Descrição de chapéu Eleições 2020

Disputa de legado na saúde em meio à pandemia marca discurso de pré-candidatos

Ex-prefeitos que tentam voltar ao cargo na Grande SP fazem menção a obras deixadas por suas gestões

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São Paulo

Fora do comando da máquina pública, ex-prefeitos que disputarão as eleições municipais em novembro tentam pegar carona nas ações de enfrentamento à pandemia ao valorizar um legado deixado na saúde, em uma estratégia tanto em São Paulo como em municípios da região metropolitana.

A capital paulista, que fechou a primeira quinzena de agosto com uma média diária de 3.217 novos casos e 79 óbitos, segundo dados das secretarias de saúde compilados pela plataforma Brasil.io, conseguiu reduzir a taxa de ocupação de leitos de UTI e tem avançado no processo de reabertura das atividades, criticado por oponentes.

Entre os críticos do prefeito Bruno Covas (PSDB), que busca a reeleição, está o ex-governador Márcio França (PSB), que em entrevista à Folha resumiu as ações de enfrentamento à crise na cidade como "bateção de cabeça" entre Covas e o governador João Doria (PSDB).

Na chapa do PSOL à prefeitura, que tem como vice de Guilherme Boulos a ex-prefeita e deputada federal Luiza Erundina, além das críticas ao modelo de OSs (organizações sociais de saúde) na cidade, haverá o resgate de ações deixadas por ela, na gestão de 1989 a 1992, como a construção de seis hospitais e a implementação do SUS na capital.

Erundina foi prefeita pelo PT, por isso seus feitos também devem aparecer no discurso eleitoral do pré-candidato da sigla, Jilmar Tatto, segundo o coordenador de campanha e presidente do partido na cidade, Laercio Ribeiro.

“Entendemos que a gestão é do partido, e não de uma figura A, B ou C”, diz, explicando que a maior parte do programa executado no governo é construído pelas bases da legenda.

Uma fila de pessoas próximas à parede num corredo e uma mulher encostada no balcão de atendimento
Pacientes aguardam atendimento no Hospital Dr. Benedicto Montenegro, no Jardim Iva, na zona leste de São Paulo. Obra foi construida na gestão Erundina - Rubens Cavallari - 12.Fev.2020/Folhapress

“Só no governo do [Fernando] Haddad, por exemplo, para não falar das demais, foram entregues 294 novos leitos na cidade, quando a nossa meta era de 250”, disse, destacando a construção de UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e a reabertura do Hospital Vila Santa Catarina, no Jabaquara, na zona sul, que era privado e foi comprado e reformado pela prefeitura, um modelo que o partido quer repetir.

“Ninguém pode achar que vai ganhar a eleição só defendendo legado e falando do passado. Não sabemos como vamos sair da pandemia e precisamos olhar para essa cidade do futuro. Vamos apontar outras perspectivas”, afirma Ribeiro.

Fora da capital paulista, petistas que tentam desbancar adversários nas cidades vizinhas repetem o discurso sobre legado na saúde.

Em maio, quando São Bernardo do Campo apareceu como segunda cidade menos vulnerável à Covid-19, num índice elaborado pelo Instituto Votorantim, Luiz Marinho, que foi prefeito por dois mandatos e no início de julho foi oficializado como pré-candidato do PT, já destacava o conjunto de obras deixado por ele, que inclui a construção de um hospital e nove UPAs.

A cidade de 812 mil habitantes viu o número de casos crescer com o processo de flexibilização em julho, atingindo uma média de 499 novos casos no dia 28, mas desde então tem mantido uma trajetória de queda, fechando a primeira quinzena de agosto com média de 226 novos casos e 4,4 mortes diárias, num total de mais de 19,5 mil casos e 694 mortos.

Numa live no dia seguinte, ao lado do ex-ministro da Saúde Arthur Chioro, que foi secretário da pasta em São Bernardo durante a gestão do petista, Marinho acusou o atual prefeito, Orlando Morando (PSDB), de desmontar a gestão criada por ele.

