Descrição de chapéu Legislativo Paulista

Veterano inicia 8º mandato na Assembleia sob suspeita e com respeito de adversários

Deputado do PTB famoso por frases de efeito, Campos Machado tem como foco a segurança

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São Paulo

“No dia da eleição, fui dormir crente que eu seria o deputado mais votado. Foi uma grande frustração ver a Janaina Pachoal.”

Quem ouve o deputado Campos Machado (PTB) falando assim das últimas eleições para a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo pensa logo que ele foi o segundo colocado em número de votos, na briga para ser o primeiro.

Mas Antonio Carlos de Campos Machado, 79, alcançou apenas o 19º lugar, com 115.580 votos. Janaina (PSL) teve 2 milhões. E esse é um dos segredos do deputado Campos Machado: a retórica e as frases de efeito.

“Posso até ser veterano, mas não sou velhaco.” “Na política não tem lugar para covarde.” “Tenho a doença do trabalho.” “Quero morrer como El Cid, em cima do cavalo”, capricha o político, que está entrando em seu oitavo mandato e é o deputado mais antigo da Casa.

O deputado estadual Campos Machado (PTB), que iniciará seu oitavo mandato no Legislativo paulista
O deputado estadual Campos Machado (PTB), que iniciará seu oitavo mandato no Legislativo paulista - Bruno Santos/Folhapress - Produção Daniela Ribeiro

Com 28 anos de atuação, principalmente nas áreas de segurança pública e justiça, Machado obviamente representa a velha política. Mas, vaidoso, não quer parecer velho, não. Pinta o cabelo e não revela a idade: “Não é questão de esconder. É que tenho por máxima o que disse o poeta inglês: ‘Os anos sabem de coisas que os dias não sabem'."

Seja qual for esse poeta inglês, o deputado se orgulha de seus discursos: “Eu era gago”, diz o advogado criminalista que sonhava em ser delegado. “Modéstia à parte, recebi oito prêmios como orador do estado.”

Esses discursos premiados defendem bandeiras como a da mudança da maioridade penal. “Eu acho que tem que ser 14 anos, mas vai ser aprovada a de 16. Dizer que uma pessoa de 14, 15 anos, na era da internet não sabe o que faz? Meu mote é: crime não tem idade”.

Curiosamente, a discussão de maioridade penal nem tem lugar na Assembleia Legislativa. É de competência federal, para ser debatida entre deputados e senadores no Congresso Nacional. Mas Machado não se importa, pois sabe que o assunto causa comoção.

“Desde a década de 1990 faço campanha pela diminuição da idade penal. Há uns 10 ou 12 anos, o Jair e o Flávio Bolsonaro me ajudaram em umas 12 barracas no Rio de Janeiro para colher assinaturas. No total, consegui 1 milhão de assinaturas para enviar a Brasília. É por isso que agora defendo o Flávio [hoje senador] dessas acusações aí. Ele não foi julgado ainda, mas foi linchado moralmente.”

Campos Machado faz parte de um grupo de deputados da velha guarda que costuma se queixar da diminuição de poder das assembleias estaduais após a Constituinte de 1988. “Ela retirou muitas prerrogativas nossas. Esta é a maior assembleia legislativa da América Latina e não somos tratados como tal. Não podemos ser submissos.”

Se muitos assuntos importantes são tratados apenas a nível federal, e outras ainda pelo município, o que sobra para os deputados estaduais? A resposta é: R$ 230 bilhões. Esse é orçamento do estado de São Paulo para 2019, e o que fazer com isso é a grande agenda fixa da Casa.

O destino de muito desse dinheiro já vem fixado por lei, com porcentagens que devem ser usadas em educação ou saúde, por exemplo. Mas tanto os deputados quanto o governador têm certa margem de manuseio. Assim, parte do arrecadado com o ICMS, ISS e IPVA todo ano é a grande fonte de discórdia entre os partidos, que querem puxar o máximo que podem para suas áreas de atuação.

Respeito

Machado tem o respeito dos adversários. “Temos uma relação cortês”, diz a líder do PT na Assembleia, Beth Sahão. “É muito experiente e sempre pronto para dialogar. São características dele. Mas estamos em lados opostos. Campos Machado ajudou a barrar diversas CPIs e sempre defendeu o governo tucano em sua sanha de privatização, às vezes de forma mais veemente que os próprios membros do PSDB.”

