Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Após Datafolha, Bolsonaro é cobrado por melhora na economia e mudança na articulação

Lenta retomada ajudou a frear perda de popularidade, mas desemprego e alta na inflação pesam mais para a população

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Brasília

O resultado da mais recente pesquisa Datafolha aumentou a pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro para que melhore a articulação política no Congresso e apresente resultados mais concretos de recuperação da economia.

O levantamento publicado neste domingo (8) mostrou que a lenta recuperação da atividade econômica ajudou o presidente ​a frear a perda de popularidade. 

A taxa de aprovação ao seu governo oscilou de 29% para 30%, no período de agosto a dezembro. O núcleo político do governo avaliou o resultado como animador. O grupo ponderou, no entanto, que, caso queira disputar a reeleição com chances de vitória, o presidente precisa reduzir o índice de reprovação, hoje em 36%.

Para isso, cobram do ministro da Economia, Paulo Guedes, uma recuperação mais sólida da economia, com um crescimento maior do PIB (Produto Interno Bruto) e reduções expressivas tanto do índice de desemprego como da inflação.

A taxa de desemprego vem diminuindo, com a criação de novos postos de trabalho, mas nas regiões mais pobres do país mais da metade dos empregados ocupa vagas informais, sem carteira assinada. Em novembro, o preço da carne elevou a inflação para 0,51%, o pior novembro em quatro anos.

Na avaliação de assessores presidenciais, o crescimento da economia, mesmo que lento, é um indicador importante, mas a inflação e o desemprego têm peso maior na percepção da população. Para eles, sem uma melhora nesses dois índices, a reprovação não cairá e a aprovação pode diminuir em longo prazo.

Um auxiliar palaciano lembra que a população costuma ser mais tolerante com um presidente em início de mandato. Ele pondera, no entanto, que a "paciência pode diminuir" caso Guedes não viabilize um ritmo maior de crescimento "já em 2020".

O Datafolha mostrou, por exemplo, que a maioria da população percebe que a retomada da economia ainda é pouco vigorosa. Para 55%, a crise que o Brasil atravessa deve demorar para acabar, e o país não voltará a crescer com força tão cedo.

No início da noite, o presidente não quis comentar o resultado da pesquisa. "Se dependesse do Datafolha, eu não seria presidente. Me desculpa, mas não comento", disse.

Apesar das declarações do mandatário de que, segundo o Datafolha, ele não seria presidente, a última pesquisa do instituto antes do segundo turno das eleições de 2018 apontou a vitória de Bolsonaro, com 55% dos votos válidos, ante 45% de Fernando Haddad (PT) —​mesmos índices do resultado final.

Mais cedo, o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, disse que o presidente fala há muito tempo "sobre sua descrença em pesquisas de opinião".

"Como de costume, o presidente não ilumina nenhuma opinião. Ele já havia falado há muito sobre sua descrença em pesquisas de opinião. Não seria diferente em relação a essa pesquisa recente", disse.

A cobrança por uma recuperação econômica robusta, de preferência já no ano que vem, não é feita apenas pelo núcleo político do Planalto.

No Congresso, até mesmo deputados e senadores simpáticos ao governo cobram de Guedes melhores resultados. Eles ainda exigem que o presidente faça mudanças na condução da articulação política do Executivo com o Legislativo, avaliada como atrapalhada e ineficiente por líderes partidários.

Membros de cúpula dos partidos do centrão ouvidos pela Folha dizem que mesmo com todas as críticas feitas ao longo do ano não houve melhora significativa. 

Eles dizem, por exemplo, que as siglas veem com ceticismo a possibilidade de o governo pagar emendas de bancada, como as que serão destinadas por crédito complementar em um projeto que pode ser votado nesta semana. 

Caso isso não seja cumprido, pode azedar ainda mais a relação entre congressistas e Executivo.

As reclamações vêm aumentando ao longo dos meses. O líder do PP, deputado Arthur Lira (AL), afirmou na semana passada durante entrevista à Folha e ao UOL que a articulação do governo com o Congresso é nula.

Os congressistas também questionam a demora do governo para mandar projetos de temas considerados prioritários, como a reforma administrativa e tributária. 

Elas só devem chegar ao Congresso em 2020, ano de eleição municipal em que tradicionalmente os trabalhos nas Casas ficam mais lentos —algo que pode comprometer a aprovação de projetos com resistência de parte do plenário, como é o caso das reformas. 

Nesta segunda-feira (9), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que os resultados são bons para que Bolsonaro compreenda "que essa é a agenda que vai tirar o Brasil da crise". 

"São louros de todos, acho que todos no Brasil compreenderam que só há um caminho para o Brasil sair da situação que vem passando nos últimos anos, que é uma recuperação econômica", afirmou após evento em São Paulo. 

"Ótimo que ele esteja tendo bons resultados ou pelo menos controlando o crescimento da rejeição, acho que é bom para ele compreender que essa é a agenda que vai tirar o Brasil da crise e que vai melhorar a avaliação deles."

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