Morre aos 95 anos Alencar Furtado, ex-deputado cassado pela ditadura militar

Emedebista liderou o movimento dos autênticos na Câmara

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São Paulo

Morreu aos 95 anos na madrugada desta segunda-feira (11) o ex-deputado federal José Alencar Furtado, conhecido pela luta contra a ditadura militar.

Ele estava no seu apartamento em Brasília, onde morava, e morreu por problemas renais.

Seu neto, o deputado federal Uldurico Júnior (PROS-BA), disse à Folha que esteve com o avô no Natal, quando ele, que seguia lúcido e atento ao noticiário, comentava sobre o processo de eleição na Câmara. Dois dias depois, Furtado sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral), ficou intubado por alguns dias e foi para casa, recebendo cuidados paliativos.

Natural de Araripe (CE), o advogado começou a carreira política no Paraná, filiando-se ao então PMDB (hoje MDB) na década de 1960. Exerceu três mandatos na Câmara durante a ditadura militar e foi o último político a ter o mandato cassado no governo do general Ernesto Geisel, em 1977.

Foto em preto e branco de deputado discursando no plenário, com um dos punhos levantado
Ex-deputado José Alencar Furtado morreu aos 95 anos, nesta segunda-feira (11) - @ulduricojunior no Facebook

Trabalhou pela eleição do sucessor, o filho Heitor Alencar Furtado, assassinado em 1982, quando tentava a reeleição. Com a anistia, naquele mesmo ano Furtado foi eleito deputado novamente e disputou em 1986 o governo do Paraná, contra o hoje senador Álvaro Dias (Podemos-PR). Abalado com a morte do filho, conta o neto, acabou se afastando da política partidária.

“Ele não escolheu o caminho mais fácil, mas escolheu o caminho correto. Liderou o movimento dos autênticos na Câmara dos Deputados e teve seu mandato cassado no governo Geisel por usar a palavra para dizer o que pensava”, escreveu Uldurico nas redes sociais.

O deputado disse à reportagem que o avô demonstrava preocupação e criticava defensores da ditadura militar.

“É algo que assustava ele, porque achava que nunca iria escutar”, disse, acrescentando que o fato de as novas gerações não terem vivido o período, caso dele mesmo, “as pessoas podem ter uma imagem diferente daquilo que existia”.

“Meu avô nunca me deixou esquecer como foi difícil essa época, quando ele perdeu o filho, teve momentos dentro da Câmara em que teve que escolher entre seu mandato e a defesa daqueles que ele representava e tomar decisões tão difíceis num período em que nem tudo que se pensava se podia falar”, afirmou.

Em nota, o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP), lamentou a morte do ex-deputado, a quem chamou de “grande militante em defesa da democracia”.

Políticos de diferentes partidos também se manifestaram nas redes sociais. O senador Alvaro Dias disse que a política brasileira está de luto e chamou Furtado de exemplo de dignidade e coragem.

O senador Eduardo Braga (MDB-AM) disse que o nome do ex-deputado ficará marcado na história do partido e do Brasil. O deputado Zeca Dirceu (PT-PR) afirmou que Furtado deixou “uma linda história pela redemocratização do Brasil e contra as crueldades da ditadura militar”.

Furtado deixa a mulher, Miriam, as filhas, Stael, Thais, Dioneé, e netos.

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