O tucano tem evitado se pronunciar sobre a campanha, mas não deixa de destacar feitos na saúde nas redes sociais, como a construção de dois hospitais e contratação de profissionais para enfrentar a pandemia.

Segunda maior cidade do estado, com 1,35 milhão de habitantes, Guarulhos viu a média de novos casos ultrapassar 200 em junho e oscilar desde então —o município fechou a quinzena com mais de 14,6 mil casos acumulados e 1.149 mortes.

O ex-prefeito e pré-candidato Elói Pietá (PT) tem feito vídeos críticos à gestão do candidato à reeleição, Gustavo Henrique Costa (PSD), conhecido como Guti.

Pietá aponta falta de insumos e profissionais, além de criticar a construção de um hospital de emergência num espaço provisório em vez de equipar o prédio do Hospital da Mulher, segundo ele vazio, para fazer o atendimento.

A campanha de Guti diz que não houve tempo hábil para isso e que as críticas do PT não têm fundamento, além de acusar o partido de ter deixado dívidas e sérios problemas de infraestrutura, principalmente na área de saúde.

Pietá deve repetir a estratégia usada na campanha à deputado federal em 2018, em que destacou feitos na área, na gestão de 2001 a 2008, como a construção do Hospital Pimenta Bonsucesso e de outros, uma obra que Guti diz ter sido entregue inacabada.

​Em Osasco, o deputado estadual pelo PT Emidio de Souza é pré-candidato à prefeitura, comandada por ele de 2005 a 2012.

A cidade de mais de 680 mil habitantes teve uma aceleração no número de casos ainda em abril e ultrapassou a média de 100 novos casos por dia em junho, registrando alguns intervalos de redução, mas ultrapassando a média de 130 novos casos por dia e 4,1 novas mortes na primeira quinzena, num acumulado de mais de 11 mil casos e 670 mortes.

A campanha de Emidio diz que o prefeito Rogério Lins (Podemos) não soube usar a estrutura deixada por ele, como a criação de leitos, construção de três UPAs, 1 pronto-socorro e 15 Unidades Básicas de Saúde.

Em maio, antes mesmo de ser confirmado na disputa, o deputado destacou nas redes uma doação de R$ 500 mil para a cidade enfrentar a doença. O recurso teria sido resultado da articulação dele junto ao deputado federal Rui Falcão (PT-SP), afirmou.

Lins rebateu destacando ações de sua gestão, como a criação do hospital de campanha e da criação de novos leitos de UTI na cidade durante a pandemia, mas diz que particularmente não deseja politizar o assunto.

A ação no Legislativo em benefício da base eleitoral também tem sido adotada pelo deputado federal Marco Bertaiolli (PSD-SP), que ainda não confirmou se será pré-candidato a prefeito de Mogi das Cruzes, que governou de 2009 a 2016.

Com cerca de 433 mil habitantes, a cidade, que no final de junho ultrapassou a média de 50 casos diários, com o processo de reabertura das atividades fechou a primeira quinzena quase dobrando essa marca, com média de 96 novos casos diários da doença e 3,6 mortes diárias, num total de mais de 5.000 casos e 282 mortes.

Nas redes sociais, o deputado tem destacado ações para liberar recursos para o enfrentamento à pandemia na cidade, como a doação de dez respiradores, além de relembrar a inauguração do primeiro hospital municipal durante a gestão dele.

Para a campanha do prefeito e candidato à reeleição, Marcos Melo (PSDB), a estratégia de Bertaiolli é natural e deve ser amplamente utilizada na campanha.

Ações mais restritivas adotadas pelo tucano no início da pandemia, como o fechamento das feiras livres na cidade, foram criticadas, mas a expectativa é a de que o equilíbrio da crise na cidade reverbere nas urnas a favor do prefeito.

Colaborou Flávia Faria

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