Descrição de chapéu Eleições 2020

Entidade ligada ao movimento negro vê fala racista e presta queixa contra Russomanno

Em sabatina Folha/UOL, candidato negou ser racista por ter tido mãe de leite, namorada e amigos negros

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Uneafro Brasil, entidade ligada ao movimento negro, entrou na tarde desta sexta-feira (6) com uma representação criminal na Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo contra o candidato a prefeito Celso Russomanno (Republicanos) por racismo. Em nota, o candidato chamou a representação de infundada e afirmou se tratar de um factoide.

Russomanno havia chamado de vandalismo uma ação da prefeitura da capital paulista que, em homenagem ao Dia da Consciência Negra, comemorado no próximo dia 20, colocou em semáforos da cidade imagens de punhos cerrados, símbolo da luta contra o racismo.

Nesta sexta, em sabatina feita pela Folha em parceria com o UOL, Russomanno afirmou que não havia entendido que era uma homenagem à Consciência Negra e negou ser racista ao dizer que foi criado por uma mãe de leite negra e ter amigos negros.

"Eu não vou polarizar essa questão. Eu fui criado por uma mãe de leite negra. Eu sou uma pessoa que não vejo diferença entre os negros e os brancos. Os meus melhores, tenho grandes amigos que são negros. E tive namorada, inclusive. Eu não tenho problema nenhum com isso. Agora, a prefeitura é que não pode fazer uma campanha e não dizer para população o que é que ela está fazendo e colocar o punho cerrado nos semáforos, o que contraria inclusive a legislação de trânsito, eles vão responder inclusive por crime de improbidade”, disse o candidato.

A representação, assinada por Elaine Mineiro, afirma que “na tentativa de se livrar na prática racista realizada, Russomanno reafirma o seu racismo reforçando a estigma social do ‘lugar dos negros’ na sociedade brasileira, ou seja, como ‘mãe de leite’, serviçal. Externa, portanto, o racismo da sua conduta”.

“Em um país de grande desigualdade, fundada no racismo estrutural, não há como negar o racismo praticado por não haver diferenças entre negros e brancos. A diferença existe em especial quando se analisa os dados das desigualdades vigentes na sociedade brasileira. E o ato de negar o racismo na sociedade não reduz o racismo praticado por sua conduta individual”, continua.

A peça diz que Russomanno não só comete o crime de racismo como incita a prática, “dada a influência do mesmo por ser figura pública com cerca de 143.000 mil seguidores apenas na rede social Twitter, por ter quadro televisivo e por ser deputado federal.”

O texto diz que o gesto do punho fechado significa a luta contra a opressão e foi usada em diferentes momentos históricos, como na Olimpíada do México de 1968 (quando atletas fizeram o protesto sobre um pódio, no auge da luta pelos direitos civis nos EUA), em movimentos na Nigéria ou no Black Lives Matter, nos EUA.

A peça pede a abertura de inquérito para investigar o crime e a interrupção de “transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio do denunciado que resultam na prática de racismo”, “com fins de sustar o crime de incitação ao racismo praticado”, diz.

Em nota, a assessoria do candidato negou que tenha havido crime na fala.

"Não existe o menor indício de racismo na fala de Russomanno, a não ser para quem quer forjar uma má interpretação para prejudicar o candidato dos Republicanos. Trata-se de uma representação infundada, realizada por movimento com o exclusivo objetivo de criar um fato político e de conferir à fala uma dimensão que ela não teve. Como Russomanno se mantém nas pesquisas, buscam criar factóides para tentar influir de forma ilegítima na consciência do eleitor", disse a campanha de Russomanno.

O candidato Orlando Silva (PC do B) também se manifestou. Em rede social, chamou a fala de “enciclopédia de racismo” e “repugnante”.

“Entre tantas barbaridades, a maior: Russomanno diz, com orgulho, que foi criado por ‘mãe de leite negra’. É difícil pensar em algo mais violento que a vida das escravizadas submetidas à condição de amas de leite: estupradas e obrigadas a ter filhos permanentemente, separadas deles com violência, compradas, vendidas, alugadas para cumprir esta função que as brancas rejeitavam”, escreveu.

“Não falta na entrevista, é claro, os clássicos do racismo ‘tenho até amigos negros’, ‘até namorei negras’. Mas nada me revolta mais, como negro, do que essa afirmação abjeta sobre as amas de leite. Isso dói na alma de quem conhece a história da escravidão e o racismo estrutural”, concluiu.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.