Descrição de chapéu Coronavírus

Bolsonaro acerta ao equiparar economia e saúde, diz governador de Roraima, aliado do presidente

Antonio Denarium diz que alguns governadores só querem ver circo pegar fogo e defende retomada parcial do trabalho

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São Paulo

Escudeiro de primeira hora de Jair Bolsonaro (sem partido), o governador de Roraima, Antonio Denarium (sem partido), defende o presidente das críticas de que tem sido alvo por seus discursos nos quais relativiza a importância do isolamento social no combate ao coronavírus.

Para o pecuarista, que recentemente deixou o PSL para acompanhar Bolsonaro no partido que tenta fundar, a Aliança pelo Brasil, o presidente acerta ao equilibrar em seus discursos a preocupação com as consequências para a saúde pública e com o impacto econômico.

"É uma conta que tem que fechar dos dois lados, produção e saúde", afirma, em entrevista à Folha.

Cada vez mais sozinho na turma dos governadores que seguem ao lado do presidente, ele não vê motivo para abandonar o capitão reformado. "Vejo nele um homem honesto e trabalhador, sem denúncias de corrupção."

Em Roraima, estado com cerca de 600 mil habitantes, Denarium tem liberado aos poucos o comércio. Desde o final da semana passada, no embalo do movimento de incentivo da retomada dos comércios promovido por Bolsonaro, liberou serviços essenciais, como postos de gasolina e supermercados, e atividades por meio de delivery e drive thru.

Até o momento há 22 casos confirmados de contaminação pelo novo coronavírus no estado da região Norte. "Tenho que aliar desenvolvimento econômico e a preservação da vida da população", completa.

O governador de Roraima, Antonio Denarium, em encontro com o presidente Jair Bolsonaro
O governador de Roraima, Antonio Denarium, em encontro com o presidente Jair Bolsonaro - Divulgação/Presidência da República

O sr. é um dos poucos governadores que seguem como apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. O que tem achado da postura dele na administração da crise do coronavírus? O presidente tem uma personalidade muito forte. Ele é autêntico com o raciocínio dele, fala o que pensa. A postura dele tem mudado, assim como o comportamento e o entendimento quanto à orientação médica da OMS.

Entendo o ponto de vista dele, muito preocupado com a crise econômica, e além do mais está preocupado com a vida das pessoas. Muitas vezes a fome mata mais gente que o coronavírus. Ele está preocupado com o colapso financeiro e de precisar muitos anos para recuperação. Continuo do lado do presidente e fazendo a minha parte em Roraima, preocupado com a vida das pessoas e com a parte econômica.

Assumi o estado com quatro meses de salários atrasados, greve das polícias, todas as contas bloqueadas. Desde fevereiro de 2019 que pago a folha de pagamento dos servidores dentro do mês.

Somos o único estado do Brasil que vai antecipar a primeira parcela do 13° salário. Agora a arrecadação do estado caiu 50% com a crise do coronavírus. Se a gente não arrecadar, em maio ou junho já não vou mais pagar em dia.

Como está funcionando o comércio em Roraima? Liberamos apenas as atividades essenciais, como posto de gasolina e supermercado. Estão funcionando apenas em esquema de drive thru e delivery, com instruções para fornecimento de álcool em gel, distância entre pessoas, sem formar aglomerações. Os restaurantes que estão funcionando não têm salão, só pode marmitex. É uma reabertura parcial. Atividades como cabeleireiro, academia, lojas de roupas, que demandam contato físico, não foram liberadas.

O sistema de saúde de Roraima está preparado para um aumento de demanda, caso necessário? No nosso hospital geral, temos 40 leitos de UTI. Já contratamos um hospital particular com mais 70, 80 leitos, sendo 50 deles de UTI. Contratamos mais 40 leitos de retaguarda, de maternidade, para atender mulheres. Fizemos um acordo de cooperação técnica com o Exército. Criamos com eles a área de proteção e cuidados, para atender brasileiros e estrangeiros.

Está sendo construída a estrutura do hospital de campanha, que terá até 1.200 leitos, sendo 80 leitos de UTI. Essa estrutura será administrada em parceria entre Exército e governo. Também estamos colocando no nosso estádio Canarinho 80 leitos de retaguarda. É um estádio novo, inaugurei há um mês.

Como o sr. vê essa troca de farpas entre o presidente e os governadores? Não é saudável para o Brasil, em um momento de crise, ter conflitos políticos. Agora é hora da união, de esquecer o problema político e as ideologias políticas e se juntar para um objetivo só: restabelecer a saúde da população no enfrentamento do coronavírus. Quando acabar isso aí a gente pensa em eleição para prefeito e para governador e para presidente. Não é o momento de ter conflito político por ideologia política. A briga política não vai melhorar a vida da população. O que tenho conversado com os governadores é a harmonia.

O sr. acha que a briga tem relação com eleições? Vamos dizer que é uma briga por causa de ideologia política. Tem um grupo que trabalha pela saúde. Tem outro que trabalha pela economia. Tem outro que olha os dois. E tem outro que quer ver o circo pegar fogo.

Qual grupo quer ver o circo pegar fogo? Prefiro não fazer comentário.

