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Ato com Lula em Curitiba tem críticas a Moro e tom de triunfo após prisão

Primeiro evento de campanha na capital paranaense repete apelo de vitória no primeiro turno

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São Paulo e Curitiba

No primeiro ato de campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Curitiba, a memória da prisão do petista na capital paranaense marcou os discursos, neste sábado (17), em um clima de triunfo entre os militantes.

O evento ocupou quatro quadras na Boca Maldita, no centro da cidade, e teve forte esquema de segurança. Todos os participantes passaram por revista e as ruas laterais foram fechadas para o trânsito.

Ao final do discurso, com seguranças em seu entorno, Lula desceu para cumprimentar o público.

O ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante ato de campanha no centro de Curitiba - Ricardo Stuckert

"Tem gente que pensa que eu fiquei com ódio de Curitiba, porque eu fiquei preso aqui. Se vocês soubessem, a cadeia me fez aprender a amar Curitiba, porque foi ali na cadeia que eu conheci a Janja e foi aqui que nós decidimos nos casar. Tenho muito carinho por homens e mulheres dessa cidade, desse estado, que ficaram 580 dias pedindo a minha liberdade."

O ex-presidente cumpria pena na carceragem da Polícia Federal após ser condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá. Ele deixou a prisão no final de 2019, após maioria dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) decidir que a execução da pena só deve acontecer com o trânsito em julgado da sentença.

Em março de 2021, Lula recuperou os direitos políticos diante da decisão do ministro do STF Edson Fachin de anular suas condenações na Lava Jato, ao considerar a Justiça Federal do Paraná incompetente para julgá-lo.

Posteriormente, Moro foi julgado parcial pela corte, que anulou todos os atos do juiz no processo.

Em uma fala crítica à Lava Jato, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que o comício em Curitiba simbolizava a redenção de Lula.

"Esse é o seu retorno a Curitiba no braço do povo. É a redenção, a vitória da nossa luta sob 580 dias de injustiça sobre a sua perseguição. Curitiba te recebe com o povo nesse local que é o local em que nós sempre fizemos política, lutamos pela democracia e vencemos aqui tantas vezes", disse.

Gleisi também atacou a candidatura do ex-juiz Sergio Moro, que disputa o Senado pelo Paraná. "Curitiba não é uma república. Nunca foi. E é essa capital do Paraná que vai dar a maior derrota para Sergio Moro. Nós temos um compromisso aqui com a Rosane [candidata do PV apoiada pelo partido ao Senado]. O compromisso aqui é de derrotar Sergio Moro nas urnas. Não será senador do Paraná. Não será!"

Lula em Curitiba
Lula durante o ato em Curitiba - Mauren Luc/Folhapress

A referência à prisão foi feita ainda pela ex-presidente Dilma Rousseff, que relembrou a saudação que militantes faziam a Lula naquele período.

"Agora é a vez da gente dizer bom dia, Curitiba, porque vocês disseram 'bom dia, presidente Lula' e todo o Brasil escutava este som de liberdade que saía aqui de Curitiba", disse.

Lula discursou logo após receber afagos de Roberto Requião, candidato do PT ao Governo do Paraná, já governado por ele por três vezes.

Assim como fez na quinta-feira (15), em Montes Claros, Minas Gerais, o petista voltou a criticar a interferência das Forças Armadas no processo eleitoral e disse que, se eleito, elas voltarão a ter o papel o papel definido na Constituição, de garantir a soberania protegendo o país em suas fronteiras.

"As nossas Forças Armadas não tinham que estar preocupadas em fiscalizar urna. Quem tem obrigação de fiscalizar é a Justiça Eleitoral, os partidos políticos e os candidatos", disse.

"Nós queremos Forças Armadas preparadas, equipadas, para ninguém se meter a invadir o Brasil. Não queremos as Forças Armadas se metendo nas eleições do nosso país e nem querendo controlar urna", completou.

Na sequência, acrescentou que os governos do PT trataram as instituições militares com muito respeito e que "é preciso que alguns de lá tratem a sociedade civil com respeito, porque nós sabemos cuidar de nós e não precisamos ser tutelados"

Lula destacou políticas de seus governos para a educação, chamando atenção para a redução do aprendizado na educação básica durante a pandemia, conforme dados do Ideb divulgados nesta sexta-feira (16).

"Esse Bolsonaro não entende de educação, não entende de emprego, não entende de sindicato, não entende de enfermagem, não entende de absolutamente nada, a não ser de fake news e de mentir para a sociedade brasileira, como ele faz todo santo dia".

O candidato prometeu priorizar os investimentos na área, citando o ProUni e a defasagem no repasse de recursos para merenda escolar.

"Eu queria que o Bolsonaro, ou Guedes, pegasse o filho dele pelo braço e levasse numa escola para ver a qualidade de comida que as crianças estão comendo, para ver se eles gostariam de dar essa comida para o filho dele".

Lula disse ainda ter "um profundo respeito pelos produtores rurais do agronegócio", mas prometeu que em seu governo "não haverá mais invasão da Amazônia".

Bolsonaristas têm usado contra ele parte de declaração em entrevista ao Jornal Nacional, em agosto. Na ocasião, o petista disse que há uma ala fascista do agronegócio, declaração vista como tropeço por seus apoiadores.

Assim como havia acontecido na véspera, no ato em Porto Alegre, acenos para as mulheres, decisivas para a vitória nas urnas, se repetiram no palanque, assim como os apelos para que a militância do partido se engaje para obter a vitória no primeiro turno.

"Esse país precisa de um presidente civilizado, um presidente que saiba que mulher não quer ser mais objeto de cama e mesa. Mulher quer ser o que ela quiser. É preciso cumprir a Constituição e regular a lei para que a mulher ganhe igual ao homem que fizer a mesma função ou ganhe mais".

Bolsonaro enfrenta rejeição das mulheres. Entre elas, Lula tem 46% das intenções de voto, enquanto o presidente registra 29%, conforme pesquisa Datafolha divulgada na quinta (15).

Lula também voltou a acenar para o público evangélico, fatia do eleitorado em que Bolsonaro lidera as intenções de voto, com 49% ante 32% do petista.

"Não venham me falar de liberdade religiosa, porque quem regulou a lei de liberdade religiosa fui eu em 2003. Quem criou quem criou a Marcha para Jesus fui eu. Alguns mentirosos tentam se apropriar de Deus, o nome usando o nome dele em vão. Eu acho que não é necessário", afirmou.

Ao mesmo tempo, o candidato pediu respeito para as pessoas LGBTQIA+, citando o caso do atacante da seleção brasileira e do Real Madrid Vinicius Junior foi vítima de racismo em um programa de TV da Espanha, em que sua dança nas comemorações foi chamada de "macaquice".

"Nós precisamos ter certeza que o preconceito é uma coisa nojenta, é uma doença. Cada um de nós se veste como quer, cada um de nós dança como quer, cada um de nós cuida do seu corpo como quer, porque afinal de contas o que o nosso corpo quer é ter liberdade".

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