Fala de Eduardo Bolsonaro sobre ataque a jornalista domina grupos bolsonaristas

Observador Folha/Quaest mostra avaliações divergentes na militância sobre Douglas Garcia e Tarcísio

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São Paulo

As repreensões de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ao deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos-SP) por tumultuar o debate ao governo paulista com ataques à jornalista Vera Magalhães dominam a conversa sobre o caso em grupos pró-governo.

O vídeo de mais de sete minutos e a sequência de tuítes que ele fez para condenar o parlamentar ganharam mais tração em grupos de Telegram nos últimos dias do que críticas à jornalista, alvo recorrente de bolsonaristas.

Apesar de aparente endosso ao recente tom mais moderado adotado pela campanha de Jair Bolsonaro (PL), várias mensagens também circularam nos grupos em defesa de Garcia e com críticas a Tarcísio de Freitas (Republicanos). O candidato ao Governo de São Paulo pediu desculpas à jornalista pela hostilidade de seu convidado depois do evento da terça-feira (13).

O vídeo "Não é sobre Douglas Garcia x Vera Magalhães, é sobre caráter", com um longo relato de Eduardo, foi o conteúdo mais disseminado sobre o caso de quarta (14) até esta sexta-feira (16), mostram dados do Observador Folha/Quaest, que monitora grupos de conversa política no Telegram e no WhatsApp.

Com quase 50 mil visualizações no YouTube, o vídeo foi encaminhado 99 vezes em 176 grupos de Telegram bolsonaristas.

O segundo conteúdo mais frequente (70 vezes) é de um perfil conservador chamado Aliados Brasil Oficial. Ofensivo, diz que "Vera Magalhães dá chilique após ser contestada pelo deputado Douglas Garcia".

Eduardo Bolsonaro no Palácio do Planalto; filho do presidente criticou tumulto causado por Douglas Garcia em debate ao governo de São Paulo
Eduardo Bolsonaro no Palácio do Planalto; filho do presidente criticou tumulto causado por Douglas Garcia em debate ao Governo de São Paulo - Adriano Machado - 6.set.2021/Reuters

Considerando todas as vezes em que o texto dos tuítes de Eduardo surgiu nas mensagens, seu recado para Garcia e para a militância foi disseminado 220 vezes, tornando-se, portanto, o conteúdo dominante.

Isso demonstra o peso do comando central da campanha, já que vários influenciadores de amplo alcance consideraram equivocada a postura de Tarcísio, como Leandro Ruschel e Rodrigo Constantino, da Jovem Pan.

Em alguns casos, o depoimento do filho do presidente foi acompanhado de recados demandando urgência, como a mensagem em letras maiúsculas "Atenção patriotas, tirem 3 minutos e veja este vídeo de Eduardo Bolsonaro".

"Em relação à briga de Douglas Garcia e Vera Magalhães, eu odiei, pois a esquerda passou o dia inteiro se divertindo com esse debate completamente inútil", diz uma mensagem de apoio.

No YouTube, a maior parte dos quase 1.500 comentários no vídeo de Eduardo são concordância. Para Bolsonaro e Tarcísio, seria um desgaste desnecessário sair em defesa da "liberdade de expressão" por um episódio oportunista criado por um parlamentar paulista de baixa projeção, e ainda desafeto de Eduardo.

Nas palavras dele, trata-se de "molecagem no melhor estilo Mamãe Falei, com celular gravando, querendo fazer lacração". "Ninguém está fazendo campanha eleitoral para eleger Douglas. A gente está fazendo campanha para eleger Bolsonaro e Tarcísio, eles são os nossos líderes", disse no vídeo.

O desabafo é centrado na ideia de que Garcia atrapalhou a campanha de Tarcísio por ganhar holofotes da mídia e mais projeção do que notícias positivas que eventualmente destacariam o bom desempenho do candidato frente a adversários.

Garcia era convidado de Tarcísio no debate e hostilizou Vera Magalhães ao filmá-la de perto insinuando que seria era paga para falar mal de Bolsonaro. Repetiu a mesma frase do presidente, que no debate anterior a ofendeu dizendo que era "vergonha para o jornalismo brasileiro". O jornalista Leão Serva, então, arremessou longe o celular de Garcia.

Apesar do chamado de Eduardo, várias mensagens ainda consideram traição de Tarcísio a um "patriota". "É VERGONHOSA a manifestação do Tarcísio sobre a agressão dos militantes de redação ao deputado Douglas Garcia", afirma um texto curto compartilhado mais de 20 vezes, de autoria de Leandro Ruschel.

"Mais uma vez o circo está feito. Vera com 'V [de] VERGONHA' se fazendo de vítima! A datilógrafa militante não suporta a VERDADE, cumpre seu papel e amanhece como centro das atenções! Foi só uma pergunta, por que Vera chamou o segurança?", diz outra mensagem. "Isso pode? Deputado é atacado por jornalista após questionar Vera no debate na TV Cultura."

Para esta análise, foram monitorados 465 grupos de Telegram (176 pró-Bolsonaro, 81 pró-Lula e 208 não determinados). Por se basear em uma amostra limitada de grupos públicos, a pesquisa indica apenas uma tendência de discurso.

A Quaest também acompanha 1.346 grupos políticos de WhatsApp. Nos grupos bolsonaristas do aplicativo, os links mais compartilhados são de sites como o Terra Brasil Notícias, cujos títulos dizem que Vera é "cobrada por contrato com TV estatal de meio milhão, se irrita e parte para cima de deputado" e "Haddad e o PT são desmoralizados em debate".

Parte dos bolsonaristas também diz que a publicação de Eduardo, com palavras duras a Garcia, é uma mentira da grande imprensa.

Nos grupos lulistas, destacaram-se a solidariedade à jornalista, além do tuíte da ex-candidata ao Governo do Rio de Janeiro pelo PT Márcia Tiburi, noticiado pelo Brasil 247, em que ela diz: "Eu e muitas mulheres públicas estamos há tempos na mira dos fascistas que agora também se voltam contra você. Lastimo", emendando um pedido para que Vera ajudasse a eleger Lula no primeiro turno.

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