Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Bolsonaro tenta associar protestos contra governo a métodos violentos

Presidente prepara estratégia para buscar diferenciar imagem; 'liberdade de expressão tem que valer para todo mundo', disse nesta quinta

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Brasília

Enquanto setores da sociedade civil organizam uma marcha com discurso contra o governo para o próximo domingo (7), o presidente Jair Bolsonaro prepara com aliados uma estratégia para tentar diferenciar esses atos das manifestações semanais de seus apoiadores.

De acordo com interlocutores do presidente, a estratégia conduzida até o momento é diferenciar os protestos pró e contra o Palácio do Planalto.

Com isso, Bolsonaro tentará insistir na tese de que os que o apoiam têm como hábito organizar movimentos pacíficos, enquanto a oposição adota métodos violentos. Na terça-feira (2), o presidente classificou atos contra seu governo de “marginais e terroristas”.

Seus auxiliares aguardam com expectativa as manifestações de domingo para aferir o tamanho da oposição nas ruas. Na segunda-feira (1º), o presidente já havia dito a seus apoiadores que não deveriam sair de casa no final de semana.

Coletivos de torcidas de futebol antifacistas realizam ato pela democracia na avenida Paulista, no mesmo horário em que bolsonaristas marcaram outro ato. A policia dispersou ato dos coletivos com bombas de efeito moral - Marlene Bargamo - 31.mai.2020/Folhapress

Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (4) que "liberdade de expressão tem que valer para todo mundo". A declaração ocorreu em resposta a um apoiador que, em frente ao Palácio da Alvorada, disse que o mandatário deveria processar críticos que se referem a ele como "genocida".

"Se o cara me chama de fascista, por exemplo, e eu processo, não acontece nada. Se eu chamo ele de fascista, levo R$ 20 mil no ombro. Não adianta, minha taxa de sucesso é próxima de zero. E outra coisa: se é liberdade de expressão, tem que valer pra todo mundo", respondeu Bolsonaro. A fala foi transmitida no perfil do presidente no Facebook.

Na noite de quinta, em live, o chefe do Executivo chamou aqueles que se manifestam contra seu governo de idiotas, marginais e viciados.

"Domingo, o pessoal de verde e amarelo, que é patriota, que pensa no seu país, que é conservador, esses que trabalham, que são liberais, que acreditam que o Brasil pode ficar melhor pelo trabalho... Não é ficar em casa, não. Não vá, não compareçam a esse movimento, que esse pessoal não tem nada a oferecer para nós. Bando de marginais. Muitos ali são viciados. Outros ali têm costumes que não condizem com a maioria da sociedade brasileira. Eles querem o tumulto, querem o confronto", disse na transmissão online.

Em meio a esse acirramento, alguns integrantes do Palácio do Planalto fazem um esforço para arrefecer a temperatura da crise institucional. Contudo auxiliares presidenciais veem com reticência a possibilidade de o presidente realmente se comprometer a baixar o tom, dado seu histórico intempestivo.

Há leituras diferentes sobre a orientação dada por Bolsonaro para que seus apoiadores não apareçam na Esplanada dos Ministérios, por exemplo.

Há quem defenda que, de fato, ele queira evitar confrontos. Porém também há quem diga que o presidente apenas procurou uma vacina para o caso de haver mais manifestantes contrários a ele do que a favor. Além disso, outros argumentam que, caso o ato seja marcado por violência, Bolsonaro poderá apontar o dedo para seus opositores.

Contra este grupo mais ponderado de assessores pesa a intempestividade do chefe da República. Eles citam como exemplo um episódio da semana passada. Ministros militares voltaram a seus gabinetes na sexta-feira (29) certos de que o presidente não iria à manifestação do domingo seguinte. Não só ele foi como chegou de helicóptero e ainda montou em um cavalo da Polícia Militar do Distrito Federal.

Integrantes desta ala lembram também que, em março, no início da pandemia, Bolsonaro chamou cadeia nacional de rádio e TV para dizer que seus apoiadores não deveriam sair às ruas. Dois dias depois, no entanto, o próprio estava junto com os manifestantes em frente ao Palácio do Planalto.

Reflexo dessa tentativa de distensionar a crise é o fato de que o presidente pouco falou esta semana com apoiadores na porta do Palácio da Alvorada. Ele deixou de fora de seus discursos as críticas ao STF (Supremo Tribunal Federal), e seus aliados fizeram um gesto em direção à corte.

Na mesma semana, depois de sobrevoar ato antidemocrático ao lado de Bolsonaro no domingo, o ministro Fernando Azevedo (Defesa) fez uma visita a um dos integrantes da corte, o ministro Alexandre de Moraes, na segunda-feira. Bolsonaro compareceu à posse de Moraes no TSE, no dia seguinte.

Partiram do magistrado ações que impuseram derrotas ao governo, como a vedação da nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal e a autorização para busca e apreensão na operação contra fake news, que tem aliados do governo como alvo.

O grupo que vê com reticência o compromisso de Bolsonaro de baixar o tom contra os protestos também aponta as publicações feitas pelos filhos do presidente das redes sociais. Em especial o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos -RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Ambos têm atacado partidos de esquerda que criticam o presidente e ainda endossado o posicionamento do presidente americano Donald Trump de adotar uma postura dura e de apoio à repressão aos atos anti-racistas que tomaram as ruas das cidades americanas.

Partidos de oposição, como a Rede e o PSB, divulgaram notas sobre os atos marcados para domingo no país, que devem ocorrem em meio ao agravamento da crise do novo coronavírus, que já deixou mais de 30 mil mortos no Brasil. Ambos desencorajam seus filiados a participar das manifestações.

“A Rede Sustentabilidade mantendo sua coerência de defender a vida e a democracia, orienta seus filiados, simpatizantes e a população em geral a não participarem, no momento, das manifestações de rua. Nosso cuidado continua sendo a preservação da vida e o combate a pandemia que continua a rondar e ameaçar a vida de nossa população”, diz nota divulgada pela sigla. “Estamos na luta contra esse governo da morte, pelo impeachment do presidente e pela derrocada do neofascismo que ele representa.”

Em nota, o PSB fala que, apesar de reconhecer uma escalada de autoritarismo no país, não acredita que este seja o momento para a população ir às ruas.

“Não estamos, no entanto, em um momento normal para tais manifestações, sendo necessário ponderar suas consequências. Inicialmente, não se pode afastar as limitações sanitárias impostas pelo momento agudo de disseminação do novo coronavírus no Brasil. Realizar grandes aglomerações deve piorar a progressão da doença, algo preocupante diante da flagrante fragilidade da atenção à saúde”, diz o texto.

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