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'Delatora' do laranjal do PSL se lança candidata em Minas e defende Bolsonaro

Adriana Borges critica ministro do Turismo, mas apoia bandeiras do presidente e se diz traída por Moro

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São Paulo

A Justiça ainda não decidiu se o ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) se tornará réu sob acusação de liderar o esquema de candidaturas de laranjas do PSL mineiro, mas o tema já se desdobrou em marketing eleitoral na campanha deste ano.

Candidata a deputada federal pela legenda em 2018, Adriana Borges afirmou no ano passado ao Ministério Público de Minas Gerais que, durante o último período eleitoral, recebeu uma proposta “indecente” de assessores do atual ministro, então presidente estadual do PSL.

Segundo Adriana, o partido a repassaria R$ 100 mil do fundo eleitoral se, em troca, ela devolvesse R$ 90 mil em cheques em branco. A proposta foi recusada, ela afirmou aos promotores, e o partido só repassou R$ 4.000 à sua campanha.

Adriana Borges, candidata a vereadora em Belo Horizonte pelo Patriota
Adriana Borges, candidata a vereadora em Belo Horizonte pelo Patriota - Reprodução/Instagram

Ao fim da eleição, apesar de ter obtido quase 12 mil votos, Adriana não se elegeu. No entanto, a divulgação do seu depoimento abriu caminho para que ela lançasse neste ano a candidatura a vereadora de Belo Horizonte, desta vez filiada ao Patriota, sob a bandeira de combate à corrupção e à impunidade.

Em seu site de campanha, é apresentada como alguém que “enfrentou sua primeira grande batalha contra a corrupção e ficou conhecida nacionalmente por ser uma das mulheres que delatou o ‘Laranjal do PSL Mulher’ em Minas Gerais”.

Embora não seja formalmente uma "delatora", mas uma testemunha do processo, ela diz que esse foi um rótulo que a imprensa colocou nela.

Como pauta, faz uma defesa aguerrida do governo Jair Bolsonaro, apesar de Marcelo Álvaro Antônio continuar a fazer parte do quadro de ministros. Álvaro Antônio nega ter cometido irregularidades.

“Não entendo por que ele [Álvaro Antônio] continua lá. Já teve denúncia robusta contra ele”, afirma Adriana. “Mas como ele ainda não é réu, acho que por conta disso o presidente Bolsonaro ainda não tomou nenhuma atitude. Mas eu, como cidadã, fico indignada”, diz.

O ministro foi denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais em outubro de 2019. A investigação, iniciada com base em reportagens da Folha, concluiu que ele comandou um esquema de desvio de recursos públicos por meio de candidaturas femininas de fachada em 2018.

Apesar das discordâncias com Marcelo Álvaro Antônio, Adriana mantém o mesmo tom de defesa das ações do governo Bolsonaro, mesmo com as investigações sobre a família do presidente.

Representante comercial, a candidata tem 56 anos, já foi filiada ao PSB —apenas por ser cunhada do deputado Júlio Delgado, ressalta, de quem diverge politicamente— e no fim de 2014 começou a participar de movimentos pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).

Ela se define como ativista (“Nós da direita gostamos de dizer que somos ativistas políticos, e não militantes”) do grupo Patriotas, que tem presença forte em Minas Gerais com pautas ligadas a temas da direita bolsonarista.

O Patriotas não tem ligação formal com o partido Patriota, que é o antigo PEN (Partido Ecológico Nacional) e mudou de nome na tentativa de abrigar Bolsonaro.

Em seu site de campanha, a candidata de Belo Horizonte se apresenta como “conservadora, patriota e cristã” e “defensora da família, dos bons costumes, do livre mercado”.

Também afirma ser contra o aborto e defender a família tradicional e o armamento civil. “São as pautas que venceram as eleições em 2018”, afirma.

Ao ser questionada se tem alguma agenda mais centrada em questões municipais, diz que apoia mais repasses federais às cidades. “Um dos projetos do presidente é menos Brasília e mais municípios”, afirma Adriana, que faz oposição ao atual prefeito e candidato à reeleição Alexandre Kalil (PSD).

Também diz que “quer mudar a realidade da Câmara Municipal” com o objetivo de que em 2022 haja mudanças na Câmara dos Deputados.

Sua campanha é coordenada pelo vice-presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Belo Horizonte Marco Gaspar –Adriana foi a favor da reabertura de comércio em meio à pandemia– e do artista plástico e ativista bolsonarista Júlio Hübner.

Ela afirma que a filiação ao Patriota foi uma decisão dos seus coordenadores, "porque seria o partido do presidente Bolsonaro antes de ele ir para o PSL", e nada foi prometido em troca.

Do lado oposto de Adriana, Marcelo Álvaro Antônio também lançou a sua mulher, Janaina Cardoso, como candidata a vereadora pelo PSL de BH.

Apesar de se apresentar como defensora do combate à corrupção e à impunidade, Adriana Borges não faz críticas à família de Bolsonaro pela suspeita da prática de “rachadinha” e pelas investigações sobre o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente.

“Não procede”, ela diz. “É coisa para tentar derrubar o presidente mesmo, da mídia de esquerda.”

Questionada sobre a saída do ex-ministro Sergio Moro do governo, com acusações de interferência na Polícia Federal, Adriana afirma que se sentiu "traída".

“Saí várias vezes para defender o Moro e hoje vejo que ele faz parte da cúpula de esquerda, do PSDB, dos progressistas, a favor de aborto, ele e a mulher dele”, diz.

E elabora uma teoria, que diverge do que Moro disse ao sair do governo: “O objetivo dele [de Moro] não era derrubar o Bolsonaro, era derrubar o [ex-ministro da Educação Abraham] Weintraub, porque ele disse que queria tirar todos os ministros do STF [Supremo Tribunal Federal]". Para ela, "ninguém aguenta aqueles ministros do STF.

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