Descrição de chapéu Eleições 2022

Tasso abandona prévias nacionais do PSDB para apoiar Leite contra Doria

Senador chegou a se inscrever na disputa interna, mas saída a favor do gaúcho era certa; agora, buscará FHC, que declarou apoio a paulista

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Num movimento esperado por membros do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) desistiu de sua pré-candidatura à Presidência da República para apoiar o governador Eduardo Leite (RS) nas prévias do partido. Os dois fizeram o anúncio de forma conjunta na tarde desta terça-feira (28), em Brasília.

As prévias tucanas, marcadas para 21 de novembro, estão concentradas em Leite e no governador João Doria (SP). Ambos fazem campanha pelos estados e travam uma corrida apertada até agora. O ex-prefeito de Manaus Arthur Vírgilio também é pré-candidato, mas tem menos chances e, na visão de tucanos, pode desistir antes do final.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) - Adriano Machado/Reuters

No discurso em que declarou sua desistência e seu apoio a Leite, Tasso exaltou qualidades do gaúcho e afirmou que a maioria da bancada do Senado e 80% das executivas estaduais do PSDB estão apoiando essa ala nas prévias tucanas.

"Não sou candidato nas prévias do PSDB, mas isso não quer dizer que não estou na luta. Estou na luta, junto com companheiros, para fazer com que, a meu ver a pessoa que representa o PSDB legítimo, histórico e o PSDB do futuro, que é o governador Eduardo Leite, [...] seja o candidato do PSDB à Presidência da República e, se Deus quiser, presidente da República", disse Tasso durante evento na sede do PSDB nesta tarde.

A reunião teve a presença de parlamentares tucanos que apoiam Leite e da imprensa. Tasso afirmou que sua decisão se deu por uma questão de pragmatismo e pela série de afinidades de pensamento entre ele e Leite.

"Começamos a perceber uma coisa muito clara, que 80% mais ou menos das executivas estaduais ou estavam com Eduardo ou comigo, não estou exagerando. Eu olhava para Eduardo e pensava: esse cara pensa igual a mim. A única diferença é a idade, porque sou mais bonito e mais moço", brincou Tasso, que tem 72 anos contra 36 do governador.

"Vi no Eduardo dinamismo, juventude e força de vontade, que, depois dos 70 anos, a gente procura ter, mas não tem mais. [...] O Brasil de hoje espera realmente uma coisa nova", disse Tasso.

O senador afirmou ainda que, junto de Leite, irá fazer uma visita ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que já declarou publicamente apoio a Doria —a visita irá reabrir a disputa entre os governadores pelo voto do tucano mais importante do partido.

"Tenho certeza absoluta de que o presidente FHC está torcendo, no mínimo, pela nossa caminhada", disse Tasso. O convite partiu de FHC, segundo ele.

Em sua fala, Tasso também criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), afirmando que ele tem viés autoritário e desprezo pela democracia e pela ciência. "O Brasil está na rota de naufrágio em todos os sentidos", completou.

O senador, que esteve com o ex-presidente Lula (PT) durante o giro do petista no Nordeste, afirmou que as pessoas hoje se ofendem e se agridem e que diálogo é preciso.

Leite afirmou receber o apoio de Tasso com orgulho e responsabilidade. "Vejo em Tasso as melhores qualidades que devem inspirar um homem público", afirmou o governador.

Ao exaltar o senador, fez críticas veladas a Doria ao dizer que, como Tasso, vê a "política como missão" e que a política exige "pensar nos outros e não em si".

Leite disse ainda que o diálogo com outras siglas em busca de apoio não se dará em cima de um projeto pessoal. "Não é sobre apoiar um nome, é sobre apoiar um projeto para o país. Não simplesmente a sustentação a uma pessoa, a um nome, porque não é um projeto político partidário ou um projeto de poder, é um projeto de reconstrução do nosso país."

Ao falar sobre missão política, Leite disse que compartilha desse sentimento com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que está de saída do partido, após divergência com Doria, para concorrer ao Governo de São Paulo. O gaúcho disse trabalhar para que Alckmin permaneça na sigla.

Tasso, por sua vez, afirmou que Alckmin é alinhado a Leite —a demora do ex-governador em anunciar sua saída do PSDB é atribuída a aliados a uma última missão interna de ajudar Leite nas prévias.

