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Disputa entre Paes e Crivella no Rio indica limites de bolsonarismo e frente ampla

Ex-prefeito é favorito após acumular apoios críticos; candidato à reeleição tentou sem sucesso se apoiar no presidente

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Rio de Janeiro

A disputa entre o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), e seu antecessor, Eduardo Paes (DEM), no segundo turno carioca indicou em nível local os limites do bolsonarismo e da frente ampla de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Favorito na eleição deste domingo (29), Paes acumulou “apoios críticos” de partidos de esquerda interessados em derrotar tanto Crivella como Bolsonaro, que gravou mensagens de apoio ao prefeito.

“Não tenho pretensão de achar que os votos que receberei no domingo serão pela minha capacidade de ser prefeito. Vão ser pelo não contundente que a população carioca quer dar ao Crivella”, disse o candidato do DEM em entrevista ao site Metrópoles.

Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (26) apontava Paes com 70% das intenções de votos válidos, contra 30% de Crivella.

Bolsonaro e Crivella, em evento no Rio
Bolsonaro e Crivella, em evento no Rio - Marcos Corrêa/PR

O ex-prefeito buscou evitar nacionalizar a campanha, a fim de atrair tanto eleitores bolsonaristas que rejeitam a gestão Crivella como os de oposição ao presidente. Mas se Paes buscou evitar esse debate, não foi o que fizeram PSB, PT e PSOL, que declararam o veto ao atual prefeito com o objetivo expresso de derrotar Bolsonaro em sua cidade.

"No Rio, o importante agora é derrotar Crivella: além de ser o pior prefeito que o Rio já teve, é o candidato de Bolsonaro. Primeiro turno é voto, segundo turno é veto: Crivella não!", disse o deputado federal Alessandro Molon, presidente regional do PSB-RJ.

Um dos exemplos usados pelo ex-prefeito para caracterizar a frente a seu favor é o fato do perfil do Facebook “Fora Eduardo Paes”, criada em 2011 quando ele era prefeito, ter declarado apoio a sua candidatura. O mesmo ocorreu em 2018, quando o candidato do DEM disputou o governo do estado contra Wilson Witzel (PSC), que se colou à família Bolsonaro.

Embora tenha perdido para o hoje governador afastado de 59,9% a 40,1% nos votos válidos, na capital Paes superou o adversário por 51,7% a 48,3%.

Ao mesmo tempo, Paes fez acenos aos eleitores conservadores, ao defender que um grupo da Guarda Municipal possa atuar armado. Também se declarou contrário à educação sexual em escolas.

Com uma gestão mal avaliada há pelo menos dois anos, Crivella colou sua imagem à de Bolsonaro para garantir uma vaga no segundo turno. Na reta final, radicalizou o discurso alinhado ao bolsonarismo, fazendo acusações falsas contra Paes e o PSOL associando-os à uma suposta “pedofilia nas escolas”.

O objetivo era, principalmente, consolidar o voto de eleitores evangélicos. O levantamento do Datafolha, porém, não mostrou variação significativa nesse grupo nas duas pesquisas divulgadas até quinta-feira.

A estratégia, que contou com distribuição de panfletos próximo a igrejas, gerou uma denúncia da Procuradoria Regional Eleitoral contra Crivella por difamação eleitoral e propaganda falsa.

O atual prefeito também buscou explorar os casos de corrupção identificados na gestão do adversário.

Paes é réu em duas ações penais e teve o ex-secretário de Obras Alexandre Pinto preso e condenado na Lava Jato. Além de associá-lo ao ex-governador Sérgio Cabral, preso há quatro anos e condenado a mais de 321 anos por corrupção.

“Fiz o que era possível dentro do prejuízo que o Eduardo deixou, com menos R$ 15 bilhões. Fizemos o que era possível sem corrupção”, disse Crivella no debate da TV Bandeirantes.

Nesta sexta-feira (27), o prefeito já sinalizava os efeitos que via numa eventual derrota em sua campanha de TV, associando Paes à corrupção.

“Eu já perdi uma eleição para o Cabral. Mas será que eu perdi mesmo? Será que ele ganhou? Eu perdi para o [Luiz Fernando] Pezão. Mas será que ele ganhou mesmo? Aquela vitória destruiu a carreira deles. Você [Paes], todo mundo sabe, infelizmente será preso”, afirmou Crivella.

Os dois candidatos que disputam a prefeitura foram alvos de operações policiais às vésperas do início da campanha.

Paes foi alvo de busca e apreensão em razão de uma acusação por corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral pela prática de caixa dois na eleição de 2012 com recursos da Odebrecht. Ele se tornou réu e responde pelos supostos crimes na Justiça Eleitoral.

Crivella, por sua vez, também sofreu buscas em sua casa e gabinete numa investigação sobre um suposto esquema de cobrança de propina dentro da prefeitura. Ainda não há denúncia nesse caso.

Ambos também disputam graças a decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que suspenderam os efeitos de condenações do Tribunal Regional Eleitoral do Rio que os tornavam inelegíveis.

Lançado na política pelo ex-prefeito e vereador reeleito César Maia (DEM), Paes pode repetir os passos do aliado. Se vencer como indicam as pesquisas, exercerá o terceiro mandato comandando a cidade após duas derrotas políticas consecutivas.

Em 2016, seu candidato, o deputado Pedro Paulo (então no MDB, hoje no DEM), sequer chegou ao segundo turno na disputa vencida por Crivella. Há dois anos, Paes foi derrotado por Witzel na eleição para o governo do estado.

Crivella, por sua vez, corre o risco de ficar sem mandato pela primeira vez desde 2003, quando assumiu uma cadeira no Senado.

Após três tentativas frustradas para chegar à prefeitura e duas ao governo do estado sob o peso da rejeição à Igreja Universal, o bispo licenciado pode deixar o cargo de prefeito com uma marca de mau gestor.

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