Carlos diz à PF não ser 'covarde' em utilizar robôs e admite uso de rede social de Bolsonaro

Filho do presidente prestou depoimento na Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro

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Brasília

Em depoimento à Polícia Federal no inquérito que investiga atos antidemocráticos, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) disse que não é “covarde ou canalha a ponto de utilizar robôs e omitir essa informação".

A Folha teve acesso ao depoimento, prestado no último dia 10.

Conhecido como filho 02, o vereador admitiu ainda relação com contas pessoais do pai, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), nas redes sociais.

Questionado pela PF, Carlos disse que não participa da política de comunicação do governo federal e que "tem relação apenas com divulgação dos trabalhos desenvolvidos pelo governo federal nas contas pessoais do declarante e do seu pai".

O vereador admitiu ainda relações com um dos integrantes do “gabinete do ódio”, mas apenas para pedir informações.

Carlos prestou depoimento na Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Ele estava acompanhado do advogado Antonio Carlos Ribeiro Fonseca.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o filho 03, também será ouvido pelos investigadores. A oitiva está prevista para a próxima terça-feira (22).

O interrogatório foi realizado pela delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro, encarregada de conduzir as investigações do inquérito que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal), a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República).

No início da oitiva, Carlos foi informado do seu direito de permanecer calado e de não responder a perguntas ou de responder a algumas e se calar em outras. O vereador não se furtou a responder aos questionamentos.

Ele foi indagado sobre a utilização de robôs para impulsionamento de informações em redes sociais envolvendo memes ou trabalhos desenvolvidos pelo governo federal.

Carlos então respondeu: "Jamais fui covarde ou canalha a ponto de utilizar robôs e omitir essa informação".

O inquérito em questão foi aberto em 21 de abril pelo ministro do STF Alexandre de Moraes e mira integrantes da militância bolsonarista que participaram de manifestações com pautas favoráveis ao AI-5 e ao fechamento do Congresso e do Supremo.

Moraes já determinou mandados de busca e apreensão, quebra do sigilo bancário e outras diligências contra dez deputados federais, um senador e diversos outros apoiadores do presidente da República.

A PF perguntou sobre a relação de Carlos com Fábio Wajngarten, secretário-executivo do Ministério das Comunicações. O vereador disse que o conhece, mas não tem relação profissional ou pessoal com ele.

Afirmou que Wajngarten “encaminha de forma habitual prévias de possíveis manchetes do dia seguinte nos meios de comunicação”.

O filho 02 foi questionado sobre sua eventual ligação com assessores da Presidência da República apontados como integrantes do chamado "gabinete do ódio".

O grupo, tutelado por Carlos, é responsável por parte da estratégia digital bolsonarista. A existência do gabinete foi revelada pela Folha no dia 19 de setembro de 2019.

A reportagem mostrou que o bunker ideológico está instalado numa sala no terceiro andar do Palácio do Planalto, a poucos passos do gabinete presidencial.​

Carlos afirmou ainda que mantém contato com José Matheus Salles Gomes, um desses assessores, “em razão de solicitações realizadas pelo declarante [Carlos] no tocante a fornecimento de informações relacionadas aos trabalhos desenvolvidos pelo governo federal”.

E que usa as informações para “divulgação nas suas redes sociais, uma vez que as redes sociais do declarante tem alcance maior do que de muitos órgãos do governo federal”.

O vereador informou que conheceu José Matheus por volta de 2010 ao saber de uma página mantida por ele no Facebook denominada “Bolsonaro Zueiro”, na qual eram divulgados memes relacionados ao seu pai, então deputado federal, que despertavam interesse dos usuários.

Além de José Matheus, a PF quis saber sobre a relação de Carlos com Tércio Arnaud, outro assessor da Presidência suspeito de participar do “gabinete do ódio”.

Ele respondeu que foi apresentado a Tércio Arnaud pelo próprio pai em 2017, em razão do conhecimento de Tércio sobre redes sociais e que, posteriormente, ele foi lotado em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

A delegada Denisse Ribeiro perguntou ao vereador sobre seu conhecimento em relação às informações presentes em recente relatório divulgado pelo Facebook, elaborado pela organização Atlantic Council.

A empresa afirmou que removeu uma rede com 73 contas ligadas a integrantes do gabinete do presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e aliados. Parte delas promovia propagação de ódio e ataques políticos.

O Facebook e o Instagram identificaram páginas e contas com conteúdo de ataques a adversários políticos feitos por Tércio.

Carlos respondeu que desconhece tal relatório, porém tem ideia do assunto por meio da mídia e das redes sociais.

A respeito de perfis falsos para a divulgação de determinados conteúdos, ele disse “que tem conhecimento a respeito do tema em razão de divulgações realizadas pela deputada federal Joice Hasselmann com a utilização de assessores para atacar adversários políticos tais como a [deputada federal] Bia Kicis e o declarante [Carlos]”.

Em abril, a Folha revelou que a PF investigava a atuação de Carlos em um esquema criminoso de notícias falsas, no âmbito do inquérito das fake news que tramita no STF e que também é relatado por Moraes.

Sobre um terceiro assessor da Presidência da República apontado como integrante do “gabinete do ódio”, Carlos disse que tem ciência de Mateus Matos Diniz em relação com a assessoria da Presidência e que o conheceu por intermédio de José Matheus durante uma viagem pessoal.

Carlos negou qualquer relação com a criação ou divulgação de conteúdo com caráter antidemocrático.

Disse que não conhece Sara Giromini, conhecida como Sara Winter e apontada como líder do grupo de extrema direita 300 do Brasil, e o jornalista Oswaldo Eustáquio, apoiador de Bolsonaro.

Entre outras pessoas, Sara e Oswaldo foram presos por ordem de Alexandre de Moraes no inquérito dos atos democráticos após uma série de manifestações na Esplanada dos Ministérios, com ataques verbais a integrantes do STF e do Congresso.

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