Descrição de chapéu Ao Vivo em Casa

Tentativa de golpe hoje levaria à síndrome dos estados falidos, diz Sirkis

Para ambientalista, as questões da política brasileira, da pandemia e das mudanças climáticas são inseparáveis

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São Paulo

“Não é à toa que os Estados Unidos e o Brasil são os países com os maiores números de mortes e de casos com curvas ascendentes; são dois presidentes que publicamente fazem pouco caso da pandemia”, afirma Alfredo Sirkis, ex-deputado federal e fundador do Partido Verde.

A afirmação mostra como a ascensão da extrema direita no mundo vem acompanhada da negação das ciências do clima e da saúde. “Hoje é inseparável a resistência ao estado político das coisas, a superação da pandemia e a questão climática”, conclui.

O ambientalista foi o entrevistado desta segunda-feira (29) do Ao Vivo em Casa, série de lives realizadas pela Folha durante a quarentena.

Autor do best-seller Os Carbonários (1980), que ajudou a contar a história do regime militar no país, Alfredo Sirkis trocou a militância política pela climática. “A mudança climática agrava todas as outras crises: a extinção de espécies, a desigualdade social, a questão de gênero”, explica durante a live.

Na última quinta-feira (25), ele lançou o livro Descarbonário, que traz as histórias de bastidores sobre sua trajetória em busca da descarbonização da atmosfera.

Ele conta que que se convenceu a priorizar a pauta climática durante o discurso de uma esquimó sobre o derretimento do gelo no Ártico, que tem como consequência direta a elevação do nível do mar e a inundação de cidades litorâneas.

“Eu comecei a pensar no Rio e nessa hora minha ficha caiu: a mudança climática não era mais um item de uma vasta agenda ambiental, mas o principal problema da humanidade.”

Sirkis também conta sobre sua aposta na criação de uma espécie de bolsa de valores para ações de redução do carbono na atmosfera, como conciliou interesses na criação de um plano para o Brasil cumprir suas metas climáticas —que Temer teria prometido entregar a Bolsonaro junto à faixa presidencial.

“Há uma militância ativa do governo federal, a começar pelo presidente da República, pelo desmatamento”.

“Desde o governo de Fernando Henrique, tínhamos ministros do Meio Ambiente preocupados com assunto, tiveram suas vitórias e também muitas derrotas, às vezes convenciam o presidente, às vezes prevaleciam os interesses econômicos. Mas o que temos hoje é completamente diferente: um buraco negro. Não são interesses econômicos, é ódio puro”, avalia Sirkis. “A direita ganhou a eleição e tem a legitimidade de governar até 2022, mas a loucura não pode dar as cartas no Palácio do Planalto”.

com fundo azul, foto de Alfredo Sirkis. Senhor grisalho de cabelos curtos, penteado de lado, sorri. Ao lado dele o nome do programa "Ao Vivo em Casa"
Alfredo Sirkis é o entrevistado desta segunda-feira - Nucleo de Imagem

Segundo ele, há um sonho do autogolpe cuja tentativa “levaria à síndrome dos estados falidos. Seria uma pulverização completa do país: milhares de ditaduras locais no bairro, na favela, na comunidade, não uma apenas”.

“O Brasil de hoje é infinitamente mais complexo, a sociedade é mais violenta, a quantidade de armamento circulando é muito maior e uma tentativa desse tipo [de golpe] não levaria a uma ditadura centralizada e disciplinada como foi a do regime militar de 1964 a 1985”, avalia Sirkis, que também conta sobre sua saída da Partido Verde, após ter coordenado a campanha presidencial de Marina Silva em 2010, e garante ter encerrado sua carreira na política.

A série Ao Vivo em Casa é transmitida no site da Folha e no canal do jornal no YouTube. Durante a semana, a programação tem entrevistas sobre temas variados que vão de política e economia a saúde e cultura.

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