Descrição de chapéu congresso nacional

Centrão é dono do poder, e Bolsonaro tem apoio do povo para garantir liberdade, diz ativista Bernardo Küster

Em entrevista à Folha, influenciador diz que eventual impeachment geraria manifestações e possível reação militar

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São Paulo

Ativista conservador e um dos mais influentes apoiadores de Jair Bolsonaro nas redes sociais, o jornalista e empresário Bernardo Küster, 33, diz que as manifestações ocorridas em 1º de maio mostraram que a população vê o presidente como garantidor da liberdade.

"O recado dos milhões foi claro: a liberdade é fundamental e o presidente Bolsonaro tem o apoio do povo para garanti-la constitucionalmente", diz ele, em entrevista por email à Folha.

Editor do jornal digital Brasil Sem Medo e ligado ao filósofo Olavo de Carvalho, ele também defende a relação de Bolsonaro com os partidos do chamado centrão e prevê reação popular e até militar caso seja deflagrado um processo de impeachment.

Com quase 1 milhão de assinantes em seu canal no YouTube, Küster é alvo do inquérito sobre fake news no Supremo. Segundo ele, a investigação foi aberta de forma ilegal, sem objeto definido e com base em regimento interno.

O influenciador bolsonarista Bernardo Küster, durante evento conservador em outubro de 2019 em São Paulo - Bruno Santos - 12.out.2019/Folhapress

Como o sr. avalia as manifestações conservadoras ocorridas no Dia do Trabalho e que recado político elas passam? Desde os tempos do governo Vargas, as manifestações do 1º de maio foram dominadas por sindicalistas e movimentos sociais, quase todos eles de esquerda, que se julgavam representantes legítimos do povo —uma espécie de vanguarda popular. Enquanto o pai de família estava preocupado em pagar boletos, os pelegos supostamente lutariam por eles.

Este canto de sereia, que elegeu Lula, não cola mais por algumas razões: 1) o fim do imposto sindical obrigatório retirou o tutano da militância esquerdista; 2) as recentes operações anticorrupção (mensalão, impeachment da Dilma, petrolão e contra o narcotráfico) mostraram a face oculta daqueles que pregavam ética na política; 3) as novas comunicações por redes sociais possibilitaram diferentes fontes de informação e quebraram o monopólio da velha mídia; 4) o rombo aberto na cultura marxista no Brasil, feito pelo filósofo Olavo de Carvalho (com mais de 20 livros publicados e dezenas de cursos), deu novas opções para o povo. Nunca vi milhares de pessoas na av. Paulista gritando “Marilena Chauí tem razão”. Como podem negar a influência de Olavo?

O Dia do Trabalhador sempre foi preenchido pelo vermelho das bandeiras petistas e de centrais sindicais; implorava-se por mais interferência estatal e tínhamos de aturar aqueles chavões cansativos. A mortadela acabou.

O recado dos milhões —sim, foram milhões— foi claro: a liberdade é fundamental, e o presidente Bolsonaro tem o apoio do povo para garanti-la constitucionalmente. E mais: quem pensava que o presidente carecia de apoio popular espontâneo teve de mudar de ideia. Que político, hoje, seria capaz de mobilizar, gratuitamente, uma multidão assim? Lula, Ciro, Huck, Mandetta, Moro, Amoêdo, Boulos? Faz-me rir.

O sr. diria que a instalação da CPI da Covid representa uma ameaça ao governo federal e demanda uma reação dos conservadores e de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro? Não. Toda ação contra o Poder Executivo, para derrubá-lo, precisa contar, primeiro, com um vice-presidente traidor e ter forte movimento popular contrário. Foi assim com Dilma, mas não é assim com Bolsonaro.

General Mourão está com ele –apesar de certas declarações infelizes– e grande parte dos brasileiros também. O máximo que a CPI irá fazer é dar palanque político para alguns tipinhos inexpressivos aparecerem no pleito de 2022 e encher a paciência de um ou dois ministros do atual governo.

A base de Bolsonaro no Senado tem de trabalhar para investigar os desvios bilionários dos recursos enviados aos estados e municípios. Aí está o verdadeiro problema: o covidão dos prefeitos e governadores. Por que a mídia não investiga precisamente isso? Por fim, os três protagonistas dessa CPI são tão sublimes, não? [Omar] Aziz é investigado por desvio de verba da saúde, Randolfe [Rodrigues] é aquela oposição de QI 22 e esganiçada, e, claro, temos Renan Calheiros. Ah, quanta esperança a nação não deposita nesta virgem castíssima que tem mais de uma dezena de inquéritos parados no Supremo…

Pesquisas apontam queda na popularidade do presidente e disputa acirrada contra o ex-presidente Lula em 2022. Este é o momento mais difícil do governo? A prova dos nove de toda pesquisa eleitoral é a rua. No auge de uma pandemia e com ataques diuturnos contra o governo federal, Bolsonaro consegue encher as ruas de apoiadores e, por onde vai, multidões o aguardam. Não é ufanismo, é fato. Que Lula tente fazer o mesmo sem sua claque ensaiada. Vai dar chabu. Este é o teste final, o resto é lero-lero. Certas pessoas sentem que Bolsonaro está impopular porque confiam exclusivamente nas palavras de certos meios de comunicação e não em seus próprios olhos.

