Com a indefinição, o Palácio do Planalto colocou em banho-maria propostas como o novo texto da reforma previdenciária e o pacote anticrime, sem data para entrarem na pauta legislativa.
Além delas, aguardam o retorno do presidente instrução normativa com mudanças na Lei Rouanet, do Ministério da Cidadania, e a criação da ANT (Agência Nacional dos Transportes), uma superagência de infraestrutura.
As quatro iniciativas foram bandeiras eleitorais do presidente e foram elencadas pelo Palácio Planalto como prioridades do início do mandato.
A reforma previdenciária, por exemplo, é considerada fundamental para ajustar as contas públicas do país, que têm como estimativa déficit de R$ 139 bilhões neste ano.
A estimativa inicial era de que o texto final fosse finalizado na próxima semana, com a participação do presidente. Agora, auxiliares presidenciais já admitem que ela deve ficar para o final do mês.
"O presidente, vocês sabem, está se recuperando. É um timing que precisamos respeitar. Quando ele voltar, tem que definir algumas variáveis importantes como tempo de transição, as idades, se este novo regime vem agora ou vem depois", disse o ministro Paulo Guedes na quinta-feira (7).
O pacote de combate ao crime, que já foi até mesmo discutido com parlamentares e governadores, não foi ainda enviado à Câmara, segundo o ministro Sergio Moro (Justiça), porque aguarda Bolsonaro.
O compasso de espera afetou até mesmo decisões consideradas simples, como a indicação do líder do governo no Senado.
Segundo auxiliares presidenciais, o nome escolhido é o do senador Fernando Bezerra (MDB-PE), mas ele só será oficializado após encontro do pernambucano com o presidente.
“O presidente está hospitalizado, começando a falar agora, pós-cirurgia, mas não tem nenhum nome oficialmente ainda não”, disse o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente.
A equipe de articulação política também tem aguardado Bolsonaro para escolher o novo líder do governo no Congresso.
O porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, já disse que mesmo após alta médica, o presidente seguirá com jornada reduzida de trabalho para garantir a recuperação.
Sem a presença de Bolsonaro, crises do governo têm durado mais do que o esperado, prolongando o desgaste de imagem da nova gestão.
É o caso da fritura do novo líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), símbolo do descontentamento da Casa com a articulação política do Palácio do Planalto.
Partidos como DEM, PRB, PR, PP, PSD e o próprio PSL têm boicotado o líder, alvo de queixas ao Palácio do Planalto por ser inexperiente. Apesar das críticas, ele é defendido pelo governo.
"Ele tem demonstrado muita capacidade de trabalho e organização. Tenho certeza de que vai surpreender", disse o ex-deputado federal Leonardo Quintão, da Subchefia para Assuntos Parlamentares da Casa Civil.
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