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Doria diz que caso Arthur do Val fragilizou candidatura de Moro

Ex-juiz, que se aliou ao MBL para alavancar campanha ao Planalto, desconversou sobre cassação do deputado

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São Paulo

O governador João Doria (PSDB) afirmou que a candidatura do ex-juiz Sergio Moro (Podemos) à Presidência da República ficou fragilizada com o episódio envolvendo os comentários de cunho sexista do deputado estadual Arthur do Val (sem partido-SP), até então ligado ao MBL (Movimento Brasil Livre).

A fala do presidenciável tucano —que, assim como Moro, tenta despontar como opção da chamada terceira via— foi ao ar na noite desta segunda-feira (14) no canal Talk Churras, do apresentador Paulo Mathias, no YouTube.

Mais cedo, o ex-juiz disse à Folha que sua relação com o MBL "continua firme e forte".

O governador João Doria (PSDB) em cerimônia em 2019, durante cerimônia no Palácio dos Bandeirantes, ao lado do então ministro Sergio Moro, hoje presidenciável do Podemos - Eduardo Knapp - 28.jun.2019/Folhapress

"Fragilizou, evidentemente. O MBL se juntou, se filiou, ao Podemos, inclusive o Arthur do Val", disse Doria na entrevista, gravada no último dia 5. Três dias depois, o deputado teve seu pedido de desfiliação acatado pelo partido. Ele também retirou sua pré-candidatura a governador e se afastou do movimento.

"Machucou, na minha visão, a candidatura do Sergio Moro, ainda que ele tenha tido a atitude correta, a meu ver, de repugnar e condenar os áudios e a postura do Arthur do Val. Mas feriu a candidatura dele e feriu também o Podemos", completou o tucano.

"Fragilizou a candidatura do Sergio Moro, eu tenho que admitir isso. Sem desejar falar mal do Sergio Moro. E fragilizou o Podemos também. [...] Foi um dano grande, não foi pequeno não", disse, acrescentando ser inevitável que "a opinião pública" cobre uma resposta em casos como esse.

Nos últimos dias, circularam informações de que o MBL estudava deixar a legenda após a retirada da candidatura de Arthur ao Palácio dos Bandeirantes, conforme mostrou o Painel. Publicamente, contudo, as duas partes têm se alinhado no discurso de que continuam unidas em torno da campanha ao Planalto.

Na participação no canal de Paulo Mathias, Doria voltou a defender o afunilamento do campo da centro-direita na corrida presidencial. A proposta é que parte dos postulantes aceite abrir mão da candidatura. O tucano não quis indicar de antemão, contudo, quem deveria ser o nome da unificação.

Na entrevista, Doria também fez críticas ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que poderá deixar o partido para disputar a Presidência pelo PSD, após ter perdido a prévia tucana no ano passado.

Se Leite cumprir a promessa de sair, diz Doria, será um "mau perdedor".

"Há uma regra importante no jogo da política, aliás, no jogo da vida. Quem ganha celebra a vitória e respeita os vencidos. E quem perde respeita o vitorioso e compreende a sua posição de não ter vencido", disse o tucano, que ainda fez recomendações a Leite.

"Ele tem que dominar a ansiedade dos seus 36 anos. Tem um longo caminho pela frente. Ao Eduardo eu recomendaria paz, serenidade e equilíbrio", disse Doria.

Ao comparecer, durante o dia, a um evento na capital paulista, Moro desconversou sobre uma possível cassação do mandato do deputado Arthur do Val. "Essa é uma conversa da Assembleia Legislativa de São Paulo", disse ele à Folha.

"Eu já dei a minha opinião sobre esse assunto. Uma coisa [o caso de Arthur] não se confunde com outra [a aliança com o MBL]."

"[A parceria] continua firme e forte. Estamos trabalhando para construir a candidatura. Estamos em fase de pré-campanha. Nada mudou. A avenida da construção de uma candidatura alternativa a esses extremos Lula e Bolsonaro permanece", afirmou o ex-juiz sobre o MBL.

Moro se aliou ao movimento para alavancar a sua candidatura ao Planalto. O grupo tinha Arthur do Val, o Mamãe Falei, entre os seus integrantes mais ativos. Mas ele se afastou da organização depois da crise gerada pelos áudios em que o deputado diz que mulheres ucranianas são "fáceis" porque são pobres.

Moro apoiava a candidatura de Arthur ao Governo de SP pelo Podemos, que serviria de palanque para o presidenciável. O deputado apoiava o ex-ministro para presidente.

O ex-magistrado, no entanto, abandonou Arthur assim que os áudios vazaram, passando a repudiar publicamente as falas do paulistano. O deputado abdicou da candidatura ao governo paulista e também se desfiliou do Podemos.

O presidenciável Sergio Moro durante evento em São Paulo nesta segunda-feira (14) - Ronny Santos/Folhapress

Arthur é alvo de 21 representações que pedem a cassação de seu mandato no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo.

O órgão reuniu todas elas em um único processo, iniciado na semana passada. Agora, o deputado tem até quinta-feira para apresentar uma defesa prévia. O grupo se reúne novamente na sexta (18).

O MPF-SP (Ministério Público Federal em São Paulo) recebeu uma representação contra o parlamentar por causa do dinheiro que foi doado ao MBL para a viagem à Ucrânia. A ação será analisada pelo MPF, que decidirá se inicia a investigação.

Renan dos Santos, coordenador do MBL, também foi ao país com o deputado estadual. Os valores doados por brasileiros ao grupo teriam como objetivo ser utilizados para ajudar a população ucraniana. A suspeita é que a forma como esse dinheiro para a missão humanitária foi retirado do país teria sido irregular.

O MBL afirma que arrecadou mais de R$ 250 mil para os refugiados que "foram e estão sendo distribuídos".

Segundo o MPF-SP, o caso será distribuído a um procurador da República que fará a análise preliminar dos fatos relatados para então determinar os passos seguintes. Não há um prazo definido para que essas etapas sejam concluídas.

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