Muitos conservadores, sobretudo os mais alinhados com o filósofo Olavo de Carvalho, consideram exagerado o espaço ocupado no governo Bolsonaro pelos militares e pelo centrão. Qual sua opinião ? É simples. A direita brasileira, diferentemente do que se pensa, não possui qualquer tipo de organização como a esquerda possui. É tudo muito novo. O Partido Comunista está no Brasil desde 1922 e levou 80 anos se estruturando para, enfim, colocar um Lula na Presidência em 2002. Quando Lula estreou no Planalto e foi montar seu governo, ele precisou apenas chamar os companheiros das universidades, centrais sindicais, paróquias, jornais, ONGs e associações de esquerda para assumir os cargos.

Já os conservadores estão tentando se organizar a duras penas por mil razões. Quando Bolsonaro venceu a eleição não havia quadros políticos para preencher a máquina do Executivo e fazer o governo andar. Quem poderia cumprir esse papel, simbolizado por Mourão, senão as Forças Armadas? Elas são uma força política tremenda desde o início da República.

Quanto ao centrão, posso apenas dizer que eles são, como [Raymondo] Faoro dizia, os donos do poder. Sem eles nada anda. Bolsonaro até tentou governar sem o estamento burocrático, mas na política se deve jogar com as peças disponíveis no tabuleiro, e não com aquelas que gostaríamos que estivessem ali.

O acordo com o centro existe, mas (até agora) não há uma nesga de corrupção. Cargos e emendas parlamentares são meios legais para o Executivo barganhar com o Legislativo. As pessoas têm a doce ilusão de que política se faz unicamente no diálogo. Quem crê nisto nunca esteve cinco minutos numa negociação em gabinete.

Ao vencer a eleição de 2018, Bolsonaro gerou enorme expectativa entre os conservadores, mas relativamente poucas pautas foram de fato implementadas. O sr. se sente pessoalmente frustrado com o desempenho do governo? Bolsonaro está fazendo o que pode, dentro da lei, com o que tem à sua disposição, mas o Supremo e o Congresso, principalmente sob Maia e Alcolumbre, trabalharam firme para segurar o avanço de pautas conservadoras.

A MP da liberdade estudantil, que criava a carteira de estudante digital e esvaziava os bolsos na UNE (sempre ligada ao PC do B), caducou por chicana do Maia. Assim foi com dezenas de outras propostas: enfraquecimento da reforma da Previdência, derrubada de decretos que favorecem o armamento da população, demarcação de terra indígenas, normas técnicas e regulamentações contra o aborto, vetos presidenciais derrubados dezenas de vezes, excludente de ilicitude para policiais que matam (bandidos!) no exercício da função, fim da publicação de balanços em jornais impressos. Os exemplos encheriam páginas inteiras.

O sr. avalia que a candidatura de Lula levará automaticamente os conservadores a se unirem em torno da reeleição de Bolsonaro com mais afinco? A oposição aposta muito na rejeição de Bolsonaro, que oscila demais nas pesquisas (entre 30 e 48% nos últimos meses), e numa união de centro e todos espectros da esquerda contra ele. Essa história de terceira via, muito falada e sem qualquer nome forte, serve só para tentar tirar votos de Bolsonaro e levá-lo para um segundo turno. 2022 será novamente entre PT e Bolsonaro.

Muito da aprovação do presidente entre indecisos e não ideológicos (cerca de 40% da população) dependerá do arrefecimento da pandemia e da recuperação econômica, que já está ocorrendo. Conforme o candidato petista for aparecendo, os conservadores tendem a deixar as rusgas internas de lado para combater um mal maior: a volta dos petistas ao poder.

Estes últimos, porém, contam muito com o ovo na cloaca da galinha. Será que eles já consideraram que Lula poderia não concorrer em 2022? Sei que essas discussões ocorrem nos círculos mais fechados da cúpula petista. Eu confesso que não me surpreenderia se ele desistisse na última hora, caso as pesquisas internas do partido, não aquelas jogadas nos telejornais e que há décadas erram grosseiramente, mostrarem que o PT com Lula perderá para Bolsonaro.

