Não estou preocupado com panelaço, diz Bolsonaro após três dias seguidos de protestos

Presidente tem sido alvo de manifestações em diferentes regiões do país

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira (20) que não está preocupado com os seguidos panelaços promovidos contra ele nos últimos dias em diferentes regiões do país.

"Eu não estou preocupado com o panelaço. Eu estou preocupado com o vírus, com a saúde, com o emprego do povo brasileiro", afirmou, em entrevista na frente do Palácio da Alvorada. "Qualquer panelaço, qualquer coisa que venha a acontecer é manifestação democrática. Toca o barco", disse.

"Se alguém marcar um panelaço contra a Globo, vocês vão ver que vai ser ensurdecedor nas cidades. Eu não vou marcar um panelaço contra a Globo. Não é essa a minha preocupação. Mas, se marcarem contra a Globo e contra algumas autoridades que temos por aí, certo, vai ter um som ensurdecedor. Eu não quero entrar nessa briga. A minha briga é outra. É a saúde, é a vida, é o emprego, é a segurança do povo brasileiro", completou Bolsonaro.

O presidente Jair Bolsonaro, de máscara, durante entrevista coletiva para falar sobre coronavírus
O presidente Jair Bolsonaro, de máscara, durante entrevista coletiva para falar sobre coronavírus - Pedro Ladeira/Folhapress

Na noite desta sexta-feira, Bolsonaro foi alvo de mais um panelaço em diversas cidades do país.

Foi o quarto ato seguido do tipo contra o presidente. Os protestos nas janelas foram convocados em redes sociais e impulsionados pela reação de Bolsonaro à crise do coronavírus, que afetou a rotina de milhões de brasileiros e deve ter duro impacto na economia.

Nesta sexta, houve esse tipo de manifestação em bairros como Tijuca e Laranjeiras no Rio. Em São Paulo, o panelaço ocorreu em Santa Cecília, na região central. Também houve uma sequência de aplausos em homenagem aos profissionais de saúde.

Bolsonaro, que já se referiu à dimensão da doença como "fantasia", dizendo haver "histeria" da população, tentou reagir na quarta, após perder apoio inclusive entre alas conservadoras. Durante o ato de domingo (15), o presidente apertou a mão e cumprimentou uma série de apoiadores, além de ter tirado selfies e segurado telefones celulares e devolvido a seus donos.

O presidente tem cobrado o ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) a adotar um discurso mais afinado ao do Palácio do Planalto no combate à pandemia. Para ele, o tom adotado pela saúde tem gerado histeria.

Modulando seu discurso público, o presidente passou a reconhecer que a situação é grave, embora não tenha demonstrado arrependimento de ter participado de ato no último domingo, contrariando recomendação do Ministério da Saúde.

Reportagem da Folha desta sexta-feira (20) mostrou que, se eleitores de esquerda e de centro se uniram nas redes e no panelaço contra Bolsonaro, os partidos que representam esses segmentos também estão na mesma página hoje —focados no combate ao coronavírus—, mas divergem sobre o futuro do governo.

Enquanto líderes de siglas de esquerda veem o suporte popular a Bolsonaro minguar por ter desdenhado do coronavírus a ponto de mobilizar a sociedade e criar condições de impeachment quando a pandemia passar, os caciques do centro evitam o exercício de futurologia e preferem o apoio crítico ao presidente do que migrar de vez para a oposição.

Na semana em que Bolsonaro incentivou aglomerações em atos contra o Congresso e o Judiciário e a favor de seu governo, além de quebrar ele próprio as recomendações de isolamento para apertar a mão de apoiadores, o bolsonarismo viveu fissuras. Janaina Paschoal (PSL) e parte dos conservadores abandonaram o barco de vez.

Coroando a mais grave crise política de Bolsonaro até aqui, na quarta, o panelaço contra o governo atraiu a classe média e foi mais intenso do que o convocado a favor do presidente. Líderes partidários, no entanto, não pretendem explorar a crise política em meio à crise de saúde pública e econômica a que o mundo está submetido. Eventual impeachment foi engavetado por ora até por setores da esquerda.

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