O presidente Jair Bolsonaro criticou pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda-feira (2) que apontou o aumento de sua reprovação, inclusive entre a população mais rica.
Em entrevista, ao deixar o Palácio da Alvorada, ele questionou se alguém ainda acredita no instituto de pesquisa. “Alguém acredita no Datafolha? Você acredita em Papai Noel? Outra pergunta”, disse.
Na entrevista, em seguida, o presidente foi lembrado pela Folha que, no início deste mês, ele mesmo falou em dados compatíveis do instituto em pesquisa à época sobre a rejeição ao garimpo em áreas indígenas.
“De vez em quando, quando a pesquisa não é politica, há uma tendência de fazer a coisa certa. Há uma tendência”, disse Bolsonaro nesta segunda-feira.
Mais tarde, Bolsonaro distorceu dados em uma nova crítica ao Datafolha, desta vez no Twitter.
Ao postar uma imagem do site do PT com uma pesquisa feita durante a eleição, o presidente escreveu: "Segundo o mesmo Datafolha que diz que eu seria derrotado se as eleições fossem hoje, eu perdi as eleições de 2018. Muito confiável!".
O levantamento, porém, foi feito entre os dias 26 e 28 de setembro, cerca de uma semana antes do primeiro turno, e apontava crescimento nas intenções de voto do petista Fernando Haddad.
Em um cenário de segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, ainda hipotético àquela altura da campanha, o petista teria 45% dos votos, enquanto o candidato do PSL obteria 39%. A última pesquisa do Datafolha antes do segundo turno apontou a vitória de Bolsonaro, com 55% dos votos válidos, ante 45% do petista —mesmos índices do resultado final.
Também nesta segunda-feira, em uma rede social, o secretário de Comunicação do governo, Fábio Wajngarten, disse ser "absolutamente inaceitável" um instituto de pesquisa pertencer à um grupo de comunicação, numa referência ao Datafolha e à Folha.
"Há um absoluto conflito de interesse. Há que se criar indicadores de performance de quem acerta ou erra", afirmou o assessor de Bolsonaro.
Wajngarten, sócio-fundador das consultorias FW Comunicação e Controle da Concorrência, articulou em 2013 a vinda ao país do instituto alemão GfK, para estabelecer um concorrente ao Ibope na medição de audiência. O projeto, financiado pelas redes SBT, Record, RedeTV! e Band e que tinha a FW como parceira, foi descontinuado em 2017.
Em evento no Palácio dos Bandeirantes, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também foi questionado sobre a queda de popularidade do presidente.
"Pergunte ao povo", respondeu Doria. "A pesquisa foi feita pelo Datafolha com mais de 3.500 pessoas. Pergunte à população por que ela está avaliando de forma diferente o presidente da República", afirmou. A pesquisa, porém, ouviu 2.878 pessoas.
Ano passado, o tucano foi eleito em campanha que colava sua imagem à de Bolsonaro. No entanto, passou a se afastar dele nos últimos meses, enquanto constrói uma possível candidatura à Presidência em 2022.
A pesquisa
Pesquisa nacional feita pelo Datafolha aponta a erosão da popularidade de Bolsonaro em pouco menos de dois meses.
A reprovação do presidente subiu de 33% para 38% em relação ao levantamento anterior do instituto, feito no início de julho, e diversos indicadores apontam uma deterioração de sua imagem. Foram ouvidas 2.878 pessoas com mais de 16 anos em 175 municípios.
A aprovação de Bolsonaro também caiu, dentro do limite da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos, de 33% em julho para 29% agora. A avaliação do governo como regular ficou estável, passando de 31% para 30%.
A perda de apoio de Bolsonaro também foi acentuada entre aqueles mais ricos, com renda mensal acima de 10 salários mínimos. Neste segmento, a aprovação ao presidente caiu de 52% em julho para 37% agora —bastante significativa, ainda que se mantenha acima da média.
A pior avaliação do mandatário é entre os mais pobres, que ganham até dois salários mínimos (22%), os mais jovens (16 a 24 anos, 24%) e com escolaridade baixa (só ensino fundamental, 26%).
Na pesquisa de julho e na anterior, de abril, estava consolidado um cenário em que o país se dividia em três partes iguais: quem achava Bolsonaro ótimo ou bom, ruim ou péssimo e regular.
De dois meses para cá, o presidente viu aprovada na Câmara a reforma da Previdência, sua principal bandeira de governo. Ato contínuo, iniciou uma escalada de radicalização, acenando a seu eleitorado mais ideológico com uma sucessão de polêmicas.
Neste período, Bolsonaro sugeriu que o pai do presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) havia sido morto por colegas de luta armada na ditadura, indicou o filho Eduardo para a embaixada brasileira em Washington e criticou governadores do Nordeste —a quem também chamou de "paraíbas".
O último item coincide com a região em que mais disparou a rejeição a Bolsonaro. O Nordeste sempre foi uma fortaleza do voto antibolsonarista, mas seu índice de ruim e péssimo subiu de 41% para 52% na região de julho para cá.
Voltando ao corte regional, a disparada de rejeição no Nordeste é acompanhada também em áreas tradicionalmente bolsonaristas. A região Sul, por exemplo, teve um aumento de 25% para 31% entre os que avaliam o governo como ruim ou péssimo.
As mulheres seguem rejeitando mais o mandatário do que os homens: 43% delas o acham ruim ou péssimo, ante 34% dos homens.
Com tudo isso, Bolsonaro segue sendo o presidente eleito mais mal avaliado em um primeiro mandato, considerando FHC, Lula e Dilma.
Há outros indicativos dos motivos do azedume da população com o presidente, cujo governo ganhou nota 5,1 dos entrevistados.
Nada menos que 44% dos brasileiros não confia na palavra do presidente, enquanto 36% confiam eventualmente e 19%, sempre.
O estilo presidencial, que o entorno de Bolsonaro tenta vender como autêntico e direto, não está lhe rendendo também boa avaliação.
É preponderante a percepção de que o presidente nunca se comporta conforme o cargo exige. Subiu de 25% para 32% o contingente que pensa assim —em abril, eram 23%. Já os que acham que Bolsonaro cumpre a liturgia do cargo caíram de 22% para 15%, ante 27% em abril.
Ao mesmo tempo, cai a expectativa sobre o governo. Acreditavam em abril que Bolsonaro faria uma gestão ótima ou boa à frente 59%. Em julho, eram 51% e agora, 45%. Na mão contrária, creem numa administração ruim ou péssima 32% —eram 24% em julho e 23%, em abril.
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