Neste cenário, Lula empurraria um poste qualquer (Haddad, possivelmente) para perder com honra, ainda mais se houver voto auditável. Ele jamais admitiria perder para Bolsonaro. Seria o seu fim. A fórmula para vencer em 2022 é ouvir e obedecer o povo, e não o beautiful people [pessoas bonitas].

Os apoiadores de Bolsonaro têm criticado muitos governadores, especialmente João Doria, pelas medidas de restrição em relação à pandemia. Elas não são necessárias para conter a disseminação do vírus? Se a gestão de tipinhos como João Doria fosse tão incrível como ele tenta fazer o povo acreditar, São Paulo não teria resultados tão ruins se comparados com o restante do país e sua popularidade seria a de um santo –e não é.

Doria está acabando com a economia da locomotiva do país e está há quase um ano e meio com a mesma fórmula contra a pandemia; é incapaz de considerar a hipótese de isolamento vertical ou a mera avaliação de protocolos precoces contra o vírus chinês. Por que não convidou, por exemplo, outros especialistas para, no mínimo, debater essa questão?

Se Bolsonaro faz A, ele decide B. Quase me esqueço: toque de recolher, restrição de ir e vir e impedir o direito de reunião da população são medidas absolutamente ilegais tomadas por prefeitos e governadores. Segundo nossa Constituição, somente o presidente, com aprovação do Congresso, pode determiná-las unicamente em estado de sitio ou de guerra. Portanto, Doria e outros tiranetes claramente desobedeceram nossas leis.

Bolsonaro foi criticado por promover aglomerações, defender o chamado tratamento precoce e negligenciar a compra de vacinas. Como o sr. avalia o desempenho do presidente na condução da pandemia? Não entendo o que seria “negligenciar a compra de vacinas”. O primeiro vacinado no mundo foi em dezembro e, no Brasil, em janeiro. Onde está o imenso atraso? Há milhões de doses distribuídas e ainda não aplicadas pelos estados e municípios. Que sejam também inquiridos!

O Brasil não domina toda a cadeia de produção de vacinas e, mesmo considerando a péssima situação de nosso sistema de saúde e saneamento, somos o quinto país do mundo que mais vacina em números absolutos. Em breve passaremos a Inglaterra. Bolsonaro não poderia nem deveria distribuir doses apenas baseado em pressão política.

Trata-se de um medicamento desenvolvido às pressas, dizem ser milagre da ciência, contra um vírus ainda pouco conhecido para uma população continental. Desde a metade de 2020 ele vinha negociando com farmacêuticas e dependia unicamente da Anvisa para garantir eficácia e segurança do produto.

Outra coisa, Bolsonaro não aglomera, ele convive com o que Machado de Assis chamava de “o Brasil real”, que por livre decisão ou necessidade econômica é obrigado a se espremer em transportes públicos para levar pão pra casa. Minha diarista, Fátima, é uma delas.

Na condução geral da pandemia, qual é a síntese? STF amarra, na prática, as mãos do presidente, permitindo que ele somente pague a conta e que os governantes locais tomem todas as decisões. Não fossem as centenas de bilhões que Bolsonaro liberou neste período, o pequeno e o médio empresário (além dos autônomos e dos pobres) teriam morrido de fome e o desemprego teria ceifado ainda mais vidas.

Não dá para simplesmente “ficar em casa” quando temos um país no qual metade da população não possui sequer saneamento básico. Brasil não é Israel. Uma crítica, a meu ver, pesa sobre seu governo: a péssima qualidade e volume da comunicação. Num momento epocal como este é preciso que as ações sejam bem comunicadas e furem os ruídos criados pela oposição.

Qual seria a reação dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro se fosse aberto um processo de impeachment contra ele? Se –eu disse se– isto vier a acontecer, eu aposto um de meus dois rins que veríamos manifestações populares espontâneas gigantescas e, possivelmente, até uma reação perigosa das Forças Armadas, caso não houvesse fundamento para tal.

A única hipótese de um impeachment dar certo é se Bolsonaro cometer um crime (de corrupção, por exemplo) aberrante e incontestável, diferente das pérfidas narrativas infrutíferas que circulam por aí. Ele perderia apoio popular e a vaca iria para o brejo.

Raio-x - Bernardo Küster

  • Idade: 33
  • Local de nascimento: Curitiba
  • Formação: graduado em Administração pela PUC e Economia pela Unife (Itália), pós-graduado em gerenciamento de projetos pela FGV
  • Atividades: editor do jornal Brasil Sem Medo, empresário, professor e influenciador digital
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