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Não é possível determinar popularidade de Bolsonaro só por seu alcance em redes sociais

Popularidade de qualquer presidente deve ser medida por meio de pesquisas de opinião pública

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São Paulo

É falsa a afirmação de que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) é o “quarto governante mais popular do mundo”, como diz um texto que recebeu mais de 150 mil interações no Facebook desde quinta-feira (3).

O conteúdo usa números de seguidores em redes sociais para atestar a popularidade de Bolsonaro. A metodologia é questionada por profissionais de marketing político e de pesquisas de opinião pública ouvidos pelo Comprova.

Segundo os especialistas, não é possível avaliar a popularidade de Bolsonaro —ou de qualquer outro presidente usando números de seguidores—, já que nem todos os brasileiros têm conta em redes sociais ou mesmo acesso à internet. Além disso, entre os seguidores, pode haver contas de perfis falsos e robôs.

Foto de Jair Bolsonaro vestindo terno, sorrindo e acenando para pessoas ao redor, é acompanhada do título "Presidente Bolsonaro é o quarto governante mais popular do mundo”. Em primeiro plano, etiqueta digital onde está escrito "falso".
O conteúdo usa números de seguidores em redes sociais para atestar a popularidade de Bolsonaro. - Reprodução/Projeto Comprova

Eles defendem os métodos usados pelos institutos de pesquisa, que buscam uma amostra de pessoas que seja representativa da população em idade eleitoral, partindo de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), por exemplo. ​

Levantamento da quantidade de seguidores de Bolsonaro feito pelo Comprova chegou a resultados diferentes dos mencionados no texto que viralizou. As diferenças estão no número de seguidores nas redes —sobretudo no Facebook, onde foram identificados 1,4 milhões de seguidores a menos.

Já na quantidade de seguidores angariados nas primeiras 24 horas após o discurso na Assembleia Geral da ONU em setembro, foram identificados 10 mil seguidores a mais do que o mencionado pela publicação.

Para o Comprova, falso é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. O texto sobre a popularidade de Bolsonaro foi publicado no dia 3 de outubro pelo site Crítica Nacional.

O link foi compartilhado no Facebook por grupos e páginas como "Bolsonaro Opressor 2.0", "Por um Brasil Melhor" e "Somos Todos Bolsonaro".

O que dizem os especialistas

Para o consultor em marketing político Darlan Campos, o número de rede social não é o melhor método para medir popularidade: “A meu ver, o que foi usado é impreciso porque na verdade, se os números forem corretos, ele é na verdade o quarto com maior alcance na internet. Não necessariamente o mais popular.”

Segundo ele, “hoje, o índice de conectividade dos brasileiros está na casa dos 70%, ou seja cerca de um quarto da população não está nesse meio. Então é uma medição que não pega todo mundo. Por isso, qualquer métrica digital não é mais abrangente e precisa que um método científico, estatístico e com grau de compreensão da realidade muito mais profundo, muito mais correto, que são os das pesquisas.”

O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, também defende a tese de que não dá para medir a popularidade de um presidente apenas pelas redes sociais.

"Você já está excluindo, com uma amostra feita a partir de redes sociais, uma parcela significativa da sociedade. O nosso método é enviar pesquisadores para as cidades sorteadas em determinada amostra. Esses pesquisadores fazem as entrevistas de acordo com diversos critérios rígidos que nós determinamos, aplicando os questionários pessoalmente", afirmou Paulino.

O levantamento: chefes de Estado com mais seguidores

Os números divulgados pelo Crítica Nacional são atribuídos a uma pesquisa feita pela empresa Mr. Predictions —medição de engajamento digital de chefes de Estado pelo mundo, que ranqueia os dez com maior número de seguidores em redes sociais.

Sobre o número total de seguidores, somadas as quatro redes sociais já citadas, a postagem do Crítica Nacional aponta o presidente Jair Bolsonaro como o “quarto governante mais popular do mundo”, com 33 milhões de seguidores.

