Descrição de chapéu Eleições 2020

Campanha faz perícia em áudio suspeito de fake news e inverte acusação em Minas

Laudo faz candidato em Nova Lima apoiado por prefeito pedir ao Ministério Público investigação contra rival, que é vice-prefeito

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São Paulo

A perícia em um áudio distribuído nas redes sociais inverteu acusações de uso da máquina pública nas eleições de Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Por meio de um laudo contratado pela sua própria campanha, o candidato a prefeito Wesley de Jesus (DEM) diz ter chegado no autor de uma gravação que o acusava de irregularidades —e, segundo esse mesmo laudo, a voz seria do auxiliar de um adversário. O caso foi parar no Ministério Público.

Vista da cidade de Nova Lima, com ponte sobre rio
Nova Lima (MG), cidade com maior renda média por habitante do Brasil, segundo estudo da FGV - Alexandre Rezende - 2.set.20/Folhapress

As suspeitas começaram em 9 de outubro, quando a campanha de Wesley, que é apoiado pelo atual prefeito, Vitor Penido (DEM), fez um evento de lançamento de candidatura com adesivagem de carros.

Nesse período, circulou em grupos de WhatsApp um vídeo no qual uma voz anônima, citada como “motorista da cooperativa”, afirmava que havia ameaças de cortar da entidade, que presta serviço à prefeitura, os profissionais que não participassem do evento.

A voz que fazia a acusação estava distorcida eletronicamente, em um tom mais grave.

"Ontem chegaram na cooperativa lá já avisando para todo mundo que, se não fosse [ao evento], tava cortado da cooperativa", dizia a voz.

"Tinha que ir nessa porra dessa carreata para receber R$ 30 de gasolina. O que eu vou fazer com R$ 30 de gasolina? E que se não fosse ele não iria pagar o salário do mês. Tem lógica nisso, cara? Olha o que o Wesley e essa turma dele está fazendo com a gente, cara”, acrescentava.

Desconfiada, a campanha de Wesley removeu o filtro que modificava a voz e contratou uma análise pericial do áudio. Os peritos compararam com outros áudios e apontaram a voz como compatível com a de Leonardo Ângelo Costa Ribeiro, chefe de gabinete do vice-prefeito, João Marcelo (Cidadania).

O vice também é candidato e concorre contra Wesley, que hoje é vereador.

Áudio que circulou nos grupos

Áudio sem o filtro

O exame comparou a voz da gravação compartilhada nas redes sociais com as vozes de Ribeiro em um áudio de WhatsApp e em um vídeo do YouTube.

"Ao final dos exames técnicos o signatário do presente laudo constatou que a voz presente no material sonoro questionado é compatível com as vozes atribuídas a Leonardo Ângelo Costa Ribeiro", diz o parecer, assinado pelos técnicos Marco Antônio Fonseca Paiva e Adelino Pinheiro Silva.

Analisando somente os áudios, os técnicos apontam uma "probabilidade mínima de 99,2% de as vozes terem sido proferidas pelo mesmo falante".

Mas fatores externos, como a qualidade dos materiais, podem afetar o teste, segundo o técnico Adelino. Então, há possibilidade de um falso positivo "de aproximadamente 7,5% dadas as condições de relação sinal-ruído".

A medida fez a campanha de Wesley ingressar no Ministério Público com uma notícia-crime —um pedido de apuração de suspeita criminal— contra o vice-prefeito e o seu chefe de gabinete.

O pedido menciona artigos do Código Eleitoral relacionados a crimes contra a honra envolvendo eleições e afirma que um servidor público teria sido utilizado para disseminação de notícias falsas.

De acordo com o pedido de investigação, "o chefe de gabinete do sr. João Marcelo Dieguez, pago com dinheiro público," é "músico e possui em sua casa um estúdio com capacidade técnica e com os instrumentos necessários para ser um propagador de montagens e notícias falsas".

Até o momento, o Ministério Público não abriu procedimento investigativo em relação a essas questões.

Procurado, Leonardo Ribeiro disse que desconhece o assunto. A campanha de João Marcelo também afirmou que não foi notificada, e não quis fazer mais comentários sobe as acusações.

Wesley de Jesus afirma que o áudio o atrapalhou “não só na campanha, mas também moralmente”.

“Sou advogado de carreira e fui um dos autores de um processo de cassação em 2012 do prefeito de Nova Lima, por uso da máquina pública”, diz ele. “Esse ataque me atribuiu algo que sempre lutei contra, não só na minha vida política, como também na profissional."

A ação de cassação à qual ele se refere foi movida pelo DEM e por Vitor Penido —o atual prefeito—, e acusava a gestão municipal à época de abuso de poder político ao ceder terrenos a uma igreja evangélica por meio de decretos.

A cassação foi confirmada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2016, e Penido, segundo colocado na eleição, assumiu o cargo.

Nova Lima, cidade próxima a Belo Horizonte conhecida pelos seus condomínios de luxo, tem a maior renda média por habitante do país, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas.

O município, com população estimada de 96 mil pessoas, tem forte influência política do grupo de Penido, que está em seu sexto mandato como prefeito.

Ao anunciar o lançamento de sua candidatura, o vice-prefeito João Marcelo disse que lamentava não ser o candidato do grupo do prefeito, mas que o respeitava.

Além de Wesley e de João Marcelo, outros cinco nomes disputam as eleições na cidade.

Esse não é o primeiro áudio que cria celeuma na campanha municipal. Em outro, distribuído no início da disputa, uma voz atribuída a Penido faz acusações contra o vice na chapa de Wesley, o vereador Fausto Niquini (PSD).

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