“Defendo todo dia o Geraldo Alckmin, em qualquer circunstância. Tenho o péssimo defeito de ser claro e de ter um lado só”, avisa ele.

Por seu lado, Machado é o líder do seu partido na assembleia, mas esse cargo o permite liderar apenas um colega, Roque Barbieri, o único outro deputado do PTB eleito entre os 94 que compõem a 19ª legislatura do estado.

“Duvido que um líder de partido tenha tantas ações modernas como as minhas”, diz o político, que elencou três exemplos de projetos seus aprovados dos quais se orgulha.

1) Uma lei que dá incentivos fiscais a empresas que tenham 30% de seus funcionários com idades acima de 40 anos (“Essa é a minha medalha, foi copiada em outros estados”).

2) Outra para que adventistas pudessem ter horários alternativos na labuta (“Eles não podem trabalhar do pôr do sol de sexta ao pôr do sol de sábado e por isso não conseguiam alguns empregos”).

3) Gratuidade no transporte público para maiores de 60 anos (“Antes era 65”).

E o que mais vem por aí, deputado? Um projeto para banir a venda e uso de álcool em lugares públicos como jardins, praças e quiosques.

“Dentro dos bares podem continuar vendendo, é claro. Tenho muita ligação com o sindicato de bares e restaurantes. O problema é que do álcool para a maconha é 1 km de distância. Da maconha para a cocaína é 1,5 km. Da cocaína para o crack são 10 metros. E ninguém saiu do crack.”

Outra coisa que vem por aí são duas investigações em andamento no Ministério Público. Uma desde o ano passado, por acusação de enriquecimento ilícito devido a movimentações atípicas de R$ 6,1 milhões.

Outra vem de 2016, quando Campos Machado foi acusado de cobrar de funcionários públicos a indicação para cargos na Secretaria Estadual de Justiça e na Assembleia.

“Todo o meu patrimônio é justificado no Imposto de Renda, não tem nada equivocado. Essas quantias guardadas são decorrentes de 40 anos de advocacia”, justificou o deputado. Sobre a segunda, disse ser “mais um lance de campanha orquestrada, que pode facilmente ser desmentido através de consulta a todos os funcionários, indistintamente, que comigo trabalharam e trabalham, nesses meus quase 30 anos e oito mandatos.”

“Tive um império de advocacia”, lembra ele, que conta ter mantido escritórios em São Paulo, Piracicaba, Campinas, Ribeirão Preto, Nova York, Washington e Milão. Manteve escritórios de advocacia e consultoria jurídica e chegou a ter 70 funcionários. Prestou consultoria a 400 policiais civis, ele conta, sempre sem cobrar, inclusive daqueles que eram acusados de serem do esquadrão da morte. “Fui advogado de muitos deles”, afirma.

Filho do dono de um cartório da pequenina Cerqueira César, vizinha a Avaré, onde possui uma rádio (a Interativa FM), Machado resiste bravamente às inovações tecnológicas do novo milênio.

Computador? “Não tenho.” Netflix? “Ouvi dizer.” Celular? “Rose, qual é o meu celular?”, grita para sua secretária, que milita no PTB desde 1995. “Não sei mexer nele. Acha que sou troglodita? Retrógrado? Basta ver minha vida para ver que não.”

Com jornalistas, tem pé atrás. “De vez em quando você fala tiro ao alvo, e eles entendem tiro ao Álvaro.”

E agora, quando inicia seu oitavo mandato na Assembleia, Machado se prepara também para um novo casamento (se divorciou há um ano e meio e tem três filhos): “O homem tem a idade da mulher que ama. Não digo quanto, mas ela é nova. Relativamente nova. Foi professora, empresária e agora é a mulher do chefe”.


Perfil

Idade 79 anos

Nascimento Cerqueira César (SP)

Partido PTB (coligação PSB/PSC/PPS/PTB/PV)

Estado civil Divorciado

Cor/raça Branca

Grau de instrução Superior completo

Ocupação Deputado

Reeleição Sim

Descrição dos bens declarados do parlamentar Veículos, casas, apartamento, terrenos, salas ou conjuntos, outros bens imóveis, caderneta de poupança, aplicação de renda fixa, quotas ou quinhões de capital

Valor declarado dos bens  R$ 1.800.886,15

Valor declarado em 2014 R$ 8.797.676,12

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