Para tanto, o site Crítica Nacional utiliza a lista dos dez chefes de Estado com mais seguidores, na qual Bolsonaro figura em sexto lugar O site desconsidera o Papa Francisco e a rainha consorte da Jordânia, Rania Al Abdullah, que ocupam, respectivamente, 3º e 5º lugares tanto no ranking feito pela Mr. Predictions quanto no levantamento feito pelo Comprova.

O levantamento feito pelo Comprova na plataforma SocialBlade encontrou os seguintes números de seguidores:

  1. Primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi (127,9 milhões)
  2. Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (104,5 milhões)
  3. Papa Francisco (55,2 milhões)
  4. Presidente da Indonésia, Joko Widodo (48,8 milhões)
  5. Rainha da Jordânia, Rania al Abdullah (33,2 milhões)
  6. Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (31,5 milhões)
  7. Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan (29,6 milhões)
  8. Primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan (22,2 milhões)
  9. Primeiro-ministro dos Emirados Árabes, Mohammed bin Rashid Al Maktoum (18,5 milhões)
  10. Primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau (14,5 milhões)

Segundo levantamento da SocialBlade, utilizando dados de 1º de outubro, no dia 29 de setembro, Bolsonaro tinha 31,5 milhões de seguidores (5,1 milhões no Twitter, 9,8 milhões no Facebook, 13,9 milhões no Instagram e 2,56 milhões no Youtube).

Embora a postagem da Crítica Nacional se baseie em coleta de dados que teria sido feita no dia 1º de outubro de 2019, a publicação original mais recente da Mr. Predictions sobre popularidade de chefes de Estado leva em conta dados coletados no dia 7 de agosto.

Para as contas no Instagram que não foram classificadas como “business” por seus donos, não foi possível verificar o número de seguidores no dia 1º de outubro. Nesses casos, foram considerados os números do dia 7 de outubro.

Impacto do discurso da ONU

O site Crítica Nacional aponta que Bolsonaro ganhou 23 mil seguidores nas 24 horas após o discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, no último dia 24 de setembro.

O Comprova também checou o número de seguidores nestes dias e identificou acréscimo maior, totalizando cerca de 33 mil seguidores a mais entre 24 e 25 de setembro.

No Twitter, foram cerca de 13 mil novos seguidores e no Youtube, 10 mil. Já em seu perfil no Instagram teve aumento de 8.000 seguidores e o menor foi no Facebook, em que ganhou pouco mais de 2.000 seguidores.

Queda da aprovação

Pesquisa nacional feita pelo Datafolha em agosto apontou queda da popularidade de Jair Bolsonaro (PSL) em pouco menos de dois meses.

A reprovação do presidente subiu de 33% para 38% em relação ao levantamento anterior do instituto, feito no início de julho, e diversos indicadores apontaram deterioração de sua imagem. Foram ouvidas 2.878 pessoas com mais de 16 anos em 175 municípios.

A aprovação de Bolsonaro também caiu, dentro do limite da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos, de 33% em julho para 29% agora.

A avaliação do governo como regular ficou estável, passando de 31% para 30%.

Na pesquisa de julho e na anterior, de abril, estava consolidado um cenário em que o país se dividia em três partes iguais: quem achava Bolsonaro ótimo ou bom, ruim ou péssimo e regular.

Em entrevista em setembro, na data em que a pesquisa foi publicada, ao deixar o Palácio da Alvorada, Bolsonaro questionou se alguém ainda acredita no instituto de pesquisa. “Alguém acredita no Datafolha? Você acredita em Papai Noel? Outra pergunta”, disse.

Na entrevista, em seguida, o presidente foi lembrado pela Folha que, no início daquele mês, ele mesmo falou em dados compatíveis do instituto em pesquisa à época sobre a rejeição ao garimpo em áreas indígenas.

“De vez em quando, quando a pesquisa não é politica, há uma tendência de fazer a coisa certa. Há uma tendência”, disse Bolsonaro na ocasião.


Participaram dessa apuração A Gazeta, Jornal Correio, UOL e SBT.

Projeto Comprova

O Comprova é uma coalizão de veículos jornalísticos que visa identificar, checar e combater rumores, manipulações e notícias falsas sobre políticas públicas. É possível sugerir checagens pelo WhatsApp da iniciativa, no número (11) 97795-0022.

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