Descrição de chapéu Eleições 2020

Boulos mira voto útil da esquerda, Russomanno, da direita, e França, de ambos, na reta final em SP

Alvo das investidas, PT e nanicos minimizam pesquisas e tentam conter debandada na disputa pela prefeitura

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São Paulo

Com o segundo turno indefinido às vésperas da eleição em São Paulo, candidatos que disputam o mesmo eleitorado fazem movimentos para se beneficiar do voto útil ou para estancá-lo.

É o caso de Guilherme Boulos (PSOL) e os eleitores de esquerda, de Celso Russomanno (Republicanos) e os eleitores de direita, e de Márcio França (PSB) nas duas direções.

Segundo a pesquisa Datafolha divulgada na quarta (11), 32% dos eleitores ainda pode mudar de voto —eram 42% no levantamento da semana passada.

A pesquisa mostra o prefeito Bruno Covas (PSDB) isolado na liderança com 32% (antes tinha 28%). Boulos passou de 14% para 16%, enquanto Russomanno foi de 16% para 14%, e França de 13% para 12% —estão os três tecnicamente empatados, já que a margem de erro é de três pontos percentuais (para mais ou para menos).

Jilmar Tatto (PT) oscilou de 6% para 4%, empatando com Arthur do Val Mamãe Falei (Patriota, 4%).

O candidato do PSOL tem repetido em debates que é o que tem mais chances de avançar ao segundo turno no campo progressista e frear o avanço de "Bolsodoria".

Para aliados de Boulos, ele pode ser beneficiado pelo voto útil do eleitorado de esquerda, notadamente o do PT, embora o candidato não fale disso publicamente.

Em outra frente, o postulante do PSOL tenta avançar também sobre eleitores de esquerda que hoje estão com França. Daí a estratégia de associar o ex-governador à direita, lembrando o fato de ele ter sido aliado do PSDB e vice do tucano Geraldo Alckmin.

O crescimento do movimento de voto útil para Boulos tem gerado irritação no PT. Segundo integrantes do partido, o PSOL já teria até pedido apoio a lideranças petistas.

Tatto se reuniu com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para discutir um eventual apoio a Boulos ainda no primeiro turno. No encontro, o candidato petista negou essa possibilidade.

Agora, o clima entre petistas é de animosidade em relação aos movimentos pelo voto útil, alguns capitaneados por intelectuais e artistas ligados ao PT.

Manifesto que defende a união da esquerda em torno de Benedita da Silva (PT), no Rio, e Boulos em São Paulo foi assinado por pessoas ligadas ao partido, como o cientista político André Singer, a economista Leda Paulani e o ator Antônio Grassi.

Além disso, conforme a Folha revelou, a campanha de Boulos vinculou anúncios no Google a termos relacionados ao PT.

Para o vereador Alfredinho, que é líder do PT na Câmara Municipal, discursos de boicote à candidatura de Tatto poderiam beneficiar Covas —que avança nas regiões periféricas onde Boulos não conseguiu penetrar.

Alfredinho ainda desconfia das pesquisas e vê mudança de humor da população em relação à sigla. “Em 2016, a gente sentia uma hostilização, que não acontece mais", disse.

Petistas que não fazem parte do grupo de Tatto consideram que, mesmo não sendo o candidato ideal, ele ainda pode crescer um pouco, embora sem chances de ir para o segundo turno. Na visão deles, o voto da classe média petista já foi para Boulos, mas o mesmo não se deu e não se dará na periferia. Em um segundo turno entre Boulos e Covas, porém, os petistas dão como certo o apoio ao PSOL.

Russomanno e França, que competem entre si pelo eleitorado um do outro, também acenam ao voto útil para se manterem em condições de disputar o segundo turno.

A campanha do Republicanos quer concentrar os votos de direita espalhados com Arthur do Val, Joice Hasselmann (PSL, 3%), Andrea Matarazzo (PSD, 2%) e Levy Fidélix (PRTB), que não pontuou.

O argumento é de que o voto no Republicanos impede um segundo turno entre a esquerda (Boulos ou França) e Covas, que é o candidato do governador João Doria (PSDB) –considerado inimigo por Russomanno e seu padrinho, o presidente Jair Bolsonaro.

“Vote nos nanicos de ‘direita’ e leve Boulos x Covas no segundo turno. A extrema-esquerda te agradece!”, tuitou o deputado estadual Gil Diniz (sem partido), bolsonarista apoiador de Russomanno.