"Tenho certeza de que, se ele ficar dentro do PSDB, o perfil dele é absolutamente alinhado com o perfil do governador Eduardo Leite. Considero uma perda inestimável a saída se isso vier a acontecer. A principal característica que o candidato do PSDB tem que ter é a de agregar, não de separar", disse Tasso em referência a Doria.

Como na semana passada, ao se inscrever para as prévias, Leite buscou um discurso de moderação, tentando se contrapor às críticas contundentes de Doria contra Lula e Bolsonaro.

"O movimento deve ser o da união, da convergência, do entendimento. [...] O Brasil não precisa de um terceiro polo de radicalização, mas de uma terceira via", completou.

Outros senadores também discursaram, incluindo José Aníbal (SP), que coordena o processo de prévias e, por isso, evitou declarar seu voto, embora tenha exaltado características que tucanos associam à candidatura de Leite e não a de Doria.

Segundo Aníbal, o PSDB deve construir uma "candidatura que seja viável, que dê confiança aos brasileiros, que promova convergência e não polarização, e que nos dê condição de disputar e vencer essa eleição".

Apesar de Tasso ter feito sua inscrição nas prévias na semana passada, sua desistência era tida como certa. Ele e Leite são aliados de longa data e vinham discutindo juntos as estratégias nas prévias.

O senador foi estimulado por alas do partido a concorrer por ser um nome considerado de consenso, mas questões pessoais e políticas pesaram contra. Nesta terça, Tasso afirmou que não deve disputar a reeleição para o Senado e que irá "brincar com seus netos".

Tasso não chegou a viajar para fazer campanha nas prévias e manteve seu isolamento social em Fortaleza. Tucanos demonstravam preocupação com a disposição e com a saúde do senador para uma campanha presidencial. A assessoria de Tasso afirma que o senador não tem problemas de saúde.

Com o apoio de Tasso, Leite cresce no Ceará e em outros estados do Nordeste, além de ter conquistado Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais. Doria, por sua vez, é favorito em São Paulo, estado com maior número de parlamentares e filiados do PSDB. Também fechou apoio de Tocantins, Distrito Federal e Pará.

A disputa entre Leite e Doria se dá no campo da chamada terceira via, que reúne partidos contrários a Bolsonaro e Lula. Ao fazer sua inscrição nas prévias, o paulista optou por ataques diretos ao petista e críticas veladas a Bolsonaro.

Já Leite afirmou não querer fomentar a polarização e adotou tom moderado, embora também tenha criticado o petista e o presidente.

O cenário de concorrência apertada entre eles aparece refletido na pesquisa Datafolha deste mês. Tanto Doria quanto Leite marcam 4% das intenções de voto –bastante atrás de Lula (com 44%) e de Bolsonaro (com 26%). Em cenários variados, Doria chega a 6%.

O gaúcho, que é menos conhecido da população, leva vantagem no índice de rejeição, que é de 18%, contra 37% de Doria.

Em abril, Tasso, que foi presidente do PSDB e governador do Cerá por três mandatos, chegou a ser descrito por líderes tucanos como Biden brasileiro, numa referência ao presidente americano Joe Biden. A ideia era que, como candidato do partido à Presidência da República, ele aglutinasse apoios da esquerda e da direita, aliando experiência e visão progressista.

Da parte de aliados de Doria, porém, a real candidatura de Tasso e sua disposição em concorrer sempre foram desacreditadas. O governador chegou a anunciar, no mês passado, no programa Roda Viva, que Tasso já havia até desistido —o avanço de sinal gerou mal-estar no partido.

No PSDB, a avaliação é a de que Leite reúne maior simpatia entre membros do partido, mas Doria tem diminuído a desvantagem ao trabalhar de forma mais intensa que o adversário numa campanha interna para superar a rejeição.

Além disso, o paulista tem a seu favor a estrutura e o peso da máquina do Palácio dos Bandeirantes. Em contrapartida, Leite é apontado como o que mais tem capacidade de congregar partidos aliados, enquanto Doria poderia levar o PSDB ao isolamento.


REGRAS DAS PRÉVIAS DO PSDB

Colégio eleitoral de quatro grupos, com 25% de peso cada

  1. filiados
  2. prefeitos e vice-prefeitos
  3. vereadores, deputados estaduais e distritais
  4. governadores, vice-governadores, deputados federais, senadores, ex-presidentes do PSDB e o atual

Datas

  • 20.set - inscrição dos candidatos
  • 18.out - início dos debates
  • 21.nov - primeiro turno
  • 28.nov - segundo turno​
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.