Bolsonaro caminha sem máscara em corredor de hospital, tem evolução, mas segue sem previsão de alta

Boletim divulgado na noite desta sexta informou que 'presidente aceitou bem o início da alimentação'

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São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro passa bem e segue evoluindo, informou nesta sexta-feira (16) o hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde ele deu entrada na noite de quarta-feira (14).

O boletim médico divulgado na noite desta sexta afirmou que "o presidente aceitou bem o início da alimentação" e que uma tomografia computadorizada do abdome "evidenciou melhora do quadro" de obstrução intestinal.

A nota, assinada pelo médico Antônio Luiz Macedo e outros quatro médicos, afirma não haver previsão de alta. Ao jornal O Globo na manhã desta sexta Macedo disse prever a alta em dois dias.

Mais cedo, às 11h40, Bolsonaro postou uma foto em que caminha pelo hospital. "Em breve de volta a campo, se Deus quiser. Muito fizemos, mas ainda temos muito a fazer pelo nosso Brasil. Obrigado pelo apoio e orações", escreveu.

Na foto, Bolsonaro está sem máscara, apesar da recomendação do uso da proteção contra a Covid.

O presidente Jair Bolsonaro caminha em corredor do hospital Vila Nova Star na manhã desta sexta-feira (16)
O presidente Jair Bolsonaro caminha em corredor do hospital Vila Nova Star na manhã desta sexta-feira (16) - Jair Bolsonaro no Instagram

A Folha questionou o hospital sobre a obrigatoriedade do uso da máscara nos corredores. A assessoria de imprensa do Vila Nova Star informou que o hospital "acolhe integralmente a legislação brasileira".

"Todos os pacientes internados na unidade são testados para Covid-19, o que inclui o senhor presidente da República. Além disso, todas as áreas Covid-19, tanto no pronto-socorro como nos apartamentos e UTI, são isoladas no hospital", afirma.

Na recepção e do lado de fora do hospital, todos os funcionários e médicos circulam com máscaras.

Na tarde desta sexta, um senhor foi até a entrada do hospital sem máscara e foi repreendido por um segurança, que pediu o uso da proteção. O visitante, que é apoiador do presidente, argumentou estar ao ar livre e deixou o local.

A ausência de máscara desobedece aos protocolos de segurança contra a Covid, na avaliação da infectologista Raquel Stucchi, professora da Unicamp. Segundo ela, o presidente deveria ser obrigado a usar o acessório no hospital.

“Em todas as áreas, a não ser dentro de sua própria casa, as pessoas têm que usar máscara. E, dentro de ambientes de saúde, é preciso usar máscara cirúrgica, inclusive os pacientes em área de internação”, diz.

“Na primeira foto [ao lado de outra paciente, divulgada nesta quinta-feira (15)], possivelmente ele estivesse com dificuldade de colocar máscara por conta da sonda, mas é uma falta de controle de transmissão dentro do próprio hospital, mesmo que os dois tenham PCR negativo, porque a gente sabe que ele não é 100% [garantido]”, comenta.

As regras recomendadas para conter a disseminação da Covid em ambiente hospitalar, reforça Raquel, preveem o uso de máscara. “O comportamento é absolutamente inapropriado. O hospital deveria exigir que ele usasse. Ele teria que estar de máscara o tempo todo."

O presidente Jair Bolsonaro e seu médico, Antonio Macedo, durante entrevista ao apresentador Sikêra Jr. nesta quinta (15) no hospital onde está internado em SP
O presidente Jair Bolsonaro e seu médico, Antonio Macedo, durante entrevista ao apresentador Sikêra Jr. nesta quinta (15) no hospital onde está internado em SP - Reprodução

A manhã foi tranquila em frente ao hospital, com intensa presença de jornalistas, mas sem acompanhamento contínuo de grupos de apoiadores do presidente. Houve gritos de "genocida" e "fora, Bolsonaro" por transeuntes.

Durante a tarde, o grupo de sete mulheres que esteve na frente do hospital na quinta-feira, retornou. As apoiadoras de Bolsonaro vestiam verde e amarelo e não usavam máscaras. Elas passaram a responder a gritos de opositores com "vai pra Cuba", e houve gritaria em frente ao hospital.

As apoiadoras discutiram com seguranças do hospital, que não queriam autorizar que faixas fossem penduradas em frente ao prédio. Como solução, elas passaram a segurar as faixas na calçada. "Se a gente fosse da esquerda, o senhor não ia pedir isso", disse uma delas. Uma apoiadora também reclamou com a imprensa por não querer ser fotografada.

Uma viatura de policiais militares também passou a se posicionar próximo ao hospital, alguns metros adiante na mesma rua.

Também pela manhã, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos) chegou ao local, e a primeira-dama, Michelle, foi vista deixando o hospital.

Na noite de quinta, auxiliares do presidente compartilharam imagem em que ele aparece lendo papéis e indicaram que Bolsonaro segue trabalhando.

Presidente Jair Bolsonaro no hospital Vila Nova Star, na zona sul de São Paulo - Credito Jair Bolsonaro no Twitter

O boletim médico anterior, divulgado na noite de quinta, informou que foi retirada a sonda nasogástrica que Bolsonaro estava usando por causa de uma obstrução intestinal, identificada na quarta, quando ele foi internado em Brasília com dores e em meio a uma crise de soluços.

O médico Antônio Macedo, que cuida das cirurgias do presidente relacionadas à facada sofrida em 2018, afirmou à Folha, na quinta, que inicialmente o paciente receberá alimentação líquida, o que é necessário na fase de retomada da atividade digestiva.

Posteriormente, ele passará a receber alimentos pastosos e, finalmente, sólidos.

Na quinta, em entrevista à Rede TV!, Bolsonaro afirmou que estava afastada a necessidade de cirurgia —a transferência do presidente para São Paulo tinha como objetivo inicial verificar se uma operação teria que ser feita.

Ainda na entrevista, Bolsonaro disse que deveria ter alta nesta sexta-feira e que as funções intestinais estão se recuperando apenas com o tratamento terapêutico, sem a necessidade de cirurgia.

"Dada a facada que eu recebi e quatro cirurgias, essa obstrução [intestinal] é sempre um risco muito alto. Mas, graças a Deus, de ontem para hoje, evoluiu bastante esse quadro. Então, a chance de cirurgia está bastante afastada", disse o presidente.

Macedo estava ao lado do paciente durante a conversa e confirmou a melhora. À Folha, depois da entrevista na TV, Macedo disse que, diferentemente do que havia anunciado Bolsonaro, a alta não está prevista para esta sexta.

"A cirurgia, a princípio, está afastada, uma vez que o intestino começou a funcionar e o abdome está mais flácido e mais funcionante", disse Macedo ao programa da RedeTV!.

O médico afirmou ainda que a sonda gástrica que Bolsonaro está usando deve ser retirada, mas que o mandatário terá que seguir uma dieta líquida.

"O presidente hoje [quinta-feira] melhorou. Ele ainda está de sonda gástrica, nós estamos estudando a retirada da sonda porque os barulhos do abdome são bons, os ruídos são bons", afirmou.

"E aquela área obstruída do lado esquerdo [do abdome], fruto de aderências decorrentes de toda essa complicação que ele teve, já esta mais palpável, pode permitir a retirada da sonda gástrica, ainda garantindo dieta líquida”, explicou o especialista.

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