Mourão cobra retratação de Gilmar Mendes por fala que associou militares a genocídio

'Se tiver grandeza moral, ele tem que se retratar', disse vice-presidente; ministro do STF afirmou que respeita Forças Armadas

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Brasília

O vice-presidente Hamilton Mourão cobrou nesta terça-feira (14) um pedido de desculpas do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que no final de semana disse que o Exército, ao ocupar cargos técnicos no Ministério da Saúde em meio à pandemia do coronavírus, está se associando a um genocídio.

"Com certeza, se ele tiver grandeza moral ele tem que se retratar", disse Mourão nesta terça, em entrevista à rede CNN Brasil.

"Eu vi o cidadão Gilmar Mendes fazer uma crítica totalmente fora de propósito, ao comparar o que ocorre no Brasil com um genocídio. Genocídio foi cometido por Stálin contra as minorias russas, foi cometido por Hitler contra os judeus; foi cometido na África em Ruanda, e outros casos. [Por] Saddam Hussein contra os curdos. O ministro exagerou demais no que ele falou", afirmou o vice-presidente.

Nesta terça, Gilmar divulgou um texto em que ressalta seu "respeito às Forças Armadas brasileiras", mas reafirma críticas à militarização do Ministério da Saúde.

"Reforço, mais uma vez, que não atingi a honra do Exército, da Marinha ou da Aeronáutica. Aliás, as duas últimas nem sequer foram por mim mencionadas. Apenas refutei e novamente refuto a decisão de se recrutarem militares para a formulação e execução de uma política de saúde que não tem se mostrado eficaz para evitar a morte de milhares de brasileiros", escreveu o ministro do STF.

À CNN Brasil Mourão também se referiu ao fato de Gilmar se encontrar em Lisboa, onde passa o recesso do Judiciário, e disse que preferia que o juiz fizesse as críticas estando no Brasil.

Embora tenha destacado que trocas de ministros são de responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro, Mourão disse entender que a eventual nomeação de um titular para o Ministério da Saúde deveria ocorrer após o arrefecimento da crise da Covid-19. "Não acho que é o momento agora. Espera a pandemia arrefecer e aí troca", afirmou.

As declarações de Gilmar que irritaram o Planalto e a cúpula das Forças Armadas foram dadas no sábado (11), durante um debate online organizado pela revista IstoÉ e pelo Instituto Brasiliense de Direito Público. Ele comentava a ocupação por militares de postos-chave do Ministério da Saúde, chefiado há cerca de dois meses pelo general Eduardo Pazuello.

"Não podemos mais tolerar essa situação que se passa no Ministério da Saúde. Não é aceitável que se tenha esse vazio. Pode até se dizer: a estratégia é tirar o protagonismo do governo federal, é atribuir a responsabilidade a estados e municípios. Se for essa a intenção, é preciso se fazer alguma coisa. Isso é péssimo para a imagem das Forças Armadas. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso", declarou Gilmar.

As falas geraram reações do núcleo fardado do governo e de comandantes militares.

Na segunda (13), o Ministério da Defesa publicou uma nota co-assinada com os três comandantes das Forças Armadas e informou que entraria com uma representação na PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Gilmar.

"Comentários dessa natureza, completamente afastados dos fatos, causam indignação. Trata-se de uma acusação grave, além de infundada, irresponsável e sobretudo leviana. O ataque gratuito a instituições de Estado não fortalece a democracia", diz o texto.

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