Arthur do Val vem tentando conter o voto útil no campo da direita —69% dos seus eleitores são consolidados e 29% podem mudar.

“Não deixe que as pesquisas empurrem vocês para um erro. […] No primeiro turno, não se vota contra um ou contra outro, mas no melhor”, afirmou no debate do jornal O Estado de S. Paulo.

Na campanha de França, o esforço para atrair o voto útil envolve uma engenharia complexa. Ele tenta angariar votos da esquerda, dos conservadores e de quem mais estiver insatisfeito com Covas e Doria. O candidato do PSB é o de menor rejeição (17%) entre os principais.

O ex-governador tem pontuado que ele é o candidato com mais chances de derrotar Covas no segundo turno e, portanto, o que melhor representa o voto anti-Doria. Segundo o Datafolha, Covas vence em todas as simulações de segundo turno, mas o cenário é mais apertado contra o candidato do PSB, 53% a 34%.

França ancorou sua campanha em um discurso ambíguo. Poupou críticas a Bolsonaro e evitou fazer ataques ao PT e ao PSOL a partir do ponto de vista ideológico. Também acenou aos eleitores de candidatos nanicos em debate Folha/UOL.

No cálculo de França, sua postura neutra em relação a Bolsonaro, somada à forte retórica anti-Doria, pode arrastar para seu quintal o voto de bolsonaristas e conservadores.

A maior parte das movimentações da parcela de 32% do eleitorado não convicto, porém, tende a beneficiar Covas, visto como melhor segunda opção para 19% entre esses que ainda podem mudar de ideia.

O Datafolha indica que França é segunda opção entre os eleitores indecisos de Russomanno (23%). O candidato do PSB também pode buscar votos entre eleitores não convictos de Arthur (21%), Covas (19%) e Boulos (14%).

Já Russomanno deve mirar os indecisos de Covas (28%), Joice (20%), França (16%) e Arthur (15%).

Boulos, porém, tem dificuldade em herdar votos não consolidados de outros candidatos, segundo o Datafolha. Mudariam para ele apenas 10% dos indecisos de Covas, 15% dos indecisos de França e 5% dos indecisos de Russomanno.

Enquanto tentam angariar eleitores por meio do voto útil, Russomanno e França também devem se preocupar, na outra ponta, em estancar uma perda de apoio.

Russomanno e França são, entre os quatro principais, os que têm maior percentual de eleitores que podem mudar de ideia —44% e 40%.

Os eleitores não convictos de Russomanno tendem a migrar para Covas (31%) e França (23%).

A pesquisa sugere que a desidratação do candidato do Republicanos, que é rejeitado por 49% dos eleitores, impulsiona o tucano.

Russomanno teve queda mais acentuada entre eleitores com ensino fundamental (23% para 15%), entre os que têm renda familiar de até dois salários mínimos (24% para 15%) e entre evangélicos (25% para 19%).

Nesses setores, Covas cresceu. Entre os menos escolarizados foi de 30% a 41%, entre os de menor renda, de 25% para 34%, e subiu de 25% para 32% entre evangélicos.

A pesquisa mostra que os eleitores não convictos de França, por sua vez, tendem a migrar para Covas (23%), Russomanno (16%), Boulos (15%) e Tatto (14%).

Boulos tem 19% de eleitores que podem mudar de ideia –eles migrariam para Covas (42%), Tatto (14%) e França (14%).

Em relação à pesquisa de intenção de voto para a Prefeitura de São Paulo, o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo decidiu nesta quinta-feira (12) confirmar, por unanimidade, a liberação da divulgação, que havia sido censurada na terça-feira (10) pelo juiz da primeira zona eleitoral, a pedido da campanha de Celso Russomanno.

Por 6 votos a 0, os integrantes do tribunal julgaram pela manutenção da decisão em caráter provisório que havia sido tomada individualmente pelo juiz do TRE-SP Afonso Celso da Silva na quarta-feira (11).

Na decisão que autorizou a divulgação da pesquisa, Silva determinou que a publicação fosse acompanhada do esclarecimento abaixo.

"A presente pesquisa se encontra impugnada na Justiça Eleitoral em virtude da alegada ausência, em seus resultados, da consideração do nível econômico dos entrevistados, bem como pela divisão do grau de instrução destes, no plano amostral, ter sido em duas categorias (nível fundamental e médio - 67%; nível superior -33%)."

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