O grupo de governadores que apoiava o presidente já foi maior. Recentemente, João Doria (PSDB-SP), Wilson Witzel (PSC-RJ) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) romperam com ele. Por que o senhor continua como um dos últimos que seguem Bolsonaro e defendem as diretrizes dele no combate ao coronavírus? Continuo apoiando porque vejo nele um homem honesto, trabalhador, está combatendo as mazelas que aconteceram no Brasil durante anos. Não teve nenhuma denúncia de corrupção até hoje. Estarei com ele até o fim.

Também em Roraima estou mudando a forma de trabalhar. Estamos aquecendo a economia, o estado crescendo, pagando as contas em dia. Coloquei o estado para funcionar. Tínhamos quatro meses de salários atrasados, resolvi tudo, comecei a pagar em dia. Estou construindo estradas, pontes, construindo hospitais e presídios novos, recuperando estradas vicinais, retomando obras paradas. Estamos conseguindo trabalhar.

O presidente Bolsonaro está acabando com os entraves. A reforma da Previdência, por exemplo, nenhum dos últimos presidentes havia conseguido. Bolsonaro conseguiu. Temos que fazer a reforma administrativa e outra tributária agora. Temos que pensar em trabalhar, produzir e desenvolver e, claro, proteger a vida das pessoas.

Aqueles no grupo de risco, com doenças pré-existentes, não vão trabalhar. Isolamento social total. Nas escolas, com aulas suspensas, não vão estudar. Com isso, vamos diminuir significativamente a quantidade de pessoas contaminadas. Estamos comprando 25 mil testes rápidos para coronavírus. Se com eles eu conseguir identificar as pessoas que estão contaminadas, já vou isolar logo e evitar contaminação. Tenho que aliar desenvolvimento econômico e a preservação da vida da população.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, passa orientações de interrupção de atividades e isolamento social. O presidente estimula o retorno das pessoas às ruas. Essa diferença de posturas não te confunde na hora de decidir que medidas tomar? No mundo inteiro, os presidentes da Itália, Espanha e Estados Unidos, quando a crise estava chegando, nenhum deles acreditou que teria a proporção que teve. Aquilo que passou ficou para trás. Quero ver o comportamento do presidente agora para frente. As pessoas são seres vivos, têm capacidade de discernimento.

A cada momento a pessoa vai mudando de comportamento e de atitude. De repente, hoje, o presidente já vê diferente a situação da crise em relação à semana passada. Vamos avaliar o comportamento de agora para frente. Tenho certeza de que ele já está vendo de maneira diferente, e ele está certo de olhar a parte econômica e a parte de saúde. É por isso que ele está estimulando as pessoas fora dos grupos de risco a produzirem.

Eu, que estou pagando minhas contas em dia, daqui a 60 ou 90 dias já não vou ter dinheiro pra pagar a folha de pagamentos. Não vou ter dinheiro também para comprar medicamentos nem insumo para hospitais. Aí as pessoas vão começar a morrer de diabetes, pressão alta, pancreatite, de problema cardíaco, porque estarei falido, não vou ter dinheiro para comprar remédios.

Temos que fazer estabelecimento de produção com responsabilidade na saúde. Tem que usar equipamentos de proteção e conscientizar a população, que tem que fazer sua parte.

Temos que aliar produção e saúde. E se o Brasil não faz o plantio da safra agora? Como vai ter alimento para a população comer? Vai faltar arroz, feijão? Vai morrer de fome? É uma conta que tem que fechar dos dois lados, produção e saúde, tem que achar o meio-termo.

O sr. tem uma estimativa do impacto econômico para o estado da crise do coronavírus? A minha arrecadação deve perder aproximadamente R$ 50 milhões por mês. Se ficar assim por 90 dias eu não vou conseguir pagar a folha de pagamentos. Temos que manter o mínimo da atividade comercial. Com segurança. Sem dinheiro não se faz nada.

Existe uma grande preocupação de contaminação das comunidades indígenas pelo novo coronavírus. O que o governo de Roraima tem feito para protegê-las? Já foi proibida pela Funai a entrada de pessoas brancas, digamos assim, nas comunidades indígenas. O governo do estado está fazendo barreira sanitária nas principais entradas para as comunidades indígenas. Temos orientado também para que não venham para a cidade.Temos 275 escolas indígenas em comunidades hoje. As aulas estão suspensas. Com a suspensão do transporte intermunicipal, eles ficam impossibilitados de vir para a cidade.

Se houver algum tipo de contaminação em alguma comunidade indígena, vamos entrar imediatamente, isolar o local e colocar o hospital de campanha lá dentro para que não precisem vir para a cidade.

Tem uma comunidade volumosa de venezuelanos em Roraima. O que o governo do estado tem feito para envolvê-los na campanha de combate ao vírus? Há aproximadamente 100 mil venezuelanos vivendo em Roraima. Cerca de 7.000 deles ficam em 13 abrigos que temos para refugiados. Hoje está proibida a entrada e a saída dos abrigos. Todos os venezuelanos que apresentam sintoma de gripe saem para o isolamento para saber se é gripe ou se é coronavírus, e só voltam para lá depois do resultado.

RAIO-X

  • Antonio Denarium
  • Idade: 56
  • Nascimento: Anápolis (GO)
  • Partido: sem partido, deixou o PSL e aguarda criação do Aliança pelo Brasil
  • Cargos: primeiro posto público que ocupa
  • Profissão: pecuarista
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