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Eleições 2022 datafolha

Datafolha: Fidelidade a Lula e Bolsonaro reduz espaço para terceira via

Petista tem 48% no 1º turno, seguido do atual presidente (22%), Moro (9%) e Ciro (7%)

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Mauro Paulino e Alessandro Janoni

Diretor-geral do Datafolha e Diretor de Pesquisas do Datafolha

Tanto o favoritismo de Lula (PT) quanto a manutenção dos índices de Jair Bolsonaro (PL) nas pesquisas Datafolha de intenção de voto para a eleição presidencial do próximo ano têm um ponto em comum –o grau de fidelidade de segmentos significativos do eleitorado de ambos os candidatos.

Os dois já partem de um patamar cristalizado, de difícil conversão para outros nomes.

Para se ter uma ideia do desafio que a chamada terceira via enfrenta, o petista é lembrado na intenção de voto espontânea (sem a apresentação do cartão com os candidatos) por mais de um terço dos brasileiros, pouco menos do que Fernando Henrique Cardoso (PSDB) alcançava na pergunta estimulada em dezembro de 1997, ano anterior à sua reeleição em primeiro turno.

O atual presidente, por sua vez, é citado espontaneamente por 18% dos entrevistados, taxa próxima à obtida por Aécio Neves (PSDB) na pergunta estimulada de pesquisa feita pelo Datafolha em novembro de 2013, cerca de um ano antes do tucano disputar um segundo turno acirrado com Dilma Rousseff (PT).

O presidentes Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT), em montagem
O presidentes Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT), em montagem - Pedro Ladeira/Folhapress e Lula no Facebook

Na composição das intenções de voto de Lula, eleitores com renda de até dois salários mínimos têm peso superior em quase dez pontos percentuais à participação do estrato no total da população.

Bolsonaro, por outro lado, encontra nos homens sua força eleitoral –é o único candidato em que a ocorrência do segmento masculino supera a do feminino de maneira significativa no perfil do eleitorado.

No entanto esse apoio é insuficiente para que o presidente deixe de protagonizar um fenômeno raro para ocupantes do cargo em disputa pela reeleição.

Todos que concorreram a um novo mandato desde a redemocratização estavam na frente nas pesquisas de intenções de voto realizadas no final do ano anterior ao pleito.

Em 1997, FHC liderava com mais de dez pontos de vantagem sobre o segundo colocado, Lula.

Em dezembro de 2005, o petista ficava oito pontos à frente de Geraldo Alckmin na simulação em que o ex-governador de São Paulo era o candidato do PSDB e, em 2013, mesmo depois dos protestos que tomaram as ruas a partir de junho daquele ano, Dilma abria até 28 pontos de vantagem sobre Marina Silva (Rede) e Aécio Neves, em diferentes situações.

A única exceção foi a liderança de José Serra (PSDB) sobre Lula (PT) um ano antes da reeleição do petista. Serra acabou disputando a eleição no estado e Alckmin foi o tucano que concorreu à Presidência.

Os fatos ilustram a importância do cálculo político no lançamento das candidaturas.

Por enquanto, nenhum dos outros candidatos consegue se posicionar de maneira clara sobre o principal vetor de influência na decisão do voto dos brasileiros até aqui –reverter consequências de uma gestão desastrosa da pandemia e de seus reflexos sobre diferentes cenários do país.

A rejeição de parcelas do eleitorado aos dois principais nomes da disputa não é suficiente para alentar a terceira via, até porque constitui um estrato de baixo peso quantitativo.

Segundo cálculo do Datafolha, apenas 9% rejeitam tanto Lula quanto Bolsonaro. E entre eles, nenhum candidato consegue a maioria dos votos –Sergio Moro (Podemos) recebe 40%, Ciro Gomes (PDT) 26%, Doria (PSDB) 11% e os brancos e nulos batem a marca dos 22%.

Entre os que votaram em Bolsonaro em 2018, o ex-juiz até fica acima de sua média, mas é superado inclusive por Lula. Moro é rejeitado por 36% do núcleo mais fiel do bolsonarismo, índice superior em seis pontos à taxa verificada no total da amostra.

Guardadas as devidas proporções, o quadro nacional que se desenha até aqui lembra o primeiro turno da eleição municipal do Rio de Janeiro no ano passado, independentemente do espectro político dos envolvidos.

Um experiente ex-prefeito, arrolado na Lava Jato, Eduardo Paes (então DEM) liderou a corrida com folga do início ao fim, flertando com a vitória antecipada.

O então ocupante do cargo que tentava a reeleição, Marcelo Crivella (Republicanos), rejeitado pela grande maioria dos eleitores, passou para o segundo turno principalmente pela fidelidade de evangélicos neopentecostais.

A terceira via que ameaçou decolar não se sustentou e pulverizou-se entre Marta Rocha (PDT) e Benedita da Silva (PT).

Mas se nem na véspera da eleição é possível prever resultados, quem dirá dez meses antes. O processo eleitoral é dinâmico, todas as variáveis são passíveis de mudanças e o imponderável foi decisivo nos últimos pleitos.

De tragédia aérea a atentado, passando pela prisão do líder nas pesquisas, eleição presidencial no Brasil não é para amadores.

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