Eder Ruben Lopes deixa o trabalho em Tamboré, na cidade de Santana do Parnaíba (SP), por volta de 2h.
Antes das regras de isolamento social, ele demorava ao menos 45 minutos para percorrer um trecho da rodovia Castello Branco, a marginal Tietê e outras vias para chegar a Guarulhos, onde mora.
Durante a pandemia, gasta, no máximo, 35 minutos no trajeto. “Normalmente há muito movimento de caminhões na marginal na madrugada. Agora esse fluxo caiu bastante.”
Na entrada de casa, ele tira os sapatos e a máscara, e limpa a chave do carro com álcool. Corre para o banho com o cuidado de não fazer barulho —são quase 3h e sua mulher e seu filho estão dormindo.
Com 46 anos, Lopes trabalha no Grupo Folha há 25 anos. É hoje supervisor de impressão no CTG-F (Centro Tecnológico Gráfico-Folha), em Santana do Parnaíba.
Muito mudou na rotina dele com a crise do novo coronavírus. Mas a ida e a volta ao local de trabalho se mantêm.
A impressão da Folha e do Agora no CTG-F exige a presença física dos funcionários, por isso há raros casos de home office, diferentemente do que acontece com a Redação —cerca de 95% dos jornalistas estão em atividade em casa.
Para reduzir o risco de contaminação, Luiz Antonio de Oliveira, diretor industrial da empresa, dividiu a equipe da gráfica em dois grupos. Cada um deles trabalha por cinco dias e folga nos cinco seguintes. Como esses grupos não se encontram, a chance de contágio diminui.
Ao chegar para o trabalho, os funcionários —sempre de máscara— borrifam álcool em todas as superfícies de contato frequente, como os painéis de controle das rotativas e os corrimãos das escadas. No fim do expediente, uma nova rodada de limpeza pesada.
Até a rotina do cafezinho foi alterada. Era comum que três ou quatro colegas fossem à cozinha do CTG-F para fazer uma pausa para um gole de café e um papo rápido.
A garrafa com a bebida continua à disposição de todos, mas a conversa do café acabou. Vai um de cada vez, o mesmo ritual para os que se deslocam para fumar um cigarro. Aglomerações, portanto, nem pensar.
“Estamos todos preocupados, existe uma tensão no ar. Mas não tem jeito, precisamos acompanhar a impressão in loco”, diz Oliveira.
Essa nova organização obrigou a Redação a fechar o jornal mais cedo e limitou a divisão da versão impressa em suplementos —Ilustrada, Ilustríssima, Guia e Turismo, por exemplo, estão sendo publicados no mesmo caderno.
Por ora, houve um caso de Covid-19 no CTG-F. Um funcionário recebeu o teste positivo em 18 de abril. Havia ido à gráfica pela última vez no dia 11.
Ele não teve sintomas fortes e está apto, segundo o médico, para voltar ao trabalho. Por precaução, a direção do CTG-F pediu ao funcionário que permanecesse mais dez dias em casa.
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