O PT reconhece que está atrás da direita na guerra da comunicação e chegou à conclusão de que é hora de reagir. Um projeto batizado internamente de PT Digital está em discussão no partido e deve ser implementado até o mês de abril.
A ideia principal é centralizar a estratégia de comunicação, hoje tida como descoordenada e dispersa entre diversos produtores de conteúdo dentro e fora da estrutura do partido.
"Há um domínio da direita nas redes sociais que nos preocupa", diz Jilmar Tatto, secretário nacional de Comunicação do PT. Para ele, falta unificar a mensagem política em todo o país.
"O discurso do militante no menor diretório do interior tem de conversar com as prioridades do partido nacionalmente. Se faltar giz na escola dele, é preciso relacionar isso à destruição do Estado pelo atual governo", afirma Tatto.
O projeto, definido como um dos mais ambiciosos na área de comunicação que o partido já promoveu, foi coordenado pelo ex-prefeito paulistano Fernando Haddad.
Liderando uma equipe de cerca de 15 pessoas, Haddad trabalhou durante cerca de quatro meses para formular a iniciativa.
Na semana passada, o plano foi entregue à presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que elegeu a comunicação como uma das prioridades de seu segundo mandato à frente do partido, iniciado em novembro.
O projeto agora deverá ser discutido pela Executiva Nacional petista, provavelmente no mês de março. Se aprovado, começaria a ser implantado de imediato.
Haveria uma espécie de coordenação central de comunicação, ligada diretamente à direção nacional, com o objetivo de unificar a mensagem para dentro e para fora do partido. Estão previstos investimentos em contratação de profissionais de comunicação e em tecnologia.
Haddad incluiu no projeto uma proposta de orçamento, a ser discutida pela Executiva. O partido não revela qual seria o tamanho do gasto, mas diz que é modesto, tendo em vista a situação delicada das finanças petistas desde que deixou o governo federal, em 2016.
Parte do sistema, diz o PT, seria autossustentável, com o desenvolvimento de um modelo de arrecadação de recursos online. Isso daria mais agilidade ao pagamento de mensalidades, por meio de um aplicativo a ser desenvolvido.
Prioridade inevitável seria investir em conteúdo para redes sociais, hoje um território dominado pelas fileiras bolsonaristas.
Uma medida dessa desvantagem é o número de seguidores do presidente Jair Bolsonaro no Twitter, hoje em 5,9 milhões, mais de quatro vezes do que tem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com 1,4 milhão.
No final de janeiro, uma pesquisa da consultoria Quaest mostrou Bolsonaro em segundo lugar num ranking que mede a popularidade em redes sociais, com índice 66,24 numa escala de 0 a 100, bem à frente de Lula (29,09). Ambos estavam atrás de Luciano Huck (75,36).
Petistas admitem que não têm sabido responder à agenda imposta por figuras como o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, ou o filósofo Olavo de Carvalho, que comandam inúmeros influenciadores digitais conservadores.
Uma dificuldade para a comunicação petista será aproximar diversos órgãos e entidades que hoje atuam de forma descoordenada.
Além do PT, que tem uma agência de notícias, produzem conteúdo a Fundação Perseu Abramo (braço de estudos do partido), entidades como CUT e MST e veículos alinhados, como Jornalistas Livres, Mídia Ninja e Brasil de Fato.
Nada se compara, no entanto, ao desafio de incluir nessa estratégia o maior produtor de conteúdo do partido, o ex-presidente Lula, notoriamente imprevisível na forma de se expressar. O Instituto Lula tem sua própria equipe de comunicação e opera de forma autônoma do PT.
Segundo Tatto, a conjuntura política obrigou o partido a se mexer. "Se o Haddad tivesse sido eleito presidente, talvez não estivéssemos tão preocupados com isso, mas a realidade com Bolsonaro nos deu esse desafio. Nossa comunicação política não pode ser feita apenas durante as campanhas eleitorais, tem de ser permanente", afirmou.
O PT, nos próximos meses, deve focar suas críticas a Bolsonaro em três frentes: o ataque à democracia promovido pelo governo federal, a agenda contra direitos humanos simbolizada pelo pacote anticrime do ministro Sergio Moro (Justiça) e a precarização do trabalho e do emprego, em razão da política econômica de Paulo Guedes (Economia).
O partido acredita que, com uma comunicação forte e atuantes nesses temas, poderá fazer frente às investidas do governo e da direita.
Haddad afirma que o partido quer enfrentar a máquina de comunicação de Bolsonaro sem repetir as mesmas estratégias dele.
"Não vamos espalhar fake news, por ser algo eticamente incorreto e taticamente ineficaz. Isso legitima um campo que o Bolsonaro domina, fortalece essa lógica", diz o ex-prefeito, que foi candidato a presidente em 2018
Segundo Haddad, a dianteira da direita nas redes sociais já foi maior. "Hoje, está um pouco mais equilibrada, o que é natural, dado o desgaste desse governo", diz.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.